Volta longa: 6.070 quilômetros com a Chevrolet S10 High Country

há 2 meses 8

A caçamba já estava toda arrumada para nosso tradicional mês de férias no Uruguai. Aí, madame percebeu que havia sobrado um espaço livre e disparou: “Vou levar um carrinho de feira pra minha mãe. No Uruguai não tem carrinho de feira e, se tiver, é caríssimo!” 

Ela jamais teria essa ideia se viajássemos de avião, mas, novamente, iríamos fazer o percurso Rio-Montevidéu-Rio por terra. E, como na virada de 2021 para 2022, pegaríamos a estrada com uma Chevrolet S10 High Country.

A S10 em seu ambiente - um campo em Fray Marcos, no interior do Uruguai (4)

Foto de: Jason Vogel

A S10 em seu ambiente - um campo em Fray Marcos, no interior do Uruguai (4)

Confesso que preferia um modelo diferente, para não repetir figurinha, mas a S10 2025 foi o que conseguimos com disponibilidade de um mês e, principalmente, permissão para sair do Brasil. Não são todos os fabricantes que autorizam viagens internacionais com seus carros de teste.

E havia um bom argumento para ir com a S10 novamente: no ano passado, a picape recebeu, além do retoque no visual, um câmbio automático de oito marchas (antes eram seis), ajustes na suspensão, novo painel e outros detalhes. Teríamos 6 mil quilômetros pela frente com a versão topo de linha, de R$ 323.490, para conferir o que essas novidades representam na prática.

A S10 em seu ambiente - um campo em Fray Marcos, no interior do Uruguai (2)

Foto de: Jason Vogel

A S10 em seu ambiente - um campo em Fray Marcos, no interior do Uruguai

Antes de mais nada, um retrospecto: a S10 brasileira de segunda geração, gêmea da Chevrolet Colorado G2 norte-americana, já está em nosso mercado desde fevereiro de 2012. Lá se vão, portanto, 13 anos (lembremos que a primeira geração durou 15 anos). 

Em 2022, foi lançada nos EUA a terceira geração da Colorado — mas, tão cedo, isso não deve acontecer por aqui (se é que vai acontecer…). Assim, o que a GMB fez, em 2024, foi uma boa atualização da S10 fabricada em São José dos Campos (SP), que ganhou a mesma frente e o mesmo câmbio da atual Colorado feita em Wentzville, Missouri. 

O câmbio de 8 marchas deixou a S10 mais econômica

Foto de: Jason Vogel

O câmbio de 8 marchas deixou a S10 mais econômica

Todos a bordo

A chave por aproximação é um dos novos ingredientes na S10. Além de destravar as portas, abre e fecha os vidros à distância e dá a partida no motor por controle remoto, acionando o ar-condicionado antes mesmo que se entre no carro. 

A S10, enfim, ganhou ajuste de profundidade da coluna de direção (antes havia só o de altura). Isso, aliado ao bom banco do motorista, com amplos ajustes elétricos, permite encontrar uma postura de guiar relaxada. O volante é bem forrado, com material suave e costuras bem feitas, que não incomodam as palmas das mãos.  No miolo, porém, vai a gravatinha cromada da Chevrolet que, em determinadas horas e ângulos, reflete o brilho do sol bem nos olhos do motorista.

6 mil km de S10 - retrovisores de bom tamanho

Foto de: Jason Vogel

6 mil km de S10 - retrovisores de bom tamanho

A bordo, há muito espaço para os quatro viajantes: casal, filha de 9 anos e uma cachorrinha dachshund. O encosto do banco traseiro é ligeiramente reclinado, o que é bom. No ano passado viajamos com uma Montana, cujo encosto traseiro formava um ângulo reto com o assento, e tivemos que usar uma almofadinha para simular uma inclinação. As forrações com imitação de couro marrom e os tapetes de borracha facilitaram a limpeza da cabine ao longo da viagem. Nada de neuroses ao se ouvir um pacote de biscoito sendo aberto dentro da picape.

E lá fomos curtindo nossa primeiras horas de estrada pela Serra das Araras e, depois da divisa de São Paulo, no sinuoso trecho da Dutra na altura de Queluz, Lavrinhas e Cruzeiro. Uma das novidades da S10 no ano passado foi o ligeiro aumento das bitolas dianteira e traseira, por meio da simples troca do offset das rodas. Molas e amortecedores também são novos. 

6 mil km de S10 - bancos cômodos e fáceis de limpar

Foto de: Jason Vogel

6 mil km de S10 - bancos cômodos e fáceis de limpar

Em sua primeira geração (1995-2012), a S10 tinha um péssimo acerto de chão — na época, parecia que os projetistas da suspensão dianteira não conversavam com a equipe responsável pela suspensão traseira. A chegada da segunda geração, em 2012, pôs as coisas em ordem e, no ano passado, houve mais alguma evolução em termos dinâmicos. A sensação de controle e segurança é constante. 

Um grande destaque da S10 é ser muito suave, sem ser molenga. Somando espaço interno e conforto de rodagem na estrada, essa picape é o mais próximo que se pode ter de um sedã Chevrolet 1951 — só que com mimos, segurança e assistências do século XXI. 

 Chevrolet S10 High Country 2025

Na versão topo de linha, a ausência do ar-condicionado em duas zonas é indesculpável. Fez muita falta durante a viagem, bem como uma saída para a parte de trás da cabine. E mais: às vezes, com o ar ligado, um cheiro de limpa-parabrisa vinha pela ventilação e, rapidamente, desaparecia. Ficou o mistério.

 Chevrolet S10 High Country 2025

Painel da Spin

O antigo quadro de instrumentos tinha dois mostradores analógicos redondos, de leitura fácil e precisa, além de um computador de bordo simplezinho, em preto e branco, mas que era fácil de operar e podia ser conferido o todo o tempo.

Aí, para modernizar a S10, adaptaram na picape o mesmo quadro de instrumentos totalmente digital da Chevrolet Spin. À primeira vista é até bacana, com o painel principal (de 8”) e a grande central multimídia (11”) geminados. 

 Chevrolet S10 High Country 2025

A parte da multimídia é bonita e fácil de usar. Já os gráficos no quadro de instrumentos principal são muito pobres tanto visualmente quanto em informações. Há três opções de apresentação, nenhuma delas realmente digna da S10. A melhorzinha tem um conta-giros apenas “aproximativo”. No painel principal, ou se vê o consumo (mais hodômetros parciais 1 e 2) no computador de bordo, ou se vê o conta-giros — não conseguimos ter as duas coisas simultaneamente. Pode-se abrir as informações de consumo na central multimídia, mas aí perdemos o GPS… 

Como antes, temos um roteador wi-fi a bordo. Em 6 mil quilômetros, isso foi especialmente útil para garantir o funcionamento do navegador do celular. Funcionou bem a maior parte do tempo — até no Uruguai. Mas há alguns trechos onde não se consegue sinal, como nas serras entre Registro em Curitiba, ou no banhado do Taim (RS).

 Chevrolet S10 High Country 2025

O carregador por indução manteve nosso smartphone o tempo todo carregado e sem esquentar, mesmo com o navegador e o streaming de música ligados. O rádio capta mal com sua anteninha de atarrachar no teto. Podia ser do tipo tubarão, até para facilitar a entrada em garagens (foi preciso tirar a antena algumas vezes para não bater em uma viga).

A tranquilidade do diesel

Gostamos de carros elétricos mas, para uma viagem dessas, ainda não há nada melhor que uma picape a diesel com um tanque de 76 litros. Saindo de Botafogo, chegamos à Marginal Tietê gastando menos de meio tanque. A essa altura, já havíamos rodado 489 km (destes, uns 40 km foram para buscar um cartão de crédito esquecido em casa) e o computador de bordo informava que ainda tínhamos mais 529 km de autonomia!

De pé leve, poderíamos ter feito o trecho Rio-Curitiba sem reabastecer. Mas decidimos pernoitar em Registro (SP) e ir ao posto pela manhã. Já havíamos rodado 650 quilômetros e a marcação ainda estava acima de ¼. 

Rio-Montevidéu-Rio em S10 - Na fronteira, enfim (1)

Foto de: Jason Vogel

Rio-Montevidéu-Rio em S10 - Na fronteira, enfim

Seria perfeitamente possível fazer o percurso Rio-Montevidéu com apenas duas paradas para reabastecimento — a autonomia da picape gira em torno dos 900 km, já descontando uma boa margem de segurança. Quando o alerta da reserva se acende, temos entre 90 e 95 km de autonomia. Mas, para aproveitar promoções de diesel S10, acabamos parando quatro vezes, mesmo sem necessidade urgente (em Santa Catarina, encontramos o combustível a R$ 5,85). 

Em compensação, pagamos R$ 6,50 no Chuí (RS), última cidade brasileira antes de cruzar a fronteira. Mesmo assim, completamos até a boca… No Uruguai, o litro do “gasoil” S50, de qualidade inferior ao nosso, sai por 50,92 pesos, o que dá R$ 6,70 na conversão direta. Também existe diesel S10 por lá, mas sai pelo equivalente a R$ 7,70! 

 Chevrolet S10 High Country 2025

Motor Duramax XLD28 2.8L TD da Chevrolet S10 High Country é compartilhado com outras versões

O efeito das duas marchas extras

Na S10 desde 2012, o motor Duramax XLD28, um quatro-em-linha de 2,8 litros projetado pela VM Motori, mostra que ainda tem grande valor. No ano passado, recebeu mais de 30 modificações (bicos, turbina, coletor de escape, pistões etc) e agora rende 207 cv e 52 kgfm (contra os 200 cv e 51 kgfm de antes). A potência já era tanta que esses 7 cavalinhos a mais nem fazem tanta diferença no uso normal.

O que realmente mudou entre uma viagem e outra foi a transmissão. Até o início do ano passado, a S10 usava a (já muito boa) caixa GM 6L50, automática de seis velocidades. Agora, a picape vem equipada com o moderno câmbio Hydra-Matic 8L80 fornecido pela GM do México. Comparando as relações, hoje temos de 1ª a 6ª bem mais curtas do que antes. A atual 7ª marcha corresponde à antiga 5ª. E a 8ª marcha do câmbio novo é 3% mais longa que a antiga 6ª. A relação do diferencial não mudou, nem a medida dos pneus (265/60 R18). 

 Chevrolet S10 High Country 2025

Com a reestilização, picape S10 e SUV Trailblazer ganharam novo câmbio de oito marchas 

Na prática, com as duas marchas extras, conseguiram o melhor de dois mundos. Melhorar acelerações e retomadas e, ao mesmo tempo, baixar o consumo, como veremos mais adiante. Em pistas de mão dupla, é facílimo ultrapassar — a retomada de 80-120 km/h, que antes levava 8,5 s, agora é feita em 6,9 segundos. E, com “degraus” menos espaçados no escalonamento, a gente quase não percebe as passagens de marcha. Mas, se o pé está leve no acelerador e surge um aclive, às vezes há um tranco mais forte na redução de 8ª para 7ª marcha. É o único momento em que o câmbio não é absolutamente suave. 

É possível comandar a caixa manualmente, usando a alavanca do seletor (é um GM… nada de aletas atrás do volante). Mas o câmbio é tão rápido e inteligente que você deixará em drive mesmo, sem sofrer ou sentir falta de paddle shift. Não tivemos oportunidade de usar o 4x4 ou a reduzida, acionados por meio de um botão giratório no lado esquerdo do painel, ao lado do comando dos faróis.

6 mil km de S10 - poeira de estrada

Foto de: Jason Vogel

6 mil km de S10 - poeira de estrada

Graças ao bom projeto do Duramax, ao ótimo isolamento acústico e à última marcha um pouquinho mais longa que antes, a S10 prova que picapes a diesel podem ser silenciosas e vibrar pouco. A 110 km/h reais (116 km/h no velocímetro), estamos a uns 1.750 rpm em oitava, com o motor bem descansado. Mesmo numa tocada mais rápida, o barulho não invade a cabine. Outro ponto a elogiar são os pneus Goodyear Wrangler Territory HT, bem voltados para o asfalto e com baixo ruído de rolagem.

Usamos muito o cruise control convencional, mas uma picape desse preço já deveria ter o controle de cruzeiro adaptativo (ACC), o que reduziria o cansaço nos trechos mais longos. Tampouco há um assistente de permanência na pista. Em vez de interferir na direção, a S10 traz apenas um alerta de saída de faixa.  Ao menos há alerta de colisão e frenagem automática de emergência.

Chevrolet S10 High Country 2025

Chevrolet S10 High Country 2025 utiliza pneus Goodyear Wrangler Territory HT, bons para o asfalto 

Depois de 2.492 quilômetros desde o Rio, chegamos à casa dos "abuelos”, em Montevidéu. Até aqui, nossa média de consumo foi de 12,6 km/l — marca 2,4% melhor do que os 12,3 km/l alcançados pela antiga S10, no mesmo trecho, três anos atrás. Um assado nos esperava na parrilla e ainda teríamos muitos quilômetros pela frente. 

Rio Grande (RS), última parada antes de entrar no Uruguai

Foto de: Jason Vogel

Rio Grande (RS), última parada antes de entrar no Uruguai

Estadia e volta

Apesar de seus 5,40 m de comprimento, por 1,87 m de largura, foi até bem estacionar a S10 na apertada garagem dos sogros, em parte por causa da direção com assistência elétrica (bem levinha nas manobras), em parte pelos grades retrovisores externos (facilmente rebatíveis, por meio de uma tecla) e, ainda, pela ótima resolução da câmera de ré, acompanhada de sinal sonoro. 

Já o alarme de proximidade dianteiro é de veneta e só toca quando quer. Falando nisso, muitas vezes, em plena estrada, um alerta do painel acendeu avisando que a chave não estava no carro — a cada vez que isso acontecia, era um susto-quase-infarto, uma conferida no bolso, e… tudo bem. Rebate falso.

A capota matítima protege bem contra a chuva, mas não contra poeira fina

Foto de: Jason Vogel

A capota marítima protege bem contra a chuva, mas não contra poeira fina

A plástica que deixou a S10 com cara de Colorado de terceira geração chamou a atenção nas ruas de Montevidéu. Mais de uma vez escutamos o comentário “Andan bien tus cositas, eh?”, entre admiração e uma pontinha de inveja. Se no Brasil a High Country já é cara, no Uruguai é mais ainda: custa US$ 69 mil, o que dá R$ 400 mil na conversão direta. 

Uma ida à pequena Fray Marcos, a 100 km da capital, para visitar os primos que moram em uma granja, mostrou que a vedação da caçamba da S10 é bem inferior à da Montana com que viajamos no ano passado. Depois de alguns quilômetros por estrada de terra batida, a caçamba estava cheia de poeira fina. Por outro lado, a capota marítima é fácil de pôr e tirar, e oferece boa proteção contra chuva. Tivemos que reabastecer no Uruguai e vale dizer que o consumo piorou com o combustível local, caindo da faixa dos 12 km/l para a casa dos 11 km/l. 

A poeirada que entrou na caçamba durante a ida à granja

Foto de: Jason Vogel

A poeirada que entrou na caçamba durante a ida à granja

Viagem com picape - espaço até para carrinho de feira

Foto de: Jason Vogel

Viagem com picape - espaço até para carrinho de feira

Na hora de voltar pra casa, arrumar o “Tetris” com a bagagem não foi problema, já que o volume da caçamba é de 1.061 litros e a picape pode levar uma carga útil de 1.044 quilos (descontando os 240 kg da tripulação, ainda sobravam 804 kg…). Os quatro ganchos de amarração sequer foram utilizados.

Para poder curtir dois dias de praia em Santa Catarina, fizemos trechos maiores no retorno. Logo de cara, Montevidéu-Porto Alegre, num tiro de 830 quilômetros. Os bons faróis nos salvaram de atropelar uma capivara no escuro da BR-116, quase chegando a Guaíba (RS).

Vovô Chevrolet 1950 e sua netinha S10 - encontro na estrada

Foto de: Jason Vogel

Vovô Chevrolet 1950 e sua netinha S10 - encontro na estrada

A outra puxada grande foi de 905 km, entre Barra de Ibiraquera (SC) e Taubaté (SP), com direito a quase uma hora de congestionamento na BR-101, entre Florianópolis e Itapema (SC). Foi o dia em que o ACC mais fez falta, mas os bons bancos da S10 preservaram nossas colunas e chegamos bem inteiros ao destino. Não fosse a fome, teria dado para rodar mais alguns quilômetros.

A prova da economia

Depois de 1 mês com a S10 High Country, estávamos de volta ao Rio. Ao longo de 6.070 km de uso em estradas e cidades, a média geral de consumo ficou em 12,4 km/l. Já a média rodoviária apenas no trecho Montevidéu-Rio foi de excelentes 13,1 km/l.

Na viagem de 2021/2022, no mesmo percurso, fizemos respectivamente 11,7 km/l  e 12,3 km/l com a S10 de seis marchas. Ou seja: a adoção do câmbio de oito velocidades, bem como as modificações no motor foram um belo incremento para a picape, que ficou de 6 a 6,5% mais econômica.

Após 6069 km, média geral de 12,4 kml - E 13,1 kml na estrada, trecho Montevidéu-Rio

Foto de: Jason Vogel

Após 6069 km, média geral de 12,4 kml - E 13,1 kml na estrada, trecho Montevidéu-Rio

Apesar da idade do projeto, e da ausência de algumas tecnologias de assistência, ainda é muito prazeroso pegar a estrada com a S10, que oferece suavidade de marcha e um ótimo compromisso entre desempenho e economia.

A picape também passa uma impressão de robustez e tranquilidade na manutenção — em 6 mil quilômetros, não baixou uma gota de óleo, nem 1 psi na calibragem dos pneus.

Ah… lembra do carrinho de feira lá no começo do texto? Já deixou de ser item de luxo no Uruguai e, por isso, acabamos trazendo o nosso de volta ao Brasil. Coisa de quem não precisa se preocupar com excesso de bagagem.

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