Não tem nada que deixe uma picape intermediária mais interessante do que uma picape média que custa mais de R$ 300 mil. Olhando para um cenário com Toyota Hilux, Chevrolet S10 e Volkswagen Amarok passando facilmente deste valor com plataformas antigas, é difícil bater a proposta de valor da Ford Ranger. É só a picape média mais atualizada do mercado brasileiro ao mesmo tempo em que tem os valores mais baixos sem recorrer a promoções.
A Ranger já apareceu em diversas oportunidades aqui no Motor1.com Brasil e eu mesmo já fui surpreendido pela versão XLS 3.0 V6 por ter um preço interessante com mais potência sem estourar o bolso do comprador, ainda que ao custo de ser menos equipada. E agora chegou uma Ranger Black em minhas mãos. Só de custar R$ 219.990 já ganhou pontos comigo, pois sai mais em conta que todas as versões da intermediária Ram Rampage e, sinceramente, é bem mais atrativa que uma Fiat Toro. Só que não tem 4x4, mas desde quando isso é um problema?
Foto de: Motor1.com
Black, mas não tem que ser preta
Confesso que a única coisa que me chamou a atenção mesmo neste retorno da Ranger Black foi o fato de ser uma versão com preta no nome, mas que você pode comprar ainda nas cores branca, prata, cinza ou azul. A unidade nas fotos veio pintada de Cinza Moscou, contrastando bem com a inscrição nos bancos "So long as it is black", ou algo como "desde que seja preto" em tradução livre. Se você quiser ver a história dessa frase, atribuída a Henry Ford, pode clicar aqui.
Mas o que é uma Ranger Black? Basicamente é uma Ranger XLS 2.0 AT 4x4, mas sem a tração nas quatro rodas e com acabamento escurecido em detalhes da carroceria e da cabine. Visualmente, a Ranger Black aposta em detalhes em cinza escuro na grade dianteira, capas dos retrovisores, rodas de 18" e no santantonio, emprestado da versão Limited. Para facilitar o acesso, esta versão recebe estribo lateral, também vindo da Ranger Limited, e mantém os faróis em LEDs e lanternas halógenas das demais.
Foto de: Motor1.com
O pacote de equipamentos é bem semelhante ao da Ranger XLS 2.0 TD, com 7 airbags; painel de instrumentos com tela de 8"; sistema multimídia com tela de 10" com espelhamentos sem fios e atualizações Over The Air para o carro completo; acendimento automático dos faróis; seletor de modos de condução; carregador por indução; câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro entre os principais.
Prestem atenção nesta lista de itens de série: a versão mais barata da linha Ranger 2025 tem farol de LED, painel digital e multimídia com praticamente um tablet de tela. Isso sem contar que mantém os 7 airbags. Mas nada é de graça. A versão da picape perde um item muito quisto pelo público picapeiro: a tração 4x4 com reduzida e bloqueio do diferencial traseiro.
Foto de: Motor1.com
Dessa forma, o conjunto mecânico da Ford Ranger Black 2025 é formado pelo mesmo 2.0 turbodiesel com 170 cv de potência e 41,2 kgfm de torque das versões mais em conta da picape. O câmbio também é o mesmo: automático de 6 marchas, sem segredos. A diferença vem na ausência de tração 4x4, é a única da linha apenas 4x2.
De um lado você perde mesmo a capacidade de pular barranco de uma picape diesel traçada. De outro, paga R$ 47.010 a menos que na Ranger XLS 4x4 automática com o mesmo motor. O mais engraçado é que a Ranger Black ainda é R$ 27.410 mais em conta que a XL 2.0 manual 4x4, versão de trabalho menos equipada e única com transmissão manual.
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Outra coisa que se perde ao pegar uma Ranger Black e abrir mão do 4x4 são 114 kg de peso em ordem de marcha, com a picape nesta configuração mais simples chegando a 2.069 kg. Normalmente, isso significaria uma carga útil maior, mas, curiosamente, a Ford lista apenas 1.031 kg de capacidade na versão Black, a menor da linha. Em litragem, a caçamba da Ranger leva 1.250 litros. Sua capacidade de reboque é de 3.100 kg, a mesma de qualquer versão da Ranger
Com o peso menor, veio uma eficiência maior. Na cidade, a Ranger Black cravou 8,9 km/l ainda que atrapalhada pelo trânsito de fim de ano na capital paulista agravado por obras intermináveis. Na estrada, mantendo-se os 120 km/h regulamentares, fez 12,9 km/l contando paradas e retomadas nos pedágios. Melhor que os 12,7 km/l da Ranger XLS 4x4 em nossos testes. Considerando o tanque de 80 litros de diesel, a autonomia teórica chega a 1.032 km. Mas pode rodar 800 km com sobra para achar um posto mesmo nos mais lugares mais remotos.
Foto de: Motor1.com
Você vai usar a picape para o quê?
Mantenha isso em mente: a Ranger Black é uma XLS, mas 4x2. No fundamento é isso. Você ganha os acabamentos escurecidos, uma tentativa de urbanização da caminhonete em direção ao público das cidades que estão demandando cada vez mais uma picape média pra não sair do asfalto. Essa é base de todo o argumento da Ford para a existência da Ranger Black.
Pessoalmente, acho uma atitude contraproducente e que, em última instância, desvirtualizará o que conhecemos como picape. Já vimos isso acontecer com os SUVs e as caminhonetes são as próximas. Mas as montadoras fazem o que é necessário para manter as portas abertas, não é mesmo?
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Picuinhas à parte, eu dispenso o acabamento escurecido, principalmente os de preto brilhante que sujam fácil e ficam com marcas de chuva facilmente. A Ranger tem um visual bonito, não precisa inventar. E, particularmente, configuraria a minha Black na cor Azul Belize. É a mesma que já foi oferecida no Mustang e deixa bem à vista as belas linhas da picape. Nada fica mais harmonioso que um design original, não um que veio sendo refeito ao longo de uma década.
Entendo a proposta da Ranger Black. O público picapeiro está mais urbano. E mais: se pouco sairá do asfalto, por que é necessário 4x4? Não é. Aqui mesmo nos testes do Motor1.com Brasil, temos que sair de nosso caminho para achar alguma terra e testar os sistemas de tração. Não é algo corriqueiro. E nem venham com o papo de que no interior o 4x4 é necessário. As picapes que realmente precisam de reduzida são as mais básicas e que estão pegando pesado no campo levando tonéis de diesel para uma colheitadeira no meio de uma plantação de soja.
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O que mais me agradou em não ter 4x4, é o quanto a Ranger Black ficou mais amigável para se usar no dia-a-dia. Sem todo o conjunto de tração no eixo dianteiro, a frente fica mais leve, mais fácil de manobrar e deixa a resposta do volante mais precisa e previsível ao se andar. Não altera muito a performance, pois a Black não acelera perceptivelmente mais que a XLS 4x4, mas os ganhos de consumo e comodidade são aparentes.
No demais, a Ranger Black é só mais uma Ranger. Pode parecer pouco, mas você não vai encontrar outra picape média no Brasil com o mesmo nível de acabamento e atenção aos detalhes. O painel parece moderno e bem montado, ainda que tenha sentido falta de mais possibilidades de customização do painel digital. Para ter o velocímetro digital grande na tela, você não pode puxar nenhuma outra informação do computador de bordo. Uma pena, pois sobra espaço.
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Aqui vai um elogio à central multimídia que a Ford emprega na Ranger Black. Não é a maior, mas é bem mais simples de usar que o das rivais. Não consegui nem reclamar de ter alguns comandos do ar-condicionado agregados à tela, pois ficam em área dedicada fora daquela dedicada à multimídia.
E a Ford também sabe que você vai plugar seu celular na tela por meio de Android Auto ou Apple Car Play. Ao invés de brigar com isso e te forçar a escolher a interface das gigantes da tecnologia ou a proprietária da montadora, na Ranger Black você espelha seu celular sem fio com facilidade. Se precisar mexer nas configurações do carro, você está a um clique desse botão na tela, e outro para voltar à navegação espelhada. Simples, não tem motivo para complicar, ainda que seja prática comum em outras montadoras.
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Quase que de forma protocolar, a Ranger Black mantém o excelente isolamento acústico da cabine como as demais versões. É colocar o controle de cruzeiro para 120 km/h e aproveitar o passeio. A picape já se comporta quase como um carro na estrada há anos. Você vai perceber mais rolamento de carroceria nas curvas e os altos pneus de uso misto vão chorar facilmente se você abusar, mas não é uma Ranger Raptor, não há a obrigação de ser esportiva.
Na cidade, o tamanho atrapalha e a Ranger Black já fica comendo duas faixas de rolagem nas mal calculadas vias da capital paulista, mas é o preço a se pagar pelo espaço, seja no banco traseiro que sobra, ou na caçamba de tamanho integral. Nos buracos, você ainda vai sentir a tremedeira da caçamba vazia. É até engraçado: a dianteira absorve bem as trepidações, a traseira, nem tanto. Mas boa sorte para achar uma picape média com eixo traseiro rígido e feixes de molas melhor. A Ranger é a referência nesse quesito.
Vamos falar a real, que vai comprar uma Ranger Black ou qualquer picape que não seja para trabalho sério, vai aproveitar a caçamba pra coisas volumosas, como bicicletas ou motos. Também sou a favor de colocar uma lona e encher de água para bancar uma piscina. Com mais de 3 toneladas de capacidade de reboque, dá pra levar a família e mais uma carretinha de motos aquáticas ou normais para uma escapada na praia. Dependendo, pode até levar uma pequena embarcação.
E de todas essas atividades, quantas podem ser feitas por uma picape intermediária? Uma ou outra. A Chevrolet Montana, por exemplo, nem pode ter reboque, enquanto outras mal chegam aos 400 kg de capacidade. E ainda perdem todas em espaço interno.
A sacada da Ford Ranger Black é te entregar a base de um projeto moderno e sólido com tudo o que você precisa sem pagar a mais pelo que você não quer. Pensem assim: a Fiat Titano Volcano de R$ 239.990 parece ser um baita negócio frente à Ford só porque é 4x4? Vale pagar R$ 237.990 numa Ram Rampage Big Horn para receber menos caçamba, menos espaço e menos capacidade? Pois é, o tempo passa e a Ranger continua imbatível no custo-benefício...
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Ford Ranger Black 4x2
Motor dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.995 cm3, duplo comando, turbo, diesel
Potência e torque 170 cv a 3.500 rpm; 41,3 kgfm a 2.000 rpm
Transmissão automático de 6 marchas, tração 4x2 traseira
Suspensão independente de braço duplo na dianteira e traseira eixo rígido com feixe de molas; pneus 255/6 R18
Comprimento e entre-eixos 5.370 mm; 3.270 mm
Largura 1.918 mm
Altura 1.884 mm
Peso 2.069 kg em ordem de marcha
Capacidade de carga 1.031 kg
Reboque 3.100 kg
Capacidades caçamba: 1.250 litros; tanque: 80 litros
Preço de entrada R$ 219.990
Consumo de combustível cidade 8,9 km/l / estrada: 12,9 km/l