De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o glaucoma é a segunda maior causa de cegueira no mundo, ficando atrás apenas da catarata. Estima-se que a prevalência da doença no mundo é de aproximadamente 1 a 2% no Brasil, e a estimativa é de que 900 mil pessoas são portadoras da doença. Estamos falando de uma comorbidade silenciosa e progressiva, que pode ocasionar perda visual definitiva pela danificação do nervo óptico, geralmente associada ao aumento da pressão intraocular. “Estima-se que em 2040 podemos chegar a 111,8 milhões de portadores dessa doença. A maior prevalência do glaucoma é encontrada em populações afrodescendentes e asiáticas, acima de 60 anos, sendo a forma mais comum o glaucoma primário de ângulo aberto”, explica a Dra. Luciana Pires Zambom, médica oftalmologista especialista em Glaucoma pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Segundo a especialista, os fatores de risco para o desenvolvimento da doença incluem idade avançada, histórico familiar, miopia, hipertensão ocular, diabetes, uso prolongado de corticosteróides e traumas oculares. A genética desempenha um papel significativo, com vários genes associados ao risco aumentado de desenvolver a doença, por conta disso, a identificação precoce desses fatores de risco é fundamental para a prevenção e controle da doença. “Muitas vezes, os sintomas do glaucoma são silenciosos nos estágios iniciais, especialmente no caso do glaucoma de ângulo aberto. À medida que a doença progride, os pacientes podem apresentar perda de visão periférica, resultando em uma visão tubular. Em casos mais graves, podem ocorrer dores oculares severas, náuseas, vômitos, visão turva e halos ao redor de luzes, principalmente no glaucoma de ângulo fechado”, ressalta.
O diagnóstico precoce do glaucoma é essencial para prevenir a progressão da doença e a perda irreversível da visão. Os métodos de diagnóstico incluem a tonometria, exame que mede a pressão intraocular; a gonioscopia, que avalia o ângulo de drenagem do olho; a oftalmoscopia, que examina o nervo óptico; e a perimetria, que testa o campo visual. A tomografia de coerência óptica (OCT) é uma técnica avançada que fornece imagens detalhadas das camadas da camada de fibras nervosas e da retina.
Tratamento para o Glaucoma
O tratamento do Glaucoma visa reduzir a pressão intraocular para prevenir danos adicionais ao nervo óptico. As opções de tratamento incluem medicações (colírios), mas também nos casos em que a medicação não é suficiente, procedimentos cirúrgicos podem ser considerados. “A trabeculectomia é uma das cirurgias mais comuns, criando uma nova via de drenagem para redução da pressão intraocular. Técnicas de laser, como a trabeculoplastia seletiva (SLT) e a iridotomia ou iridoplastia a laser, também são opções eficazes para certos tipos de glaucoma”, orienta Luciana Zambom.
O monitoramento contínuo é crucial para pacientes com glaucoma, devido à natureza crônica e progressiva da doença. Consultas regulares com um oftalmologista, acompanhadas de exames de pressão intraocular, avaliação do nervo óptico e campo visual, ajudam a ajustar o tratamento conforme necessário e a evitar a progressão da doença.
Para a médica, que é orientadora clínico-cirúrgica do setor de Glaucoma e atua no Atendimento de Emergência no IAMSPE – Hospital do Servidor Público Estadual do Estado de SP, a educação dos pacientes sobre a importância da adesão ao tratamento e a conscientização sobre os sintomas são essenciais, assim como programas de saúde pública que promovam a triagem e o diagnóstico precoce podem reduzir significativamente a incidência de cegueira causada pelo glaucoma.
“A pesquisa contínua sobre os mecanismos subjacentes do glaucoma e o desenvolvimento de novas terapias são fundamentais para melhorar os resultados para os pacientes. Estudos estão explorando a regeneração do nervo óptico e novos métodos para proteger as células ganglionares da retina”, lembra.
A prevenção do Glaucoma envolve a identificação e o controle dos fatores de risco. Estilos de vida saudáveis, controle adequado de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, e a proteção dos olhos contra traumas podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver a doença.
Como o Glaucoma influencia a vida das pessoas?
O impacto do glaucoma na qualidade de vida dos pacientes pode ser significativo, afetando a capacidade de realizar atividades diárias e aumentando a dependência de cuidados de terceiros. Por conta disso, o apoio psicológico e recursos para ajudar na adaptação à perda de visão são componentes importantes do manejo da doença. A médica ressalta a importância das campanhas de conscientização sobre a doença que incentivam a população a buscar exames oftalmológicos regulares.
“O glaucoma é uma doença que pode ser controlada com tratamento adequado e acompanhamento regular. No entanto, a falta de sintomas perceptíveis nos estágios iniciais pode atrasar o diagnóstico, destacando a importância de exames oftalmológicos periódicos, especialmente para indivíduos em grupos de risco”, alerta. E continua: “Trata-se de uma doença ocular complexa e devastadora que exige atenção contínua e esforços coordenados para sua prevenção, diagnóstico e tratamento. A pesquisa contínua, a conscientização pública e o acesso a cuidados oftalmológicos de qualidade são fundamentais para combater essa causa de cegueira no mundo”, finaliza.