"Quanto esse carro roda?". Esta é a principal pergunta que sempre ouvimos durante o teste de qualquer carro elétrico. Desde os modelos de entrada até os mais potentes esportivos, a grande dúvida de quem vê os elétricos pelas ruas é se aquela bateria atende sua rotina, independente do preço. Para responder essa pergunta, trouxemos o projeto "De 100 a 5%" direto da Europa, continente que está a frente em termos de eletrificação.
Utilizamos os mesmos critérios do maior teste de consumo realizado na Europa, feito por Motor1.com e InsideEVs Itália há 5 anos, conforme você pode acompanhar a edição mais recente aqui. O "De 100 a 5%" é um teste que foca no uso real, utiliza trechos entre cidade e estrada e também leva em consideração que nenhum proprietário irá chegar a zero em sua bateria.
Como dito, o De 100 a 5% foca em uso de vida real e por isso nosso teste de rodagem inclui trechos urbanos e rodoviários. Tomamos como referência as normas SAE, que são utilizadas pelo Inmetro, para a homologação de elétricos como uma base para o desenho da rota. Pela norma SAE, o roteiro deveria incluir um percentual de 45% de trajeto rodoviário e 55% de uso urbano. Partindo da redação Motor1.com em São Paulo, definimos que o sábado seria melhor dia por conta de trânsito, mas não foi o que aconteceu no dia do teste. Acabamos em um cenário bem próximo de um dia útil, o que no fim foi muito mais positivo.
A escolha dos carros também seguiu algumas regras. Selecionamos os veículos por faixas de preço, entregando um leque que partiu dos R$ 122.000 a até quase R$ 1 milhão - carros para todos os gostos e bolsos. Também optamos por entregar uma variedade maior de tecnologias, e por isso, não repetimos marcas. Tamanhos, propostas, potências e tamanhos de bateria variados. A lista é a seguinte:
- BMW iX2
- BYD Dolphin Mini
- Chevrolet Blazer EV
- GWM Ora 03 GT
- Mercedes-Benz EQS 450+
- Peugeot e-2008
- Porsche Macan Turbo EV
- Renault Megane E-Tech
- VW ID.4
- Zeekr X Premium
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Foto de: Motor1.com
Por que não esgotar a bateria até zero? Com a experiência das edições anteriores na Itália, sabemos que todos os carros reduzem potência disponível quando atingem um nível mais baixo de carga, o que pode representar um risco principalmente em rodovia. Segundo, 5% de bateria nos oferece uma margem de segurança possível para chegar a um ponto de recarga. Outro ponto que consideramos importante foi evitar a pane seca, que involuntária ou não, é infração de trânsito conforme consta no artigo 180 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa de R$ 130,16 e quatro pontos na CNH do motorista.
Todos os carros iniciaram o teste com 100% de carga em suas baterias. Hodômetros zerados, ar-condicionado de todos setados com 22º no automático, e algumas regras para a direção: modos de condução intermediários (quando houver) e regeneração desligada - ou no menor nível possível, além de evitar acelerações bruscas e sempre acompanhar o ritmo da via, obedecendo a velocidade máxima regulada.
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
Na primeira parte do teste rodamos durante quatro horas, majoritariamente em rota urbana. Neste momento, apuramos que a maioria dos carros estavam com carga entre 60 e 80% de bateria. A explicação foi a baixa velocidade que rodaram pelo trânsito pesado na cidade de São Paulo (SP), até mesmo nas vias expressas. Ficou mais do que evidente a vocação urbana excelente dos elétricos, muito mais eficientes na cidade.
Na segunda parte do teste, traçamos o percentual necessário de trajeto rodoviário para cada modelo. Nem todos seguiram pela mesma rota, uma vez que as autonomias declaradas eram diferentes. Ou seja, as quilometragens necessárias para o BYD Dolphin Mini e Peugeot e-2008 eram bem diferentes do que o Chevrolet Blazer EV e Mercedes-Benz EQS 450+.
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Foto de: Motor1.com
Assim, depois de cerca de 10 horas ao volante, todos os carros retornaram ao nosso ponto de encontro com cargas diferentes de bateria. Renault Megane E-Tech, BMW iX2 e VW ID.4 chegaram com 5%, que mesmo tendo autonomias intermediárias, finalizarem o teste antes por conta da agilidade entregue pelas potências superiores. Ambos foram ágeis no trânsito urbano, e por este motivo, conseguiram se livrar de trânsito ainda mais pesado.
Os demais não chegaram aos 5% dentro deste período. Como o nosso teste focou no uso de vida real, os demais seguiram em teste de uso normal urbano, até chegar ao limite do nosso teste. Alguns atingiram no mesmo dia à noite, outros no domingo e até mesmo na segunda-feira, ao retornarem para a redação do Motor1.com. Em comum, mesmo não chegando a 0%, todos os carros ultrapassaram os números declarados (de 100 a 5%) pelo Inmetro (de 100 a 0%).
Na tabela abaixo, está o ranking de quilômetros rodados de 100% a 5%, a autonomia declarada pelo Inmentro e o percentual (todos acima) em relação ao homologado. Embora não tenha sido o primeiro a chegar no dia, o Peugeot e-2008 foi o que menos rodou e mesmo assim ultrapassou o Inmetro em quase 19%.
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Foto de: Motor1.com
O BYD Dolphin Mini, que tinha sido a aposta de menor quilometragem por conta de possuir a menor bateria (apenas 38 kWh), surpreendeu ao rodar 333 quilômetros (km), exatamente 53 km a mais que o homologado superando o Inmetro em quase 19%.
O Renault Megane E-Tech, carro que passou em nosso teste de longa duração e sempre entregou autonomia em torno de 400 km, foi o que mais sentiu o dia quente e rodou 359 km, ainda assim quase 7% a mais que o homologado pelo Inmetro.
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
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Foto de: Motor1.com
BMW iX2 e Zeekr X, com baterias bem próximas, também finalizaram o dia perto. O SUV Coupé elétrico da marca alemã mostrou que sua virtude é uma condução mais esportiva, priorizando muito mais a performance dos 313 cv e 50,4 kgfm do que uma autonomia mais estendida com sua bateria relativamente média (64,8 kWh). Rodou 376 km até os 5%, ou seja, superou a classificação do Inmetro em 11,57%.
Em seu primeiro teste longo em solo nacional, o Zeekr X impressionou por seu refinamento ao volante, acabamento interno sofisticado e que transpira tecnologia. Com sua bateria de 66 kWh, rodou 378 km contra os 332 km divulgados pelo Inmentro (+13,86%).
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Foto de: Motor1.com
Outra grata supresa do nosso teste foi o GWM Ora 03 GT. Com quase 25% além do homologado pelo Inmetro, rodou bons 396 km. A potência de 171 cv e os 25,5 kgfm mostram que um equilíbrio entre esportividade e bom gerenciamento de energia podem entregar um bom alcance.
Superando a barreira dos 400 km, o Volkswagen ID.4 rodou exatos 422 km. Com bateria de 77 kWh, 204 cv e 31,6 kgfm, superou em 14% o declarado pelo Inmetro. Se mostrou um veículo bem apropriado para uso familiar, combinando amplo espaço interno, bom desempenho e alcance interessante para viagens.
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Foto de: Motor1.com
A partir de agora, só veículos com baterias realmente grandes, acima de 100 kWh, caso do novíssimo Porsche Macan EV. O mais potente da turma com seus 639 cv e brutais 115,2 kgfm de torque, poderia ter uma autonomia gigante se o seu foco fosse esse, mas não é. Ficou evidente que o foco do Macan EV é a entrega de performance de alto nível e direção precisa embalados no padrão Porsche. Controlando a fera, este conjunto poderoso rodou 466 km, apenas 7% a mais que o declarado pelo Inmetro. Poderia ser mais? Poderia, mas aqui o negócio é focado em performance.
Nos extremos do nosso teste, o Mercedes-Benz EQS 450+, não fez a maior quilometragem, mas foi o mais eficiente no uso da bateria e superou em quase 30% o homologado pelo Inmetro. Rodou 532 km com sua bateria de 108,4 kWh. Com seus 360 cv e 57,9 kgfm, ficou evidente que seu foco é oferecer uma condução sofisticada e atender com muito luxo os seus 7 ocupantes.
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Foto de: Motor1.com
O Chevrolet Blazer EV foi o recordista da nossa 1ª Edição Brasil do 100 a 5%. Com sua bateria de 102 kWh, rodou 551 km, superando em mais de 14% o alcance indicado pelo Inmetro. Também foi o que mais chamou a atenção nas ruas, sendo fotografado e alvo de várias perguntas ao longo do dia. O SUV, mesmo grande, provou que a GM consegue entregar alta eficiência com a plataforma Ultium, oferecendo uma autonomia confortável para viagens.
Ao fim do nosso teste, rodamos 4.139 km com veículos puramente elétricos. A primeira constatação é que o planejamento adequado permite rodar com tranquilidade. Não tivemos nenhuma ocorrência, nenhuma pane, não ficamos na mão, não sentamos na graxa. Não foi necessário nenhum tipo de socorro. Com a experiência das edições anteriores, seguimos o conceito de "vida real, uso real".
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Foto de: Motor1.com
O propósito deste grande teste foi mostrar que em um ciclo combinado entre cidade e estrada pode se obter autonomias superiores às que o Inmetro declara. Claro que isso depende muito da confiabilidade de tecnologia e informação entregue por cada veículo. No nosso teste, todos foram extremamente confiáveis nas indicações de autonomia indicadas, o que tornou todo o processo muito mais seguro.
Também foi interessante ver, na prática, as diferentes propostas de cada veículo e tecnologias de cada marca. Escolhemos desta forma para deixar claro as possibilidades e "sabores" de cada um. O melhor foi registrar que, mesmo não chegando a zero de bateria, todos superaram o Inmetro. Bendita tecnologia.