Nammi e Geometry E: rivais do BYD Dolphin Mini ganham espaço no Uruguai

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O Uruguai é um balão de ensaio para o nosso mercado. Quase todos os importados que chegam no Brasil desembarcam primeiro por lá. Hoje, a indústria automobilística do país vizinho se resume à montagem de alguns modelos de veículos comerciais, mas os representantes locais são rápidos em trazer tudo o que é lançado na Ásia e na Europa. 

A pequena área do país (menor que o estado do Paraná), bem como o tamanho de sua população (3,4 milhões de habitantes) facilitam a logística de distribuição e manutenção das 54 marcas presentes no mercado, com revendas concentradas na capital.

Foi no Uruguai, por exemplo, que vimos pela primeira vez um BYD Dolphin, em 2022, um ano antes de sua apresentação no Brasil. Em um espaço de poucos meses, as ruas da capital já haviam sido tomadas pelo modelo.

Agora, durante nossa mais recente viagem ao país (entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025), outros dois compactos elétricos recém-chegados da China chamaram nossa atenção por sua crescente presença no trânsito montevideano. Será que um dia vão desembarcar no Brasil? Vamos a eles…

Nammi by Dongfeng (lateral)

Foto de: Dongfeng

NAMMI BY DONGFENG

Apesar de ter sido lançado no Uruguai há pouco tempo (setembro passado), esse modelo já se tornou uma visão comum no país, onde custa entre US$ 20 mil (versão com bateria de 31,4 kWh) e US$ 23 mil (42,3 kWh). Esses preços são até um pouco inferiores aos do seu concorrente direto, o BYD Seagull — nosso conhecido Dolphin Mini. 

O compacto elétrico do grupo Dongfeng é vendido em diversos países da Europa, onde briga com o Citroën e-C3. Em alguns mercados, é conhecido como Nammi 01 ou Nammi Box. No Uruguai, porém, é chamado de Nammi by Dongfeng (assim mesmo, com esse “by”). 

O carro atrai pelo desenho limpo e aerodinâmico, bem atualizado em relação aos chineses elétricos mais moderninhos.  Como em SUVs de luxo e superesportivos, as maçanetas são eletricamente embutidas ao se trancar as portas. Os vidros laterais não têm molduras. Chama a atenção o desenho original dos faróis (full-LED adaptativos na versão mais cara). 

Nammi by Dongfeng (bancos)

Foto de: Dongfeng

Nammi by Dongfeng (bancos)

Os pneus são inusitadamente largos para um compacto elétrico: 215/55 R17, mesmo no Nammi básico. A carroceria tem três opções de cores — azul clara metálica, amarela ou branca — sendo que todas podem vir com o teto branco.

Em tamanho, os 4,03 m de comprimento e 2,66 m de entre-eixos deixam o Nammi no meio do caminho entre o Dolphin Mini e o Dolphin. Sobra espaço na cabine, especialmente para quem vai no assento de trás — mas o porta-malas foi sacrificado. Em compensação, há um “frunk” para levar algum pequeno volume junto ao motor elétrico. 

O interior minimalista não foge muito ao padrão de outros elétricos, com uma grande tela central e outra, menor, atrás do volante. Na ausência de botões físicos, funções como as do ar-condicionado são controladas a partir da multimídia.

Há que se louvar o acabamento caprichado, que inclui imitação de couro, com ótima aparência, tanto na faixa central do tablier quanto nas laterais das quatro portas. O seletor da transmissão vai na coluna de direção, o que abre espaço para um grande apoio de braço central, com direito a carregador por indução.

Nammi by Dongfeng (porta)

Foto de: Dongfeng

Na versão topo de linha, há ADAS como controle de cruzeiro adaptativo, assistente de permanência em faixa, assistente para trânsito engarrafado, auxiliar de estacionamento e visão de 360º ao estacionar — tudo muito impressionante para um carro desse segmento.

Por outro lado, faltam coisas básicas… Mesmo na versão mais cara disponível no Uruguai, só há dois airbags. O volante só tem ajuste de altura (nada de distância). E, teoricamente, o Nammi é um carro com cinco lugares, pois traz esse número de cintos de segurança. Mas, na posição central do banco traseiro, não há apoio de cabeça. 

Nas duas versões, o motor (que é dianteiro) rende 70 kW (95cv) e 16,3 kgfm de torque. Ou seja: oferece a mesma potência e até um pouquinho menos de torque que o Dolphin GS. O carro pesa 1.324 quilos e sua máxima é limitada eletronicamente aos 140 km/h.

A versão mais barata é chamada de 330, já que sua bateria de 31,4 kWh permite rodar 330 km — isso teoricamente, medido pelo super otimista ciclo chinês CLTC, que simula um trânsito bem congestionado. O Nammi mais caro é o 420 que, com a bateria de 42,3 kWh, tem uma autonomia teórica de 420 km. O conector Tipo 2 é sinal de que não haverá complicação para recarregar no Brasil, caso um dia o Nammi chegue por aqui. No Uruguai, o carrinho é vendido com garantia de 5 anos ou 150 mil quilômetros.

A Nammi hoje é a divisão de compactos elétricos da gigante estatal Dongfeng Motor Corporation. Trata-se de um dos grupos automotivos mais antigos da China, com forte presença no mercado de veículos pesados, além de alianças com marcas ocidentais como Honda, Peugeot, Citroën e Nissan.

Inicialmente a Nammi era apenas a marca fantasia com que se vendiam na China os carros da eGT New Energy Automotive — joint venture entre Renault (25%), Nissan (25%) e a Dongfeng (50%) para produzir o Dacia Spring/Renault Kwid E-Tech. Os Nammi, contudo, evoluíram e ganharam vida própria, superando de longe o modelo original e tornando-se uma divisão independente. Ainda hoje, porém, os Nammi são fabricados lado a lado com os Dacia Spring.

Geely Geometry E (lateral)

Foto de: Geely

GEELY GEOMETRY E

O outro compacto elétrico que vem se multiplicando nas ruas de Montevidéu é o Geometry E, lançado no Uruguai em maio passado. Custa US$ 24 mil — em relação aos rivais diretos, é US$ 1 mil mais caro que o Nammi 420, porém US$ 4 mil mais barato que o Dolphin GS.

A Geometry foi criada em 2019 como divisão de elétricos acessíveis da Geely (grupo que também é dono das marcas Volvo, Lotus, Zeekr, Polestar, Link & Co, Smart, Riddara, Proton, Jidu e até da fábrica dos black cabs de Londres, entre outras…). O primeiro carro da Geometry foi o compacto A e, de letra em letra, chegaram ao modelo E.

Com 4 metros de comprimento, é 22 cm mais comprido que o BYD Dolphin Mini.  Em entre-eixos (2,48 m), porém, o Geometry E perde por 2 cm para o rival. Sua estrutura deriva do Geely EX3, hatch com motor a combustão lançado em 2017. Mas, graças a uma troca de pele completa, o Geometry E é visualmente bem mais moderno e descolado. 

Geely Geometry E (interior)

Foto de: Geely

Geely Geometry E (interior)

Seu motor vai na dianteira e rende 60 kW (81 cv) e 13,2 kgfm — ou seja: tem 5 cv a mais de potência que o Dolphin Mini e um tiquinho a menos de torque. Fica, porém, bem atrás do Dolphin GS e do Nammi by Dongfeng. A máxima é de apenas 121 km/h. 

A bateria de 39,4 kWh promete uma autonomia de 380 km, mas pelo ciclo NEDC. Apesar do “E” de “Europeu” no nome, esse método de medição hoje só é usado pelos chineses, por ser quase tão exageradamente otimista quanto o CLTC.

A frente é toda fechada, não deixando dúvidas de que este é um carro elétrico.  Uma barra de LEDs une as luzes de condução diurna, enquanto os faróis principais vão um pouco abaixo, no para-choque, onde normalmente estariam as luzes de neblina. Nas laterais há uma parte em baixo relevo que nos lembrou muito os Corvette 1956-1957. 

O teto é preto, mesma cor empregada nos arcos dos para-lamas e todo o contorno inferior da carroceria. É um toque meio cross, porém em um modelo de linhas limpas, um tanto nórdicas. Falando nisso, as lanternas traseiras têm um quê de Volvo ou Polestar, bem angulosas, fazendo jus ao nome Geometry. A moldurinha colorida dos faróis dá um toque de alegria.

Por dentro, as telas do quadro de instrumentos e da central multimídia são geminadas por uma moldura, formando um longo conjunto digital. As forrações não são tão caprichadas quanto as do Nammi, nem o espaço interno ou a lista de itens de série (que só tem o básico).

CONCLUSÃO

Se algum empresário brasileiro quiser trazer um desses dois compactos elétricos para concorrer com os BYD Dolphin Mini, que seja o simpático e bem equipado Nammi. Fica a dica.

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