O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, alertou a União Europeia de que o bloco deve se comprometer a comprar petróleo e gás dos EUA "em grande escala" sob o risco de enfrentar tarifas, em seu primeiro ataque comercial contra Bruxelas desde sua vitória eleitoral.
A UE busca evitar uma guerra comercial com Trump e passou o último mês correndo para elaborar maneiras potenciais de evitar tarifas, aumentando as compras de produtos dos EUA, como GNL (gás natural liquefeito) e produtos agrícolas.
"Eu disse à União Europeia que eles devem compensar seu enorme déficit com os Estados Unidos pela compra em grande escala de nosso petróleo e gás. Caso contrário, serão TARIFAS o tempo todo!!!", postou Trump em sua plataforma Truth Social nesta sexta-feira (20).
A ameaça de Trump segue as propostas já feitas pelos europeus, sugerindo que os estados membros poderiam comprar mais GNL dos EUA, que tem sido um salva-vidas para o bloco após a Rússia restringir o fornecimento de combustíveis fósseis após a guerra com a Ucrânia.
Funcionários da UE também começaram a trabalhar temendo possíveis represálias comerciais, caso Trump decida impor tarifas, mas as capitais estão ansiosas para evitar um conflito econômico crescente com a Casa Branca, dado outras áreas de dependência dos EUA, como defesa.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse em novembro que a UE consideraria comprar mais gás dos EUA. "Ainda recebemos muito GNL da Rússia e por que não substituí-lo por GNL americano, que é mais barato para nós e reduz nossos preços de energia", disse após o resultado eleitoral nos EUA.
Um funcionário da UE afirmou que a ameaça de Trump "parece estranha" devido ao discurso de Von der Leyen.
Os EUA já são o maior fornecedor de GNL e petróleo para a UE. No primeiro semestre de 2024, o país forneceu cerca de 48% das importações de GNL do bloco, em comparação com 16% da Rússia, e 15% das importações de petróleo da UE no terceiro trimestre, de acordo com o Eurostat, a agência estatística da UE.
Trump ameaçou uma tarifa geral de até 20% sobre todas as importações dos EUA não chinesas. No mês passado, a presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, instou os líderes políticos da Europa a cooperarem com ela para evitar tarifas e comprarem mais produtos fabricados nos EUA.
Analistas de energia disseram que os EUA precisariam expandir a produção de GNL para fornecer mais à UE.
"O principal problema é que os EUA não têm capacidade de GNL disponível para enviar para a Europa no momento", disse Florence Schmit, estrategista de energia do Rabobank, acrescentando que os países europeus teriam que superar os compradores asiáticos.
Durante a primeira presidência de Trump, o então presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ofereceu-se para comprar mais gás dos EUA para conter as ameaças de uma guerra comercial.
Analistas do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas, disseram que a UE deveria apoiar qualquer oferta de compra de mais produtos dos EUA "com uma ameaça verídica de retaliação que poderia ser implementada se os EUA decidirem impor tarifas sobre as exportações da UE".
Os preços do petróleo Brent, referência internacional, caíram 0,4% para US$ 72,61 (R$ 444,69) por barril na sexta-feira. Os futuros do WTI (West Texas Intermediate) desvalorizaram 0,4% para US$ 69,14 (R$ 423,43) por barril.
O aviso de Trump ocorre em meio a uma corrida de alto risco em Washington para garantir o financiamento contínuo do governo dos EUA. Um possível fechamento pode ocorrer na sexta-feira, caso não seja aprovado o plano de orçamento até as 23h59.
Folha Mercado
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