De acordo com Nelson de Oliveira Junior, proprietário da VAG Coding BR, o coding consiste em "codificar" a programação de fábrica para "destravar" funções escondidas - disponíveis apenas em outros mercados ou em versões mais equipadas ou recentes de determinado veículo.
Tudo é feito por meio da porta OBD, a mesma utilizada em concessionárias para diagnosticar eventuais falhas. Conecta-se um computador a essa porta, por meio de um cabo específico, que varia de acordo com a marca do automóvel.
"Caso o cliente tenha acesso ao respectivo cabo e a um laptop, posso realizar o coding remotamente, em qualquer lugar do mundo. Entro na rede CAN [que conecta todos os módulos eletrônicos] para ativar funções previamente programadas de fábrica, mas que não estavam habilitadas", explica Junior.
Ele esclarece que os recursos liberados não envolvem a performance do veículo. Dependendo do modelo e das funções, o serviço custa de R$ 200 a R$ 1.000, informa.
No caso do SUV compacto, em unidades equipadas com o motor 1.4 TSI, é possível ativar na central multimídia os mostradores do Modo Sport, que exibem força G, pressão do turbo e temperatura do óleo - disponíveis de fábrica no Polo e Virtus GTS e no Jetta GLI.
Considerando versões equipadas com painel digital, independentemente do modelo, há outras modificações disponíveis, diz Junior.
"No caso do T-Cross, o marcador de velocidade vai até 260 km/h. É possível aumentar para 320 km/h. Também dá para mudar a escala do velocímetro para que exiba intervalos de 10 km/h", relata.
Outra modificação popular em veículos da VW, independentemente do modelo, é alterar o indicador de autonomia no painel, seja analógico ou digital: em vez de mostrar apenas a quilometragem restante, dá para exibir a quantidade de litros que falta para encher o tanque, explica.
Também é possível, em modelos dotados de painel digital, destravar o menu que permite escolher diferentes cores, em veículos nos quais a opção não é oferecida.
Sem as mãos
No caso do Volkswagen Tiguan Allspace R-Line e do Passat, que no Brasil trazem controle de velocidade de cruzeiro adaptativo de fábrica, o coding libera até a condução semiautônoma - que faz curvas por conta própria em rodovias, por meio da leitura das faixas, e agrega a identificação automática de placas de trânsito, mas não foi habilitada pela montadora para o mercado brasileiro.
Isso inclui a função de piloto automático adaptativo em congestionamentos.
"Esses carros vêm equipados com uma câmera no para-brisa, capaz de detectar pedestres e identificar placas. Consigo liberar a funcionalidade total dessa câmera, bem como um menu que permite escolher o tempo do alerta para que o motorista ponha novamente as mãos no volante".
O coding não está restrito aos veículos mais caros e sofisticados. Até o VW up! permite realizar personalizações.
"Uma das funcionalidades mais pedidas no up! é habilitar ou desabilitar a confirmação sonora da ativação do alarme. Também é possível liberar as 'cornering lights', que acendem o farol auxiliar no mesmo lado para o qual você vira o volante. Outra mudança bastante requisitada é deixar a assistência de direção mais leve".
Nelson de Oliveira Junior destaca que já estuda a implementação do coding para marcas como Porsche, Mercedes-Benz e até Ford.
"Ford Ka equipado com retrovisores elétricos, por exemplo, pode incorporar a função 'tilt-down', em que o espelho no lado do passageiro abaixa automaticamente ao engatar a ré, para não ralar a roda na guia. Também é viável instalar uma central multimídia Sync 3 em modelos antigos", exemplifica.
Dario Paes, da Bravus Performance, também executa o serviço e seu foco é maior em carros da BMW.
"É possível alterar a configuração dos faróis de LED, ativar o controle de largada em modelos mais antigos, colocar central multimídia mais moderna e desbloquear o tocador de DVD com o carro em movimento".
Como fica a garantia?

Junior diz que a cobertura não é comprometida. Ainda assim, vale destacar que existem riscos.
"Tenho parceria com oficinas e, inclusive, concessionárias, que oferecem o serviço como item 'opcional'. Clientes meus tiveram de recorrer à garantia, por conta de problemas alheios ao coding, e não houve qualquer problema. Você passa no scanner e não acusa nada, porque o coding só libera recursos originais de fábrica. Eu mesmo tenho VW e acionei a garantia tranquilamente".
"Se não souber como fazer, pode danificar o módulo. Os carros da Volkswagen, por exemplo, têm configurações diferentes para os Estados Unidos, a Europa, o Reino Unido e o resto do mundo. Se fizer coding em um carro para o mercado brasileiro usando os parâmetros norte-americanos, pode estragar o veículo e a VW não vai cobrir o reparo em garantia".