Uma política mais feminina não é necessariamente mais feminista

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Uma das mensagens que o primeiro turno das eleições 2024 deixou é que ter mais mulheres na política não significa que ela será mais feminista.

No primeiro turno, realizado no domingo (6), 4 em cada 5 eleitas entre prefeitas e vereadoras são de centro ou de direita. Houve um aumento de 9% das prefeitas, com 717 mulheres eleitas nos 5.568 municípios do Brasil. Isso representa um aumento de 9% em relação ao primeiro turno de 2020.

No segundo turno, 13 cidades têm mulheres no pleito e em apenas uma delas, Campo Grande (MS), os eleitores vão escolher entre duas candidatas.

Mas o aumento de mulheres não significa o triunfo de pautas feministas. A maioria das candidatas a prefeituras está em partidos de direita e do centro, segundo o GPS Ideológico da Folha. Algumas são vozes da ultradireita, como Cristina Graeml (PMB), que concorre no segundo turno de Curitiba (PR).

"A temática LGBT, essa construção mental que fazem na cabeça das nossas crianças, dizendo que menino não é menino e que menina não é menina, em vez de ensinar o conteúdo programático previsto na base nacional comum curricular, vai acabar. A gente vai tirar isso da sala de aula", disse a candidata durante debate na RPC-TV na última quinta-feira (3). Ela faz parte do que o repórter especial Fabio Victor chamou de "Bolsonaristas 5G", os representantes ultraconectados da ala radical do espectro político.

Entre eles estão também os vereadores mais votados de São Paulo e de Belo Horizonte (MG), Lucas Pavanato (PL) e Pablo Almeida (PL), respectivamente. O primeiro é herdeiro político de Fernando Holiday, de quem foi assessor, e o segundo é apadrinhado do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).

Além de empilharem seguidores no TikTok e no Instagram, eles se elegeram com plataformas contrárias ao que se chama de "ideologia de gênero". Pavanato se considera um candidato "anti-woke" e se diz contra pessoas trans usarem banheiros que sejam de acordo com suas identidades de gênero. Almeida havia compartilhado a imagem de uma gestante com a inscrição: "Não é seu corpo. Não é a sua escolha."

As mulheres eleitas para a Câmara em São Paulo passaram de 13 para 20 cadeiras (36%), mais do que triplicando sua representação na Casa em relação a 12 anos atrás, mas ainda longe da sua proporção na cidade, de 53%. O partido com mais mulheres é o PSOL, de esquerda, com quatro. Agora, o PL de Pavanato, Almeida e Bolsonaro está empatado em número de eleitas.

Li por aqui

A única travesti eleita para a Câmara de São Paulo disse no domingo (6) que vai bater de frente com Lucas Pavanato (PL). Se Pavanato ocupa o lugar de herdeiro de Fernando Holiday, Amanda Paschoal (PSOL) é herdeira de Erika Hilton (PSOL), hoje deputada federal. Ela foi a quinta candidata mais bem votada do pleito, com mais de 108 mil votos.

Ainda no pleito de São Paulo, o mais acirrado desde a redemocratização, Tabata Amaral (PSB) declarou apoio a Guilherme Boulos (PSOL) e chamou Ricardo Nunes (MDB) de medíocre.

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A representatividade feminina anda a passos lentos no Brasil, mas anda. Na América Latina, temos exemplos em que as mulheres são metade do Parlamento, como o México, hoje liderado por Claudia Sheinbaum. Especialistas afirmam que reformas políticas, pressão social e uma Justiça Eleitoral rigorosa garantiram a mudança.

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