Um teste genético desenvolvido pela Onkos Diagnósticos Moleculares, liderado pelo cientista Marcos Tadeu dos Santos, evitou o gasto de R$ 7 milhões na saúde suplementar ao longo de cerca de seis anos. A tecnologia, que utiliza inteligência artificial para identificar tumores na tireoide, foi premiada na 14ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, em 2023.
Promovido pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) em parceria com o Grupo Folha, o prêmio foi criado em 2020 e homenageia Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de 1962 a 2007, ano da sua morte.
Neste ano, as inscrições para a 16ª edição do prêmio estão abertas até 16 de maio no site Prêmio Octavio Frias, onde também estão disponíveis informações sobre regras de participação. A láurea tem como objetivo incentivar e premiar a produção de conhecimento nacional na prevenção e no combate ao câncer.
De acordo com a Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), 60% dos brasileiros vão identificar um nódulo na tireoide em algum momento da vida. Desses, segundo a Onkos, até 30% são classificados como indeterminados, ou seja, não é possível ter certeza se são benignos ou malignos. Por precaução, o procedimento padrão é a cirurgia.
No entanto, o estudo sobre a eficácia do teste para identificar tumores na tireoide publicado no The Lancet Discovery Science analisou 435 pacientes com resultado indeterminado e mostrou que apenas 25% dos casos eram malignos (cancerígenos), o que significa que 75% das cirurgias são potencialmente desnecessárias.
Com a tecnologia premiada em 2023, mas já disponível no mercado desde 2018, foram evitadas mais de 4.000 cirurgias nos hospitais privados atendidos pelo laboratório, o que gerou uma economia de R$ 7 milhões ao sistema de saúde privada.
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A redução de custos acontece porque o preço médio de uma cirurgia de tireoide na saúde suplementar é de R$ 14.230, mas o exame da Onkos, chamado de mir-THYpe full, custa R$ 4.920.
"O teste utiliza a mesma amostra da biópsia que resultou em diagnóstico indeterminado. O material é enviado por hospitais parceiros ao nosso laboratório em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, para análise", explica Marcos Tadeu Santos, biólogo e fundador da Onkos.
A tecnologia utiliza inteligência artificial para analisar o perfil do nódulo em um banco de dados do laboratório, que reúne casos benignos e malignos. Com essa comparação, o sistema identifica a semelhança do nódulo com um câncer, chegando ao resultado de diagnóstico positivo ao negativo para o tumor.
A expectativa de Santos é submeter ainda neste ano um pedido à Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) para que o teste seja utilizado no SUS (Sistema Único de Saúde).
Outra pesquisa, premiada pelo Icesp em 2021, avaliou o impacto do exercício físico no combate ao câncer. Embora reconhecido na cardiologia e em outras áreas como complemento ao tratamento farmacológico, a atividade física na oncologia ainda está em estágios iniciais, segundo Patrícia Chakur Brum, professora da USP (Universidade de São Paulo) e líder do estudo vencedor.
A caquexia, condição que provoca intensa perda muscular, agrava quadros de câncer. Brum e colegas mostraram, em roedores, que o exercício é capaz de aumentar a sobrevida e que uma das alavancas moleculares que explicam o efeito é a proteína COPS2.
Após o estudo premiado, a pesquisadora publicou um novo estudo sobre o mesmo tema no European Journal of Clinical Investigation, em 2024. Neste, feito em humanos, ela investigou se o desempenho físico e os níveis de substâncias no sangue poderiam ajudar a prever o câncer de pulmão metastático (que se espalhou para outras partes do corpo) de células não pequenas.
Os pesquisadores descobriram que pacientes com melhor desempenho físico, como melhor mobilidade e capacidade de exercício, tendiam a ter uma maior chance de sobrevivência após o diagnóstico de câncer.
O estudo foi realizado com um grupo de 55 pacientes que tinham câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) metastático. Além disso, também foram investigadas sete pessoas saudáveis, com idade semelhante à dos pacientes, para comparar os resultados entre os dois grupos.
Sobre a premiação, Brum diz que o trabalho levanta o alerta para que o profissional da saúde e os pacientes reconheçam a importância do exercício físico como uma forma de tratamento e prevenção do câncer.
"Foi a primeira vez que a pesquisa em oncologia premiou um trabalho que envolvesse um tratamento complementar, e não uma imunoterapia, quimioterapia ou outras, mostrando a importância do exercício físico e do seu potencial."
No ano passado, venceram Renata Nacasaki Silvestre, 34, e Virgínia Picanço e Castro, 48, do Hemocentro de Ribeirão Preto da USP. Elas trabalharam com células do sistema imune, chamadas de NK (natural killers).
Essas células atacam as tumorais naturalmente, mas a ideia das pesquisadoras foi potencializar o efeito por meio de uma modificação genética com um receptor artificial construído no Hemocentro de Ribeirão Preto. O grupo detectou nas células com modificação genética um efeito antitumoral superior ao verificado nas células sem modificação.
Para Castro, a terapia Car-NK pode atender vários pacientes, sendo mais acessível quando comparada com a Car-T, que utiliza células do próprio paciente e ainda é um tratamento inovador e não é amplamente utilizado.
Segundo a pesquisadora, a ideia é levar a pesquisa para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda neste ano para que seja autorizado o início dos testes em humanos.
"Essa parte de transição é uma parte que parece simples, mas é uma das partes mais complicadas. É você adaptar tudo que você fez em pesquisa básica molecular para uma pesquisa clínica", explica.
"O prêmio nos ajudou muito. Acho que a visibilidade é sempre super bem-vinda, até porque a gente vem sempre buscando fomento para conseguir caminhar com as pesquisas. E o prêmio em si a gente passou para os alunos, para que os alunos pudessem ir para conferências, para eles fazerem cursos", comenta.