Início mais agressivo de corte de juros nos EUA perde força após inflação de agosto

há 3 meses 9

A inflação mais bem comportada nos EUA, conforme o CPI de agosto divulgado hoje – embora ainda alta e com pressão de preços da habitação – reduz consideravelmente a chance de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) precisar ser mais agressivo no esperado corte de juros a ser anunciado na semana que vem.

Com o mercado de trabalho esfriando e atividade ainda forte, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual subiu, dizem os economistas.

A opinião está explicitada na ferramenta FedWatch, do CME Grupo, que mostra agora uma probabilidade 85% de um corte mais suave nas taxas e uma chance de 15% de um início mais acelerado. Há um mês, essa probabilidade estava bem dividida, com 51% das apostas em um corte de 0,50 p.p. e 49% de uma redução de 0,25 p.p.

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André Valério, economista sênior do Inter, por exemplo, destacou a desaceleração do índice cheio de 12 meses, para 2,5%, mas comentou que o núcleo da inflação em 3,2%, na mesma comparação, indicando ainda um elevado grau de persistência no processo inflacionário.

Ele citou também que gastos com habitação continuam pressionados, avançando 0,5%, maior alta nos últimos meses e reacelerando no acumulado em 12 meses. Além disso, o “super núcleo”, que é a inflação de serviços excluindo os gastos com habitação, também acelerou, para 0,33%.

Ele analisou que não foi um resultado tão positivo quanto o Fed gostaria, com alguns sinais de persistência inflacionária, como o aumento, na margem, da difusão da inflação, mas que isso não altera o fato de que o Fed irá cortar os juros na próxima semana.

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“O resultado de hoje diminui a urgência de um eventual corte inicial de 50 pontos-base na reunião da próxima quarta-feira. Mantemos nossa expectativa de 75 pontos-base de cortes até o fim do ano, com cortes de 25 pontos em cada uma das três reuniões restantes”, estimou, completando que o BC dos EUA deixará na mesa a opção de acelerar o ritmo em caso de uma deterioração não antecipada no mercado de trabalho.

Francisco Nobre, economista da XP, também alertou para os dados do núcleo acima de algumas estimativas, mas disse que não parece ser algo preocupante. “A gente continua vendo o processo de desinflação acontecendo, mas não é muito rápido. Esse último estágio deve ser gradual”, disse.

Para ele, também faz sentido o Fed começar seu ciclo de flexibilização monetária de forma gradual. “Ajuda a consolidar que o primeiro corte será de 0,25 p.p. em setembro. Ainda existe uma possibilidade de um corte maior de 0,50% se os dados de atividade antes da reunião vierem fracos. Mas o cenário permanece favorável a um início gradual do ciclo de cortes”, argumentou.

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Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, a composição do CPI continua benéfica, com preços de bens em retração e preços de serviços seguindo tendência de queda, embora o índice permaneça acima da meta.

“Para nós, a desaceleração em curso da inflação e o esfriamento do mercado de trabalho devem levar o Federal Reserve (Fed) a iniciar na próxima semana o ciclo de corte de juros. Na nossa visão, o Fed deve escolher o caminho da flexibilização gradual, com três cortes de 0,25 ponto nas reuniões restantes de 2024”, disse Claudia, também fazendo a ponderação de que possa haver uma aceleração dos cortes para 50 pontos-base, caso o mercado de trabalho mostre mais deterioração.

Hipótese de recessão diminuiu

Paula Zogbi, gerente de research e head de conteúdo da Nomad, por sua vez, afirmou que a desaceleração acima do esperado da inflação em 12 meses não fecha as portas para a possibilidade de um corte de 50 pontos-base na taxa, mas diminui consideravelmente essa chance, aos olhos dos operadores de mercado.

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A avalia de Matheus Pizzani, economista da CM Capital, é similar. Para ele, as duas altas apresentadas nos primeiros meses do terceiro trimestre também ajudam a colocar em dúvida a hipótese fortemente levantada pelo mercado de trabalho acerca de uma possível recessão nos EUA.

Ele também ponderou que a resiliência apresentada pelo grupo de habitação tende a ser um vetor importante para as tomadas de decisão futuras do Fed, que certamente não deve ser demasiadamente “dovish” (suave) neste momento, caso queira de fato garantir a convergência da inflação para a meta de longo prazo estabelecida.

“A tendência é que o mercado consolide sua posição em um corte inicial de 25 bps, leitura favorecida pela divulgação do CPI de hoje. E que cortes mais robustos sejam realizados apenas no decorrer do ciclo, em especial no ano que vem, quando as pressões inflacionárias estiverem mais brandas”, destacou.

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Na opinião de Andressa Durão, economista do ASA, o número de agosto não muda o cenário de início do ciclo de queda dos juros com corte de 25 bps na reunião da semana que vem. E deve ajudar a consolidar as apostas do mercado para um início mais cauteloso por parte do Fed. “O Fed vai preferir iniciar o ciclo com corte de 25bps e se mostrará aberto a acelerar o ritmo, a depender dos próximos dados, tanto de emprego quanto de inflação.”

Já Scott Helfstein, head de estratégias de investimentos da Global X ETFs, que também vê um corte de 25 bps em setembro como a decisão mais provável, comentou que a economia está no comando e não o Fed, o que é uma coisa boa. “Preços estabilizados, mercado sólido e forte desempenho corporativo preparam o cenário para um novo avanço do mercado à medida que o Fed muda para taxas mais baixas.”

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, concorda que, embora o ritmo da inflação tenha ficado um pouco abaixo das expectativas do mercado, a tendência é que o Federal Reserve inicie um ciclo de cortes de juros com uma redução de 0,25%.

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“Para que houvesse uma mudança significativa na postura do banco, seria necessário que os dados de inflação apresentassem uma queda muito mais acentuada. Além disso, com o aumento nos custos de moradia, que têm um peso relevante no índice, é provável que o Fed sinalize cortes imediatos na reunião da próxima semana. O banco central provavelmente ainda se sentirá desconfortável com os níveis atuais da inflação.”

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