Walter Porto: Flup traz Bernardine Evaristo ao Rio de Janeiro em festival dominado pela mulher negra

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A Flup, Festa Literária das Periferias, prepara uma programação de peso centrada em escritoras negras para a edição que acontece no Circo Voador, casa de eventos no Rio de Janeiro, de 11 a 17 de novembro.

O festival confirmou a participação da britânica Bernardine Evaristo, vencedora do prêmio Booker por "Garota, Mulher, Outras", editado aqui pela Companhia das Letras; e da franco-senegalesa Marie NDiaye, que já ganhou o Goncourt e voltou aos holofotes há pouco com a edição de "A Vingança É Minha", da Todavia, e o audiolivro "Coração Apertado", na Supersônica.

Entre as presenças internacionais da festa, ainda estão a cineasta francesa Alice Diop, do elogiado "Saint Omer"; a política Christiane Taubira, que foi ministra da Justiça da França durante o governo de François Hollande; a professora holandesa Gloria Wekker, que vem lançar diários inéditos de Audre Lorde, com que trabalhou; e o músico e escritor angolano Kalaf Epalanga.

Ele será um dos raros homens convidados para o evento, já que, segundo a organização, o programa será mais de 90% composto de mulheres negras —reflexo de um mundo em transformação que será cada vez mais contado por novas narradoras, diz Julio Ludemir, idealizador da Flup.

"Nós estamos ou no mundo de Kamala Harris ou da extraordinária depressão da vitória de Donald Trump", afirma ele, que organiza o evento desde 2012 e marcou a edição deste ano para a beira do G20, uma reunião de "homens brancos engravatados" que acontece no Rio na semana seguinte. "A única possibilidade de êxtase é a vitória de uma mulher negra neste ano. A utopia está nas mãos dela."

É algo que se alinha à homenageada do ano, a historiadora Beatriz Nascimento, que pensou uma negritude transatlântica e uma história "que não fosse contada por mãos brancas". Um dos pontos de partida da Flup é um "dicionário biográfico" de cem mulheres negras escrito por outras cem.

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Entre as brasileiras, vão participar as pesquisadoras Jurema Werneck e Leda Maria Martins, as escritoras Cidinha da Silva, Luciany Aparecida e Ryane Leão, o professor Kabengele Munanga e os músicos Tiganá Santana e Lia de Itamaracá, em meio a uma programação vasta que inclui saraus e rodas de samba.

A curadoria geral do programa se divide entre a professora franco-senegalesa Mame-Fatou Niang e os brasileiros Duda Nascimento e Jefferson Barbosa. E patrocínios polpudos de empresas como Vale, CCR e Fundação Ford também dão uma ideia da robustez da Festa das Periferias neste ano.

É o que Ludemir ouviu de um amigo uma vez, numa frase que grudou na sua cabeça: "a cidade literária está mudando".

PONTA DE LANÇA A Zahar vai inaugurar, na sua tradicional coleção de clássicos, um projeto que ressalta a negritude do escritor Alexandre Dumas, que ocupa o panteão literário da França e foi neto de uma mulher escravizada. Segundo a editora, que publica já este ano a tradução inédita do primeiro volume de "O Visconde de Bragelonne", da saga "Os Três Mosqueteiros", o autor passou por um embranquecimento de imagem "similar ao de Machado de Assis".

MEU VERSO É LIVRE Dumas se posicionou sobre sua identidade negra em cartas e também no romance abolicionista "Georges", a ser publicado pela primeira vez no Brasil em 2025. É a história de um homem negro de pele clara que ocupa posição privilegiada numa colônia francesa, mas é rejeitado pela elite diante de uma invasão britânica —e também falha em liderar uma rebelião de escravizados, evidenciando seu "não lugar".

O NOVO GRAÇA Para marcar a entrada da obra de Graciliano Ramos em domínio público, a Rocco investe em outubro na publicação de "Árido", que convida cinco escritores de diferentes regiões brasileiras para criar ficção a partir do clássico "Vidas Secas". Os autores são o paraense Tanto Tupiassu, a goiana Fabiane Guimarães, o gaúcho José Falero, a carioca Ana Paula Lisboa e o paraibano Cristhiano Aguiar.

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