Toyota mais vendido não é um Corolla e chega a custar quase R$ 350 mil

há 2 meses 5

Por que isso ocorre? A "culpa" é da Hilux, mas é também dos demais modelos da linha Toyota. Adiante, vou explicar esses dois pontos. Antes, confira as vendas dos produtos da marca em 2025.

Hilux na frente

De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a Toyota vendeu 50.010 unidades da Hilux em 2025. O segundo colocado ficou próximo. Trata-se do Corolla Cross, com 47.796 emplacamentos.

O SUV médio tem preços entre R$ 170.690 e R$ 215.290, que são extremamente competitivos para o segmento em que atua (concorrendo com Compass, Taos, Song Pro, Song Plus e Haval H6 HEV, entre outros). Em seguida, aparece o sedã Corolla. Foram 37.668 unidades emplacadas (custa entre R$ 158.490 e R$ 199.990).

Só então aparecem os modelos mais baratos da Toyota, que são os da linha Yaris. De R$ 108.890 a R$ 128.990, o hatch registrou em 2024 25.964 emplacamentos. O sedã teve 21.934 exemplares vendidos. Custa de R$ 108.890 a R$ 133.790.

Embora ainda estejam listados no site da Toyota, as versões hatch e sedã do Yaris estão saindo de linha. Vão dar lugar, na fábrica de Sorocoba, ao SUV compacto Yaris Cross, que chega este ano e será híbrido. A ausência da marca japonesa nesse segmento, aliás, é uma das coisas que explicam a Hilux ser o produto mais vendido.

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Yaris: o momento foi errado

Quando foram lançados Yaris e Yaris Sedan, com visual e interior muito mais atraentes que os do polêmico Etios (já fora de linha), havia expectativa. Afinal, os fãs da Toyota teriam um produto mais acessível e poderiam, finalmente, realizar o sonho de começar uma história com a marca.

Só que o Etios já tinha queimado um pouco o filme da Toyota nesse segmento, pois era um produto muito abaixo do padrão Toyota. Ainda assim, aos poucos o Yaris foi ganhando a confiança do consumidor. E, como ocorre com outros carros da montadora, quem tem quer continuar tendo. A fidelização é alta em todos os segmentos.

Só que o Yaris, lançado em 2018, veio na hora errada. Isso porque nunca foi um carro de entrada, com direito a versão 1.0 aspirada. E, naquele momento, parte dos clientes de hatches e sedãs compactos de maior valor agregado já haviam se tornado consumidores de SUVs - inclusive, com cada vez mais opções no mercado.

Só que a Toyota não tinha, e ainda não tem, SUV compacto. Então, quem realmente queria um carro muito da marca aderiu aos Yaris. O produto, no entanto, nunca teve potencial para ser um líder dentro da gama.

O Yaris Cross terá? Não há dúvidas. O segmento de SUVs compactos é o mais importante do Brasil, além de o maior em número de produtos. E, das dez principais montadoras, a única a não ter um representante na categoria é a Toyota.

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Com a chegada do Yaris Cross, as chances de ele superar a Hilux como carro-chefe são boas. Garantidas? Não. Como introduzido no início, a "culpa" não é só da gama Toyota. É também da picape.

Gama Toyota

Antes de falarmos da Hilux, vamos pensar na gama Toyota. Os sedãs já eram. Médios? Esqueça! O Corolla é o único que ainda consegue se manter relevante. Ainda assim, ano a ano vem perdendo vendas.

E quanto aos sedãs compactos? Eles têm mais espaço, mas também perdem participação. Em 2024, por exemplo, não houve nenhum na lista dos dez carros mais vendidos do Brasil - até 2023, o Onix Plus integrava esse grupo.

Chegamos, então, ao Corolla Cross. O segmento de SUVs médios é extremamente relevante. Junto com hatches e SUVs compactos e picapes, atrai a atenção do consumidor e os investimentos das montadoras. Quem ainda não tem representante relevante na categoria planeja ter.

E o Corolla Cross fez bonito em 2024. Cresceu 13,6% e, por pouco, não ultrapassa o líder do segmento, Compass. Ficou também a poucas unidades de ser o Toyota mais vendido, posição que seria mais natural para este produto do que para a Hilux. Seria mesmo?

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Fator Hilux

SUVs médios como Corolla Cross venderem mais que picapes feitas sobre chassi, como a Hilux, é regra no Brasil? Na verdade, é difícil medir. A Ranger tem emplacamentos muito superiores às de Territory (mais barato que todas as versões da picape) e Bronco Sport (custa menos que a maioria das opções).

A S10 também vende mais que o Equinox. Porém, no caso desses três SUVs, são produtos trazidos de países fora do Mercosul (México, EUA e China). Por isso, independentemente do preço, naturalmente são carros de volume bastante limitado para o Brasil - algo que não ocorre com as picapes argentinas (Hilux, Ranger, Amarok e Frontier), nacionais (S10 e L200) e a por enquanto uruguaia Titano.

Quando olhamos para o único caso que dá para comparar com Corolla Cross x Hilux, vemos uma vitória folgada do SUV médio argentino Taos (17.569 unidades vendidas em 2024) sobre a Amarok (7.328 exemplares no mesmo período).

Embora a comparação acima não defina nenhum padrão, mostra que os SUVs médios têm potencial para fazer mais sucesso que picapes sobre chassi. Mas sabe o que acontece? Hilux é Hilux. A chegada da Ranger, em 2023, deixou claro que o produto da Toyota está extremamente defasado.

A expectativa era de que a Hilux perdesse mercado. Isso não ocorreu em 2023, apesar de a Toyota ter precisado fazer ajustes na linha, privilegiando as versões mais simples (já que as de topo sofriam mais com a concorrência da Ford). Em 2024, a Hilux cresceu 8,24%.

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Além disso, quando somamos as vendas de Ranger e S10, respectivamente segunda e terceira colocadas da categoria no ano passado, temos 59.262 unidades. Ou seja, menos de 10 mil exemplares a mais que o resultado individual da Hilux. Isso reforça a vantagem do produto da Toyota.

No segmento de picapes médias feitas sobre chassi, há um conservadorismo maior que em outras categorias. Além de terem alto valor agregado, é muito comum esses produtos serem usados para o trabalho. Assim, o proprietário fica apavorado com a possibilidade de ser deixado na mão por problemas com o veículo.

O fator que faz tantos clientes serem fiéis à Toyota é a confiabilidade. No segmento de picapes, isso vale ainda mais. A maioria das pessoas que tem Hilux pode até ter vontade de sair. Mas falta coragem, mesmo com o fato de o produto estar defasado. A próxima geração está prevista para 2026.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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