Opinião - Luciana Coelho: 'Round 6' volta ao ar e consegue sobreviver ao próprio hype

há 16 horas 1

Após conquistar uma horda de fãs pelo mundo para além das fileiras dos doramas, a série sul-coreana "Round 6" está de volta ao ar com a difícil missão de sobreviver ao hype de sua primeira temporada. Antes mesmo da estreia, nesta quinta (26), a produção escrita e dirigida por Hwang Dong-hyuk já havia abocanhado uma indicação para o Globo de Ouro de melhor série dramática.

Como da primeira vez, o tema é a competição por bilhões de wons sul-coreanos —na qual famélicos, endividados e vigaristas se matam, literalmente, pela bolada— em uma grande alegoria sobre capitalismo, mobilidade social, sistema de privilégios e muito da mesquinharia humana.

Mas, com uma história completa contada nos nove episódios que foram ao ar em 2021, prorrogá-la com justiça ao arrebatamento inicial é obstáculo imenso.

Hwang usou a situação a seu favor, conduzindo o espectador pelas mãos de Gi-hun (Lee Jung-jae), o protagonista da primeira temporada, ainda assombrado pelo custo em vidas de sua vitória.

Assim, repetições e surpresas se alternam para quem já conhece o jogo, desta vez aprofundando a narrativa com o que ocorre fora da ilha sinistra. Com isso, cresce nossa empatia pelo protagonista, um sujeito comum, capaz de vilanices, mas com a bússola moral regida pela redenção.

Encontramo-no três anos depois, obcecado por localizar o homem que recruta jogadores e aquele que assumiu o posto de mestre do jogo no lugar de Oh Yeoung-su (Oh Il-nam). Para tanto, emprega todo o dinheiro conquistado no prêmio, recruta uma milícia e isola-se de todos que poderiam tirá-lo desse trilho.

Seu caminho acaba por cruzar com o do policial Jun-ho (Wi Ha-jun), que, após quase morrer na primeira temporada, foi resgatado por um pescador e se empenha na própria caçada à ilha misteriosa. Fãs da dinâmica dos jogos podem sentir falta, nos primeiros episódios, do ritmo tenso da competição, pois aqui o diretor se aproxima de um thriller policial mais convencional, não fosse a característica ultraviolência.

Esse respiro, contudo, é bem-vindo, tornando a obra menos caricaturesca e mais humanizada. Nesta temporada ganhamos a perspectiva dos "mascarados", os funcionários com macacões e equipamento de esgrima que conduzem (e matam) os jogadores. Como os participantes, eles também são recrutados, atraídos pela possibilidade de escapar de uma vida indigna ou penosa.

Uma vez na arena, os conflitos e tipos de personagens se mostram similares à primeira temporada.

Há, entre os recrutados, todo tipo de caráter, bons e maus, gananciosos e desgraçados, os que estão ali por altruísmo, os que estão por medo e os que o fazem por mera ganância, e o nivelamento entre eles evidencia a amoralidade proposta pelo mestre do jogo e, de certa forma pelo diretor/roteirista ao espectador. Afinal, alguém merece morrer? E, se sim, quem e por quê?

Finalmente, há um elemento novo externo à série, mas que acaba por alterar a forma de vê-la.

Estamos em meio a uma crise social e financeira no Brasil aberta pela disseminação das casas de apostas online, algo incipiente há três anos, quando a primeira temporada foi ao ar. Ver a dinâmica da dependência na tela, do "vou jogar só mais uma vez, e parar se eu ganhar", é, por si só, um exercício aterrorizante.

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