Toyota Century Royal: os incríveis detalhes da carruagem imperial do Japão

há 2 dias 3

Quem curte automóveis e acompanhou pelo noticiário a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, ao longo desta semana, deve ter ficado curioso ao ver o carro que levou o chefe de estado brasileiro aos encontros com o imperador Naruhito, além de outros compromissos: uma limusine negra, de linhas clássicas, teto alto e grande área envidraçada.

Trata-se do Century Royal, um dos carros mais exclusivos do mundo. Mesmo que você fosse mais rico que Elon Musk, não poderia encomendar um carro desses à Toyota, pois o modelo nunca esteve — e nunca estará — disponível para compra pelo público.

Apresentado em 2006, o Century Royal teve apenas quatro unidades construídas desde então. Todas foram produzidas exclusivamente para uso da família imperial japonesa ou para eventos diplomáticos de alto nível. O status desse carro está em um patamar acima de qualquer sedã de luxo tradicional.

Um dos exemplares é utilizado pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako, enquanto os demais são reservados para ocasiões especiais, como recepções a monarcas e presidentes. Como o imperador só recebe um chefe de Estado por ano (ou nem isso, já que o último havia sido Donald Trump, em 2019), pode-se imaginar o quão raro é algum "gaijin" (estrangeiro) estar a bordo do Century Royal. Mas, tentaremos descrever aqui um pouco das características do modelo.

Daimler 57HP (1912) - o primeiro automóvel na garagem imperial japonesa

Foto de: Jason Vogel

Daimler 57HP (1912) - o primeiro automóvel na garagem imperial japonesa

Um pouco de história

Os veículos utilizados pelo imperador do Japão e sua família para deslocamentos oficiais ou privados são chamados de “Goryô-sha”, que significa carruagem imperial. Hoje, o termo abrange principalmente automóveis, mas já incluiu outros meios de transporte, como carruagens a cavalo e vagões de trem.

O primeiro automóvel imperial foi uma limusine Daimler 57HP de fabricação britânica, que chegou ao Japão em 1913 para servir ao imperador Yoshihito (1879-1926), postumamente chamado de Taisho. Em ocasiões solenes, contudo, o transporte oficial ainda era feito por carruagens puxadas por cavalos.

Essa tradição foi abalada pelo grande terremoto de Kantô, em 1923, que devastou a cocheira imperial, matando animais e destruindo as principais carruagens. A partir daí, os automóveis passaram a ser utilizados com maior frequência.

A limusine Mercedes de Hirohito hoje está no museu da marca, em Stuttgart

Foto de: Jason Vogel

A limusine Mercedes de Hirohito hoje está no museu da marca, em Stuttgart

Hirohito (1901-1989), o filho primogênito de Taisho, iniciou seu reinado em 1926. Seu automóvel mais famoso foi uma limusine Mercedes-Benz 770 Pullman 1935 blindada, vermelha com o teto preto, que atravessou todo o período da Segunda Guerra Mundial e continuou a ser utilizada em plena década de 50, em viagens por todo o Japão. Hoje, esse carro pode ser visto no museu da Mercedes, em Stuttgart. Em seu reinado de 62 anos — o mais longo de qualquer imperador japonês — Hirohito usou ainda algumas limusines Rolls-Royce e Cadillac.

Nissan Prince Royal, o primeiro japonês

Chegamos aos anos 60, quando a indústria automobilística japonesa evoluía a passos largos. Era chegado o momento de o imperador valorizar os carros de produção local. A associação dos fabricantes recomendou que fosse um modelo da Prince Motor Company — uma tradicional marca que havia acabado de ser incorporada pela Nissan.

Nissan Prince Royal - primeiro carro imperial feito no Japão ficou 40 anos em serviço

Foto de: Jason Vogel

Nissan Prince Royal - primeiro carro imperial feito no Japão ficou 40 anos em serviço

Assim nasceu o Nissan Prince Royal, o primeiro modelo feito exclusivamente para a Casa Imperial do Japão. Com 6,15 m de comprimento, motor V8 de 6,4 litros e 260 cv e câmbio automático, essas limusines tiveram apenas cinco unidades produzidas, todas entre 1966 e 1967. O imperador Hirohito morreu em 1989, seu filho Akihito assumiu o trono e as limusines Nissan Prince Royal continuaram em uso, bem como um sedã Nissan President 1989, carro oficial para ocasiões menos formais.

As Prince Royal já estavam com 40 anos de serviço, quando a Casa Imperial decidiu substituí-las. E, desta vez, a encomenda do novo modelo foi feita à Toyota.

A família imperial também dispõe de alguns Century normais (1)

Foto de: Jason Vogel

A família imperial também dispõe de alguns Century normais (1)

A carruagem nova do imperador

O ponto de partida do projeto para um novo carro imperial foi o Toyota Century, uma espécie de Rolls-Royce japonês. Fabricado desde 1967 somente para o mercado local, o enorme e luxuoso sedã teve apenas três gerações ao longo de todos esses anos — sempre mantendo um motorzão dianteiro (V8 ou V12, dependendo da geração) e tração traseira. Mais recentemente, foi criado um SUV Century para o mercado chinês, mas essa já é outra história.

Mesmo os Century “normais”, digamos assim, são construídos artesanalmente numa fábrica silenciosa e sem robôs, na cidade de Susono-shi, a 120 km de Tóquio. Mas era preciso fazer algo ainda mais majestoso (literalmente) para o imperador: o Century Royal.

O motor V12 com câmbio automático

Foto de: Jason Vogel

O motor V12 com câmbio automático

A mecânica é exatamente a mesma do Century “normal” de segunda geração: motor V12 aspirado de 5 litros e 48 válvulas, atrelado a um câmbio automático de seis marchas. Sua injeção eletrônica é controlada por dois módulos — um para cada bancada de seis cilindros. Caso um dos lados sofra uma pane, o outro continua funcionando. São 280 cv de potência e 49 kgfm de torque, mas o principal é seu funcionamento suave e extremamente balanceado. Além disso, o isolamento acústico da cabine leva reforço extra.

Esse V12 (família GZ) foi aplicado exclusivamente na linha Century, entre 1997 e 2017. Desde então, está fora de produção, já que a terceira geração do sedã traz um V8 com sistema híbrido, do Lexus LS 600.

As maiores transformações do Royal estão em suas dimensões. O entre-eixos do Century convencional foi esticado em 50 cm, chegando a 3,51 m. Já o comprimento total passou de 5,27 m para 6,15 m. A carroceria é 30 cm mais alta, com grandes janelas, para que o casal imperial possa ser visto pelos súditos. Outra característica exclusiva do Royal são suas portas traseiras do tipo suicida, que se abrem da frente para trás, facilitando a entrada e saída dos passageiros. Com tudo isso, e mais a blindagem, seu peso chega bem perto de 3 toneladas.

Deve haver espaço suficiente para levar os monarcas com roupas cerimoniais

Foto de: Jason Vogel

Deve haver espaço suficiente para levar os monarcas com roupas cerimoniais

Tronos reclináveis e muito espaço

O vasto espaço interno foi pensado para que se possa entrar com vestimenta cerimonial completa — o que pode incluir largos quimonos e chapéu. O banco traseiro é formado por duas poltronas (ou seriam tronos?) reclináveis. Há ainda assentos dobráveis que, eventualmente, podem aumentar a capacidade do carro para oito pessoas, mas duvidamos que tanta gente já tenha embarcado simultaneamente.

A atmosfera aconchegante do interior é proporcionada pelos revestimentos de couro e lã em tom creme clarinho, complementados por elegantes apliques de madeira de alta qualidade. O toque de reverência às tradições do Japão está em detalhes com acabamento de tecido Nishijin (usado em quimonos) e de washi (um papel japonês tradicional feito da casca das amoreiras).

Century Royal Imperial-1, com o imperador a bordo

Foto de: Jason Vogel

Century Royal Imperial-1, com o imperador a bordo

As janelas são enormes, mas dispõem de cortinas para a eventual privacidade dos ocupantes. Existe ainda uma divisória de vidro que pode ser levantada atrás dos assentos dianteiros.

As portas traseiras trazem o emblema do crisântemo de 16 pétalas, símbolo da família imperial. Quando o Imperador está a bordo, o carro leva o estandarte imperial do Japão em um mastro montado no topo da grade do radiador. Já o Century Royal cedido a Lula recebeu a bandeira brasileira.

A placa do crisântemo e o escudo Imperial com o número de cada Century

Foto de: Jason Vogel

A placa do crisântemo e o escudo Imperial com o número de cada Century

Carro tem um porta espada

Na limusine de uso exclusivo do imperador, há ainda um compartimento para guardar a espada Kusanagi-no-Tsurugi e o colar com contas de pedra Yasakani-no-Magatama, dois dos três tesouros do império japonês. Devido ao seu caráter considerado divino, não é permitido que se tirem fotos dessas relíquias, consideradas insígnias sagradas do império japonês e vistas em raras ocasiões, como cerimônias de entronização.

No lugar das placas, os quatro Century Royal recebem emblemas dourados do crisântemo. Na base da grade, vai o escudo que identifica cada carro - é banhado com prata, trazendo em dourado o caractere 皇 ("Imperial") acima de um algarismo.

Como já dissemos, há apenas quatro Century Royal. "Imperial 1” é a principal limusine do imperador, frequentemente utilizada em viagens oficiais e aparições importantes, como a abertura anual da Dieta (o parlamento japonês) e a cerimônia do Dia da Memória dos Mortos de Guerra. Esse carro anda escoltado por motos Honda Gold Wing com sidecar.

O Century Royal Imperial-2 é um carro fúnebre

Foto de: Jason Vogel

O Century Royal Imperial-2 é um carro fúnebre

O "Imperial 2” é um Century Royal com carroceria diferente: é chamado de “carro leito” ou “ambulância”, mas estes são apenas eufemismos para carro fúnebre! O "Imperial 3”, que levou Lula, e o "Imperial 5” completam o quarteto dos Century Royal, servindo para transportar altas autoridades estrangeiras.

Sentiu falta do "Imperial 4”? Saiba que, no Japão, o número 4 é considerado de mau agouro. Há duas formas de se dizer quatro em japonês: “yon” ou “shi”. E “shi” também soa como “morte”. Melhor não arriscar…

O Century conversível é o Imperial-10 (1) (1)

Foto de: Jason Vogel

O Century conversível é o Imperial-10 (1) (1)

Há ainda algumas placas imperiais usadas em sedãs Century com carroceria normal, além de um Century conversível identificado como "Imperial 10”, para desfiles cerimoniais. Atualmente, o escudo mais alto da série é o "Imperial 14”.

O atual imperador emérito Akihito, que renunciou em 2019 deixando o trono (e o Century Royal) para seu primogênito Naruhito, ainda tem direito a usar um dos carros da frota.

O Fusca do príncipe Fumihito levou o imperador Akihito em 1989 (3)

Foto de: Jason Vogel

O Fusca do príncipe Fumihito levou o imperador Akihito em 1989 (3)

Por fim, uma curiosidade: entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, o príncipe Fumihito, irmão caçula do atual imperador Naruhito, andava por Tóquio ao volante de um Fusquinha amarelo tunado com rodas esportivas e frente de Ford 1940. Seu pai, Akihito, chegou a assumir a direção do Volkswagen em uma voltinha nas dependências do palácio. Foi, certamente, a mais inusitada de todas as carruagens imperiais japonesas.

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