Volvo XC90: retocado, SUV mostra porque ainda é ótimo no asfalto

há 3 horas 2

Pelo plano original, ele já teria se despedido. Lançado em 2015, o Volvo XC90 de segunda geração — que hoje é híbrido — deveria ter saído de cena para abrir espaço ao EX90, seu sucessor 100% elétrico, revelado lá fora no ano passado. Contudo, a transição energética está mais lenta do que se imaginava, e nem todos os clientes da marca estão prontos para abandonar os motores a combustão.

Apesar de os elétricos puros já representarem 35% dos emplacamentos na Suécia (contra 26% dos híbridos plug-in), a venda de carros a combustão só será proibida na União Europeia em 2035. Daí que a Volvo retocou o design do XC90, garantindo-lhe mais um tempo de vida. No Brasil, o modelo de visual atualizado acaba de estrear ao lado do EX90, que teoricamente seria seu substituto.

Em dez anos de produção, este já é o segundo facelift feito no XC90 II (o primeiro foi em 2019). Mas o utilitário de luxo fabricado em Torslanda, na Suécia, não tem a pretensão de parecer um modelo novo. O papel de vanguardista cabe ao jovem e elétrico EX90, que é produzido nos Estados Unidos e na China.

As proporções do XC90 “2025.5”, como vem sendo chamado, continuam basicamente as mesmas de dez anos atrás. Há, contudo, atualizações: a dianteira recebeu faróis mais estreitos (com o desenho “martelo de Thor” da família Volvo), grade mais baixa e larga, com aberturas que se juntam na diagonal (diferente... gostamos!), novo para-choque e um capô com vincos mais marcados. Atrás, as lanternas foram escurecidas e ganharam mudanças internas. Também há novas rodas (de 20”, 21” ou 22”, dependendo da versão) e uma nova cor: o Mulberry Red, um grená elegante e sóbrio, como se espera de um Volvo. Por fora, é só isso.

Mesmo com uma década de estrada, o design ainda transmite presença e refinamento. E o XC90 continua sendo um SUV imponente, com seus quase 5 metros de comprimento (4,95 m, pra ser exato) por 2 metros de largura.

Volvo XC90 T8 (11)

Foto de: Volvo

Volvo XC90 T8 (11)

Ainda há teclas... que bom! 

Visualmente, o painel é o que denuncia a idade do projeto: está mais para 2015 do que para 2025. A parte boa é que ainda há vários botões físicos no XC90. Aperte um e o porta-luvas se abrirá. Parece óbvio, não? Mas no moderninho EX90 são necessários nada menos que quatro comandos touchscreen para fazer a mesma coisa. Acionamentos tradicionais também facilitam os ajustes da coluna de direção e dos retrovisores.

O destaque na (discreta) renovação interna do XC90 é a nova central multimídia de 11,3", meio que encaixada na marra no espaço onde antes havia uma tela de 9”. A interface foi melhorada e é intuitiva, com novos recursos, aplicativos e atualizações remotas de software. Já o quadro de instrumentos continua com leitura clara e personalizável.

O restante do interior permanece como se espera de um Volvo, com materiais agradáveis, acabamento elegante e um ambiente acolhedor de casa de campo escandinava. Isso inclui até uma faixa de madeira de verdade (freixo) no painel, destacada pela iluminação da cabine.

Volvo XC90 T8 (15)

Foto de: Volvo

Volvo XC90 T8 (15)

Há novos revestimentos em elegantes “texturas nórdicas”, como uma padronagem opcional em tecido que, segundo a Volvo, é termicamente melhor tanto no frio quanto no calor. Também vieram aprimoramentos no isolamento acústico e uma base de carregamento por indução mais acessível. São detalhes sutis.

O espaço interno ainda é um dos pontos fortes. Os bancos dianteiros são mais firmes do que se imagina em um SUV desse porte e luxo. A segunda fileira oferece conforto exemplar, e até a terceira fileira é bem utilizável, ainda que mais indicada para crianças.

Há soluções inteligentes, como o assento infantil embutido no centro da segunda fileira de bancos, que também dispõe de cintos de segurança com regulagem de altura. Destaque para o ar-condicionado em quatro zonas, com saídas para a terceira fileira. Além disso, todos os XC90 chegam ao Brasil com teto panorâmico.

XC90 (1)

Foto de: Volvo

XC90 (1)

Em ação

Na apresentação do utilitário renovado (realizada juntamente com o lançamento nacional do EX90), pudemos guiar o XC90 por 85 quilômetros, entre Vinhedo e São Paulo. Por um lado, a curta distância ainda não permitiu avaliar bem o consumo, mas por outro, foi possível guiar por trechos sinuosos, retas livres e trânsito engarrafado.

A nova linha oferece duas opções de suspensão, sendo que a versão Plus (a “mais simples”, digamos assim...) traz uma mola transversal em material composto no eixo traseiro — solução que aumenta a capacidade de carga sem comprometer o conforto. Os novos amortecedores têm válvulas de bypass que se abrem em impactos curtos e secos, filtrando melhor as imperfeições. Isso permitiu amolecer as molas e endurecer levemente a barra estabilizadora dianteira.

Já a versão intermediária Ultra (que dirigimos e deverá ser a mais vendida) e a topo de linha Ultra Dark vêm com suspensão de molas pneumáticas e amortecedores adaptativos, que filtram bem os buracos e imperfeições, oferecendo um rodar macio e com silêncio quase absoluto. A leve direção, porém, é pouco comunicativa mesmo quando selecionamos um modo de condução mais esportivo.

O XC90 é bom de guiar? Sim, especialmente quando levamos em conta que estamos em um utilitário de quase 2,4 toneladas, focado no conforto. Na estrada, parece um carro menor do que realmente é. Na cidade, o amplo campo de visão, os sensores e as câmeras ajudam.

Você só não pode assumir o volante do XC90 imediatamente depois de ter dirigido o EX90... Aí fica bem claro o quanto os projetos de plataforma evoluíram nos últimos dez anos, tanto em estabilidade quanto em precisão da direção, deixando os automóveis mais “na mão”. E olha que o elétrico EX90 é 400 quilos mais pesado! Da plataforma SPA (dos modelos a combustão) para a SPA2 (dos novos BEVs), houve um salto nas qualidades dinâmicas.

A condução semi-autônoma de Nível 2 no XC90 funciona muito bem, com quase todos os ADAS possíveis, em assistências suaves e pouco intrusivas. Seja na estrada ou no trânsito engarrafado, os gnomos eletrônicos podem ser convocados de maneira fácil e intuitiva por motoristas em qualquer estágio evolutivo. Das marcas no Brasil, a Volvo ainda é a melhor nesse quesito. O carro praticamente anda sozinho.

Volvo XC90 T8 (21)

Foto de: Volvo

Volvo XC90 T8 (21)

Motor elétrico, auxílio luxuoso

Os XC90 a diesel ficaram no passado (o último exemplar foi fabricado em março de 2024). Agora, todos os Volvo XC90 são equipados com motor a gasolina de quatro cilindros e 2 litros, com turbocompressor (são 310 cv). Enquanto lá fora há versões mild-hybrid de 48V, no Brasil chegam apenas os híbridos plug-in T8 — e aí a coisa fica bem mais divertida, já que no eixo traseiro vai um motor elétrico de 145 cv. 

No total são 455 cv, com torque máximo de 72,2 kgfm, coisa pra caramba. Os números de aceleração também impressionam: 0 a 100 km/h em 5,4 s (a máxima é limitada eletronicamente a 180 km/h). Mas, no mundo real, não espere uma máquina de guerra. Tamanha usina de força serve para garantir aquele fôlego extra em ultrapassagens, por exemplo. E o motor elétrico, com seus 31,5 kgfm de torque instantâneo, é muito útil nas subidas de serra: pise fundo e o utilitário de 2,4 toneladas vai acelerar como se estivesse no plano.

A tração integral funciona com o motor a combustão movendo as rodas dianteiras e o motor elétrico acionando o eixo traseiro quando necessário. Numa estrada sinuosa, isso proporciona uma grande sensação de segurança. Há ainda um modo de tração integral permanente, mas que depende da carga disponível na bateria.

A transição entre o modo elétrico e o motor a combustão é imperceptível, com entrega de força de maneira linear e silenciosa na maior parte do tempo (exceto quando se exige muito do acelerador).

Dosando o pé direito no trânsito, é possível rodar sem dificuldades apenas no modo elétrico. A bateria tem 19 kWh e, segundo o conservador ciclo do Inmetro, a autonomia no modo “Pure Electric” é de 47 km. Na prática, certamente será possível andar um pouquinho mais. O senão é a potência de recarga limitada a 3,7 kW, o que aumenta o tempo na tomada até a bateria chegar a 100% (para comparação: nos PHEV da Porsche, são 7,2 kW, e nos da BYD, 6,6 kW).

Volvo XC90 T8 (17)

Foto de: Volvo

Volvo XC90 T8 (17)

Resumo

Apesar de estar há tanto tempo em linha, o XC90 tem o espaço interno, a suavidade de marcha, o silêncio e a segurança como pontos fortes. Seu design escandinavo ainda é um alento em meio a tantos delírios exibicionistas de rivais alemães. É caro? É… Especialmente quando lembramos que é um modelo com dez anos de mercado.

Os preços começam em R$ 639.950 na versão Plus. Já a versão Ultra, que tem suspensão a ar, mais ajustes nos bancos dianteiros, head-up display, câmera 360º e som premium da Bowers & Wilkins, sai por R$ 689.950 (é a melhor opção da gama). Por fim, há a versão Ultra Dark, com aros de 22”, acabamentos externos em black piano e preço de R$ 699.950.

O irmão menor, Volvo XC60 T8, com o mesmo conjunto mecânico mas apenas cinco lugares, custa R$ 439.950. Vale lembrar, porém, que o elétrico EX90 está chegando por R$ 849.950 — ou R$ 210 mil a mais do que o modelo a quem deveria substituir.

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