Teste Ram 1500 Laramie 2025: se você quer V8, não sabe o que é luxo

Fiquem tranquilos, quando eu peguei a nova Ram 1500 Laramie 2025 para testar tive o mesmo pensamento que vocês: "cadê o V8?". A principal novidade da picape veio na forma da adoção de um motor com 6 cilindros em linha biturbo que, na prática, entrega números superiores de desempenho. Mas a consternação vem da perda V8. No fundo, se você pensar na 1500 como um carro de luxo, o 6-cilindros faz sentido.

Pelos R$ 569.990 que a Ram cobra pela 1500 Laramie, fica difícil não pensar nas rivais que mantiveram o V8, com a Ford F-150 partindo de R$ 519.990 e Chevrolet Silverado custando R$ 566.190. Por que pagar a mais pela única que tem um 6-cilindros? Motivo tem, mas vocês podem não estar prontos para essa conversa.

Os números não mentem

Trocar o V8 aspirado pelo 6-em-linha biturbo a gasolina trouxe ganhos que ficam claros nos números. O novo propulsor tem 426 cv de potência e 64,8 kgfm torque. São 26 cv e 8,1 kgfm a mais que o antecessor. Dados da Ram apontam para uma aceleração de 0 a 100 km/h em 5,3 segundos, contra 7,7 segundos do V8. O maior ganho, porém, veio em consumo. São declarados 6 km/l na cidade e 7 km/l na estrada. Números horrorosos para qualquer situação que não envolva uma picape grande, mas ainda melhores que os 5,5 km/l do motor antigo, mas na estrada eram 7,2 km/litro.

O novo 6-cilindros também trouxe tecnologias que vão deixar um estadunidense médio zonzo: turbo (dois, na verdade), injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas no cabeçote... enfim, tudo muito longe dos V8 aspirados com comando simples no bloco e acionamento por varetas. Pode-se argumentar que tanta tecnologia pode ser uma dor de cabeça no longo prazo, mas sinceramente, quem tem esse dinheiro para dar numa picape não se preocupa tanto com isso. Saber que a picape pode passar dos 800 km de autonomia com o tanque de 125 litros importa mais. No V8, eram cerca de 700 km.

Foto de: Motor1.com

Atrelado ao novo propulsor está uma transmissão automática de 8 velocidades, contando com tração 4x4 e caixa de redução. O acionamento da 4x4 pode ser feito automaticamente. Aqui, nada de borboletas na troca de marcha. Há botões para limitar até que marcha você quer que a transmissão vá, antecipando um uso muito comum da Ram 1500, ao menos nos EUA: reboque. Além dessa função, a picape conta com diversas entradas para plugues de reboque ao lado placa, incluindo o de câmera auxiliar do reboque que pode ser programada para aparecer na central multimídia.

A capacidade de reboque da Ram 1500 Laramie 2025 é de 4.490 kg, mais que o suficiente para algumas motos, motos aquáticas, carros e talvez até um barco. A pegadinha é a carga útil da picape: 557 kg. Uma Fiat Strada leva mais peso. É o preço a se pagar por dirigir uma caminhonete desse tamanho ainda com CNH B e reflete a categoria dela nos EUA: "half-ton", meia tonelada em inglês.

Falando em tamanho, são 5.903 mm de comprimento, 2.062 mm de largura, 1.971 mm de largura e 3.672 mm de entre-eixos. A caçamba tem capacidade para cerca de 1.200 litros e a picape sozinha pesa 2.663 kg. Para controlar tudo isso, a Ram 1500 tem suspensão pneumática configurável, que pode ter a altura alterada conforme o modo de condução, por meio de controle na central multimídia ou ainda rebaixada automaticamente acima de 100 km/h para melhorar a aerodinâmica.

Como era de se esperar, a lista de equipamentos de série é recheada. Tem tampa da caçamba com abertura e fechamento elétricos, degrau retrátil para a caçamba, ar-condicionado automático de duas zonas, bancos de couro e camurça, ajustes elétricos para os bancos dianteiros, assentos dianteiros aquecidos e ventilados, assentos traseiros reclináveis e com aquecimento, capota marítima, Rambox, janela traseira com abertura elétrica, painel de instrumentos com tela de 12,3", ajuste elétrico dos pedais, sistema de som com Harman Kardon com 19 alto-falantes e um subwoofer de 10", cancelamento de ruído externo e volante de couro com aquecimento. 

Foto de: Motor1.com

Teste: Ram 1500 Laramie Hurricane-6 2025 - Cabine

Na parte de segurança, ainda conta com 8 airbags, comutador automático de farol alto, detector de ponto cego, espelho retrovisor interno digital, frenagem autônoma de emergência, head-up display, câmera com visão de 360º, sensor de chuva e crepuscular e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.

Em uma era conectada, não dá pra não fala da enorme multimídia vertical com 14,5" que serve para controlar praticamente tudo no carro. Ela domina o painel restando poucos comandos físicos. A parte boa é que o espelhamento por Android Auto ou Apple CarPlay usa praticamente todo o espaço, ficando apenas atalhos para configurações do carro, do ar-condicionado e da suspensão na parte inferior. 

Em comodidade a Ram 1500 também vai bem. São 6 tomadas USB (3x USB-A e 3x USB-C) na dianteira, uma entrada HDMI dianteira e mais 4 USB traseiras (2x USB-A e 2x USB-C). O console central dianteiro, o traseiro e uma das Rambox na caçamba contam com tomadas 110V do tipo convencional, alimentadas por um inversor a bordo de 400W. Além disso, o enorme teto-solar tem abertura elétrica, assim como a janelinha traseira.

Foto de: Motor1.com

Mais luxo, menos arruaça

O novo visual da Ram 1500 2025 não foge muito do visto antes. Mas os faróis mais afilados e grade maior deixaram ela com uma cara um pouco menor quando vista de frente. Se você quer um visual mala e quadradão, uma Ford F-150 ou Chevrolet Silverado te atenderá melhor visualmente.

A 1500 é um colosso aprazível e o tom de vinho combina bem com os diversos cromados da carroceria. Não sei porque uma pessoa tentaria passar desapercebida com uma Ram 1500, mas se você quiser a marca oferece o pacote Night Edition por R$ 10 mil a mais, escurecendo emblemas e tirando alguns cromados.

Foto de: Motor1.com

Aqui vale lembrar que quando falamos de luxo na Ram, estamos falando do luxo dos EUA. A cabine da Ram é extremamente ampla e arejada. A combinação de materiais inclui couro, camurça, alumínio e imitação de madeira em doses cavalares. Beira o exagero, como fica claro com os 12 porta-copos da cabine (6 na dianteira e 6 na traseira). Todos os comandos têm peso e um bom retorno tátil. 

A cabine tem vidros com lâminas mais grossas e o conjunto do cancelamento de ruído com a suspensão a ar faz de qualquer viagem uma experiência de estar sentado numa sala de estar de mais de duas toneladas e meia. Você ainda sente alguns impactos nos buracos e faz falta aquele comportamento de "barco" das Ram 2500 e 3500, mas a 1500 é usada como carro normal de família nos EUA, então precisa de um pouco mais de firmeza para um motorista médio de lá não achar que vai capotar picape.

Em termos de luxo, senti falta apenas de uma função auto-hold para o freio de estacionamento automático e de um sistema de massagem para os bancos dianteiros. E só isso. Falando em sentar e relaxar, o sistema de som tem alta qualidade e o carro dispõe até de uma tela específica para passageiro dianteiro. No entanto, é bloqueada por conta da legislação brasileira. Duvido que não há forma de desbloquear ilegalmente a tela.

Foto de: Motor1.com

Incrível como coisas aparentemente simples podem impressionar pessoas comuns. Todos os passageiros que dei carona chamaram a atenção para os mesmos itens: os estribos elétricos laterais, a janela traseira elétrica, os bancos traseiros reclináveis e o enorme teto solar. Alguns deles até dormiram com certa facilidade tamanha a serenidade da cabine. 

O seu "momento Rolls-Royce da fazenda" só é quebrado pelo grande inconveniente chamado vida real. Manobrar um veículo de quase 6 metros de comprimento e mais de 2 toneladas não combina com faixas estreitas, vagas apertadas e motos passando por baixo dos espelhos.

Mas a falta do V8 continuou a me importunar. O Hurricane-6 funciona sem ruído, sem vibração, sem festa e sem emoção. Até o consumo de 4,2 km/l em trânsito urbano não me impressionou. Só que aí tive que me curvar aos números mais uma vez. Em nossos testes padronizados, a picapona fez 5,8 km/l na cidade e 8,1 km/l na estrada. Praticamente o declarado no uso urbano e melhor que o oficial na estrada. Com o gigante tanque de 125 litros, é possível rodar mais de 800 km sem reabastecer, e este é o número que importa para o público da Ram que usará a picape em lugares mais remotos.

Foto de: Motor1.com

É o que se ganha com um controle de carroceria que rebaixa o carro sozinho e tem saia frontal retrátil com acionamento automático. Sem interferências ou trânsito na estrada, cheguei perto dos 10 km/l em alguns trechos planos mantendo até mais do que 120 km/h. E a eficiência não veio em troca de uma performance pior, com um 0 a 100 em nossos testes de 5,77 segundos. Alguns carros pequenos ditos esportivos não atingem essa marca com praticamente um terço do peso. Essa é a magia do turbo.

O rápido avanço da tecnologia na mecânica e a seara de eletrônica embarcada podem levantar questões de longevidade em um segmento ávido por adjetivos como "parrudo" e "inquebrável". Mas vocês acham mesmo que um comprador de Ram 1500, que vai escolher entre viajar com a picape ou com seu helicóptero pessoal, está ligando muito para isso? Provavelmente vai vender o carro antes de acabar a garantia, trocando por um mais novo.

O que o 6-cilindros turbo entrega de fato é desempenho sem esforço, autonomia e silêncio. Não tem a pompa, nem a arruaça de um V8, porque luxo de verdade não é um motor, é uma experiência completa. Rodar horas a 120 km/h estando tão isolado do resto do mundo que não se vê o tempo passar, apenas as paisagens pelas enormes janelas. 

Foto de: Motor1.com

Olhando para as rivais, a F-150 V8 é mais barata, mas não consegue entregar a experiência de luxo da 1500, principalmente por não ter suspensão pneumática. Já a Silverado V8 não tem a potência ou desempenho da Ram. Se você é do time que torceu o nariz pela ausência do V8, provavelmente você não tem dinheiro o suficiente para entender que silêncio e desempenho sem esforço significam mais luxo que ronco de motor.

Depois de todo este discurso, preciso lembrar a todos que a Ram 1500 perdeu o Hemi V8 por conta de Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis que contrariou todos os pedidos das marcas do grupo e tirou o propulsor tradicional de produção. Sim, aquele que deixou a empresa repentinamente (para não dizer que foi demitido). E os rumores apontam para novos rumos para Dodge, Ram e Jeep, as mais afetadas pela ausência do V8 nos EUA. O Hurricane-6 pode ter acertado a proposta de luxo da Ram 1500 2025, mas isso não significa que a história ainda não esteja sendo escrita...

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)