Apresentada em julho de 2024, a nova geração do Fiat Panda (chamada Grande Panda) causou grande furor quando foi mostrado por seu visual retrô, com inspiração no modelo original dos anos 80, e pela sinergia que o modelo terá com outros compactos do grupo Stellantis, como o Citroen C3 e o Peugeot 208, que lhe deram a base CMP - também chamada de Smart Car depois da união de PSA e FCA.
Tendo muito dos seus irmãos, terá alcance global, inclusive esperado como o sucessor dos modelos de entrada da marca aqui no Brasil, de uma só vez Argo e Mobi. Ainda não há informações concretas se o novo carro será exatamente o Panda ou um modelo derivado, o utilizando como influência visual mas tendo projeto próprio, tal como o Citroen C3 brasileiro e o C3 europeu.

Citroën C3 brasileiro

Citroën C3 europeu

Foto de: Fiat
Novo Fiat Grande Panda
Ainda sim, independente da escolha que a Fiat faça, a influência do Panda em seus compactos não é uma novidade. Desde os anos 1980, quando o modelo original desenhado por Giorgetto Giugiaro chegou ao mercado para substituir o velho 126 (que era o primo europeu do 147), o Panda já trazia muitas soluções que seriam posteriormente adotadas no Fiat Uno, como o bom aproveitamento de espaço interno, o minimalismo de suas linhas - sempre quadradas - e a utilização de motores da família Fire, o que lhe conferiam agilidade no trânsito diário.
Trazia também muitas soluções curiosas, como seus vidros, por exemplo, que eram completamente planos em todas as janelas, fazendo-os, além de mais leves e baratos, serem fáceis de substituir e possíveis de intercambiar da esquerda para a direita - algo que o Dacia Logan adotaria décadas depois.

Foto de: Motor1 Brasil
Fiat Panda dos anos 80 tinha design minimalista feito por Giugiaro e soluções curiosas
A primeira geração do Panda foi tão bem sucedida que ficou no mercado por duas décadas praticamente sem alterações e, assim como o Uno, recebeu apenas melhorias pontuais, como a adição de tração 4x4, em 1983, desenvolvido pela austríaca Steyr-Puch e sempre associado a um pequeno motor 1.0 de 48 cv com câmbio cinco marchas. Não tinha reduzida, e o carro arrancava de segunda. Fez tanto sucesso que virou a versão mais lembrada.
Virou também um pequeno laboratório da marca italiana, tendo uma versão elétrica já nos anos 90, chamada de Elletra. Tendo apenas 19 cv, pesando o dobro da versão convencional e custando o triplo, o modelo não fez sucesso, mas a marca italiana ainda insistiu no modelo até 1998.

Foto de: Motor1 Brasil
Raio-x da tração desenvolvida pela Steyer-Puch: não havia reduzida. Baixo peso e relações curtíssimas fizeram do modelo queridinho do público que buscava um 4x4 barato

Foto de: Motor1 Brasil
Interior era minimalista ao extremo, tendo tecido na parte superior, e instrumentação nas mãos do motorista, tal qual o primeiro Uno
Assim como no Brasil, onde o Uno original saiu de linha em 2014 devido a lei que obrigou os fabricantes a adotarem freios ABS e airbag duplo em todos os carros de passeio fabricados no país, a Fiat começou a retirar o Panda de primeira geração aos poucos na Europa, encerrando definitivamente sua produção em 2003, com mais de 4.500.000 unidades feitas em 23 anos.

Foto de: Motor1 Brasil
Fiat Seicento do fim dos anos 90 foi sucessor pouco carismático do Panda e que durou pouco
Em seu lugar, como carro mais barato da marca, assumia o Fiat Seicento, um citycar de duas portas com formas um pouco mais arredondadas e que lembravam os Marea e Brava da época. Durou pouco e nem chegou perto de ter o mesmo carisma que os antigos Panda, 500 e Uno, que ele tentou substituir indiretamente.

Foto de: Motor1 Brasil
2ª geração do Fiat Panda tinha muito de MPV e quase teve outro nome
Segunda geração quase teve outro nome
Com o fim do Panda original, em 2003, a Fiat europeia quase matou o nome em favor de outro modelo com tração 4x4 que quase se chamou Gingo, tendo sido apresentado com esse nome no Salão de Genebra daquele ano.
O ''Projeto 169'', como era conhecido até então, era bem diferente do Panda e do Seicento, adotando carroceria com teto mais alto e lanternas traseiras verticais, algo em voga na época, principalmente com a ascensão dos monovolumes. Foi apenas quando alguns executivos perceberam que a semelhança fonética da palavra Gingo com Twingo, o citycar da francesa Renault, que os planos de mudar de nome foram abortados.

Foto de: Motor1 Brasil
Com um ''aviso'' formal por parte da francesa de que caso fosse em frente e utilizasse o nome as duas poderiam enfrentar uma disputa judicial, a Fiat resolveu voltar atrás apenas um mês antes do lançamento oficial e recuperar o nome Panda do mundo dos mortos. Mesmo já com material de imprensa, catálogos e com tudo pronto para o novo nome. Loucura, né?
A segunda geração do Panda foi produzida entre 2003 e 2012, mantendo boa parte do sucesso da geração anterior, mas agora trazendo mais tecnologia e segurança para o modelo, que utilizava a mesma plataforma que seria usada no então novo Fiat 500. Em 2004, recebeu o prêmio ''Car of The Year'', ganhando de modelos como Mazda 3 e Volkswagen Golf.

Foto de: Motor1 Brasil
Fiat Uno de 2ª geração

Foto de: Motor1 Brasil
3ª geração do Fiat Panda
Terceira geração inspirou Novo Uno, mas só no visual
Compensando as poucas semelhanças com os Fiats brasileiros na época da segunda geração, a terceira, apresentada em 2012, tinha muito do então Novo Uno brasileiro. Desta vez, o modelo maior havia nascido primeiro, e não o contrário, mas suas equipes trabalharam juntas, seguindo a mesma filosofia de ''quadrados arredondados'' que percorriam os dois hatchs compactos.
O brasileiro chegou dois anos antes, em 2010, e era uma verdadeira revolução se comparado ao Uno - ou Mille - vendido até então, que permanecia na mesma geração desde os anos 80. Comparado ao seu primo europeu, no entanto, o Uno era claramente um modelo simplificado, já que continuava a não ter opção de tração 4x4 e utilizava a plataforma 327, oriunda da primeira geração do Palio.

Foto de: Motor1 Brasil

Foto de: Motor1 Brasil
Com o tempo, a segunda geração do Uno recebeu facelifts e modificações que o deixaram mais sofisticado na parte interna e externa, tendo sido ainda o primeiro Fiat nacional a adotar os mesmos motores Firefly disponíveis no Panda.
O Panda, por outro lado, trazia o básico de um projeto europeu de sua época, ainda sendo feito na mesma base Mini que também deu origem ao Fiat 500. Com ela, o modelo foi responsável por estrear algumas tecnologias na marca italiana, como a tecnologia MHEV (hibrido leve) - semelhante a usada nos modelos Pulse e Fastback no Brasil - mas, por lá, utilizando o 1.0 Firefly aspirado, e assistentes de frenagem de emergência, que chegaram ao modelo em 2013.

Foto de: Motor1 Brasil
Segunda geração do Uno foi criticada pela simplicidade, mas melhorou com o tempo

Fiat Panda de terceira geração trazia mesmo conceito de ''quadrado arredondado'', mas refinamento o deixava mais próximo do 500
No Brasil, a segunda geração do Uno foi vendida até 2021, quando foi substituída em partes nas versões de entrada pelo subcompacto Mobi, que nasceu como seu derivado em 2016, e pelo Argo nas versões mais completas e para quem precisa de mais espaço.
Já o Panda resiste firme e forte na Europa. A geração atual, inclusive, ganhará sobrevida com o nome de Pandina, ao mesmos moldes dos antigos Palio e Uno Fire no Brasil, enquanto a nova geração continua com o nome de Grande Panda.

Foto de: Fiat
Fiat Grande Panda
Novo Fiat deve ser mais Panda do que nunca
Após a criação da Stellantis em 2021, um certo imbróglio foi surgindo: o novo grupo guarda-chuva cuidaria de várias marcas que atuavam no mesmo segmento, como Fiat, Peugeot, Citroën, Opel, Vauxhall e Lancia. Como arrumar a casa para que todas as marcas fossem lucrativas e ainda pudessem se diferenciar entre si?
A resposta está começando a aparecer agora, com a chegada dos novos compactos do grupo na base Smart Car. Esta base, que era chamada de CMP e fazia parte até então somente das marcas francesas Peugeot e Citroen, agora será estendida para todas as marcas do grupo que atuam com compactos - tal como uma base MQB, do grupo Volkswagen - as diferenciando apenas pela motorização e pelo design do veículo que irá ser feito nela.

Citroën C3 deve ganhar mais protagonismo no segmento de entrada, enquanto Fiat terão mais espaço para crescer; Mobi tem futuro incerto
Isso já é feito com a Citroën, que nesse meio tempo deixou de lado seus carros excêntricos para ser a marca de entrada do grupo - sim, abaixo da própria Fiat - e que têm C3 diferentes para o mercado europeu, indiano e brasileiro. Com isso, a marca italiana pode começar a focar em modelos mais refinados, tanto em preço como em construção.

Projeção: Giga Panda deve dar origem ao novo Pulse
Alguns indícios desse novo posicionamento da Fiat já começaram a aparecer há algum tempo. Há rumores de que as novas gerações dos SUVs Fastback e Pulse serão derivadas do novo Panda, tendo o mesmo visual ‘’quadradão’’ do modelo europeu, conforme alguns teasers - ainda com efeito borrado - na época de divulgação do Grande Panda, em julho de 2024. Hoje, os dois são derivados da base MLA, exclusiva dos modelos, o que os deixa um tanto limitados em recursos de segurança e tamanho, com ambos tendo apenas 4 airbags e 2,52 cm de entre eixos.
A nova base também dará a marca a possibilidade de ter maiores avanços técnicos e dinâmicos nos dois carros, podendo dar mais alguns passos na eletrificação dos modelos, que contam hoje somente com eletrificação do tipo híbrido leve. O novo Grande Panda, vale lembrar, tem opções híbrido plena - como num Toyota Corolla - e totalmente elétrica.

Foto de: Fiat
Fiat Mobi Like 2025 com motor 1.0 Firefly 3-cilindros
Mobi é incerteza
Futuro incerto nessa ''nova'' Fiat tem o subcompacto Mobi. Ainda derivado do velho Uno, que saiu de linha em 2021, o modelo recebeu de volta o motor 1.0 Firefly de maneira providencial, graças às regras mais rígidas do Proconve L8 que entraram em vigor em janeiro de 2025 no território brasileiro.
Entretanto, sua adaptação para uma nova fase ou para novas exigências de segurança que exijam adaptações em seu projeto podem não ser viáveis, já que o segmento de subcompactos não tem margem que justifique tais modificações.
Seja como for, a nova família de compactos da Fiat fará parte do plano de investimentos de R$ 30 bilhões prometidos pela empresa até 2030. De acordo com o grupo Stellantis, esse aporte, que foi anunciado em março de 2024, será utilizado para desenvolver sistemas híbrido flex (tanto do tipo leve, como já disponível em modelos Fiat como novas tecnologias para outros motores e marcas) e realizar 40 lançamentos nos próximos 5 anos e meio.