A União Europeia está considerando atingir as exportações de serviços dos EUA, incluindo as operações das grandes empresas de tecnologia, para retaliar contra Donald Trump, que impôs tarifas de 25% sobre a indústria automotiva e prometeu uma nova rodada de medidas na próxima semana.
Bruxelas já anunciou tarifas extras sobre até € 26 bilhões (R$ 161 bilhões) em bens dos EUA após Washington impor tarifas sobre aço e alumínio. Mas autoridades e diplomatas europeus disseram que a escala das ações da administração Trump exige que o bloco considere o uso de ferramentas comerciais mais poderosas.
O bloco tem amplos poderes para suspender direitos de propriedade intelectual e excluir empresas de contratos de compras públicas sob seu Regulamento de Execução, que foi fortalecido em 2021 após um conflito comercial com a primeira administração Trump.
"Os americanos pensam que são eles que têm o domínio da escalada [na guerra comercial], mas nós também temos a capacidade de fazer isso", disse um diplomata da UE, acrescentando que o objetivo final é reduzir a escalada com um acordo comercial abrangente.
Uma contraofensiva poderia incluir restrições à propriedade intelectual das grandes empresas de tecnologia. Outro exemplo seria proibir a rede de satélites Starlink, de Elon Musk, de vencer contratos governamentais. A Itália já está reconsiderando se adquirirá o sistema.
"Os serviços são onde os EUA são vulneráveis", afirma um segundo diplomata. Washington registrou um superávit comercial de € 109 bilhões (R$ 675 bilhões) com a UE em serviços em 2023, em comparação com um déficit de € 157 bilhões (R$ 973 bilhões) em bens.
Autoridades da UE acreditam que a administração Trump só estará disposta a negociar depois que os EUA erguerem uma barreira tarifária que demonstre sua seriedade em garantir melhores termos de parceiros comerciais que supostamente se aproveitaram de seu mercado aberto.
As autoridades europeias estão esperançosas de fazer progressos rápidos em um eventual acordo, mas reconhecem que mesmo isso não removeria todas as tarifas adicionais impostas por Trump.
"A visão é que temos que responder. É a única maneira de conseguir um acordo", disse um terceiro diplomata da UE. "Tentamos conversar."
Como as exportações da UE superam em muito suas importações, o bloco teria dificuldade em igualar as tarifas dos EUA sobre bens. Bruxelas também não quer interromper os suprimentos de gás dos EUA para o continente.
"Há um limite de importações de bens dos EUA que a UE pode atingir antes que isso danifique muito a economia", afirma David Henig, do think-tank European Centre for International Political Economy. "Se você não quer atingir a energia, há um limite para o que pode ser feito com bens. Já nos serviços, há mais espaço para retaliação sem tanto dano à economia."
Alguns especialistas dizem que, para infligir ainda mais dor econômica aos EUA, a Comissão Europeia precisaria usar seu ACI (instrumento anticoerção), apelidado de "bazuca comercial".
Essa ferramenta poderia restringir as atividades de bancos dos EUA, revogar patentes ou impedir empresas de receber receitas de atualizações de software ou streaming.
"Eu aconselharia a Comissão Europeia a usar o ACI", disse Ignacio García Bercero, ex-alto funcionário da comissão que liderou as negociações de um acordo comercial EUA-UE, o Transatlantic Trade and Investment Partnership, concluído sem acordo.
Folha Mercado
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Quaisquer medidas retaliatórias tomadas pela UE seriam elaboradas pela comissão, mas devem ser aprovadas por uma maioria qualificada dos estados-membros.
Os países da UE ainda estão negociando a lista de retaliação de bens elaborada em resposta às tarifas de Trump sobre aço e alumínio; a França pressionou para que o uísque bourbon fosse removido para evitar retaliações à sua própria indústria de bebidas.
A comissão adiou as medidas, que também abrangem jeans, motocicletas e possivelmente soja, até 12 de abril. Elas serão discutidas com líderes nacionais antes de um acordo final.
Diplomatas e autoridades disseram que há espaço para mais tarifas sobre bens em resposta a quaisquer tarifas "recíprocas" dos EUA que serão adotadas pela Casa Branca na próxima semana e que Bruxelas espera que sejam de cerca de 20%. Aeronaves, produtos químicos e farmacêuticos poderiam ser atingidos.