Somada à desaceleração dos setores de comércio, serviço e indústria, a guerra comercial contribuirá para um aumento da taxa de desemprego, atualmente em 6,5%, diz Vale, da MB Associados. "A economia vai crescer entre 1,5% e 2%, cerca de metade do crescimento do ano passado. Isso vai ter implicações no mercado de trabalho", prevê.
Outro fator que complica as perspectivas é a resposta dos países afetados. A China já reagiu a Trump com o anúncio de uma tarifa de 34%. A União Europeia (UE) discute um pacote mais amplo de retaliação, embora tenha sinalizado abertura ao diálogo.
No Brasil, o Congresso aprovou um projeto de reciprocidade que oferece instrumentos para uma reação ao tarifaço de Trump. Se o país responder com sobretaxas de nível similar às dos EUA, a inflação brasileira tende a subir, afirma Vale. "Não acho que o Brasil vai querer entrar em uma guerra comercial, porque a nossa inflação não está baixa", especula.
O economista vê riscos relacionados ao setor de alimentos. Neste caso, a posição protecionista dos EUA pode levar o agronegócio brasileiro a exportar mais soja, milho, carne e outros produtos para a China, com objetivo de suprir essa demanda. No curto prazo, o movimento reduziria a produção para consumo doméstico. No longo prazo, porém, o efeito seria revertido.
A volatilidade do dólar, como consequência das medidas, também pode levar a ajustes nos preços. Em meio aos eventos mais recentes, o dólar se desvalorizou diante de expectativas pessimistas para a economia dos EUA. Mas a guerra comercial ainda pode gerar uma corrida de investidores em direção à segurança da divisa americana, o que encareceria o dólar, segundo análise do banco holandês ING.
Oportunidades para o Brasil
Por outro lado, a escalada do protecionismo americano também abre uma janela de oportunidades ao Brasil, que poderia afetar positivamente as finanças das famílias. Tarifas americanas mais altas contra concorrentes diretos ajudam a abrir o mercado brasileiro nos setores mais fortes da economia nacional. A China, por exemplo, anunciou retaliação focada no agronegócio dos EUA.