O asteroide 2024 YR4, que por alguns dias em fevereiro apresentou o maior risco já calculado pelos astrônomos de um objeto potencialmente devastador colidir com a Terra, deve passar ao largo do nosso planeta. Contudo, ainda há um risco considerável de que ele bata com a nossa vizinha, a Lua —e isso também pode ser problema para nós.
O bólido tem sido observado consistentemente pelos astrônomos, com telescópios em solo e equipamentos espaciais. O grande destaque vai para o Telescópio Espacial James Webb, que recebeu tempo discricionário da direção do projeto para monitorar o objeto —o menor astro celeste para o qual o equipamento já foi apontado.
O resultado, baseado em radiação infravermelha, traz as mais precisas estimativas do tamanho real dele. Originalmente, o tamanho era estimado entre 40 e 90 metros, baseado no brilho em luz visível. Agora sabemos que ele tem cerca de 60 metros, com variação de mais ou menos sete.
As observações feitas em 8 e 26 de março, embora sejam pouco mais que um ponto brilhante mesmo ao mais potente telescópio, também permitiram inferir sua forma básica, que é alongada, mais no estilo típico de asteroides mesmo. Segue valendo a desconfiança de que é um asteroide do tipo S, predominante em silicatos, provavelmente originado no cinturão que reside entre Marte e Júpiter, mas novas observações são necessárias para confirmar sua composição. Seu período de rotação foi determinado em pouco menos de 20 minutos.
A órbita do asteroide foi igualmente refinada, o que fez o risco de um encontro entre ele e a Terra no dia 22 de dezembro de 2032 cair de 3% para menos de 0,001% (é o que a gente popularmente chama de zero). Contudo, uma colisão com a Lua ainda é uma possibilidade. Segundo astrônomos da Universidade de Helsinki, que vêm monitorando o objeto com o NOT (sigla para Telescópio Óptico Nórdico), instalado em La Palma, Espanha, o atual risco de uma colisão com a Lua é de cerca de 4%, uma chance em 25.
Ainda é um valor relativamente baixo, e o Webb deve voltar a observar o objeto em maio (quando o astro pode ser mais uma vez acessível a ele, sem o risco de precisar apontar o telescópio na direção do Sol), para refinar ainda mais a órbita e confirmar ou refutar um impacto com a Lua.
Contudo, caso essa pancada realmente aconteça, ela pode significar problemas para nós. Um impacto dessa magnitude na superfície lunar vai levantar uma grande quantidade de detritos na região do sistema Terra-Lua. Além de incrementar a frequência de estrelas cadentes (o que pode até ser visto como boa e inofensiva notícia pelos amantes da observação do céu), nossos satélites em órbita podem ter de enfrentar microcolisões capazes de danificá-los (o que certamente é má notícia). Ainda assim, lembremos: a probabilidade de que nada aconteça ainda é bem maior que a de um impacto. Veremos em maio.
Os mais novos resultados obtidos pelo Telescópio Espacial James Webb, em trabalho liderado por Andy Rivkin, do APL (Laboratório de Física Aplicada) da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram publicados nos Research Notes da AAS (Sociedade Astronômica Americana).