O mesmo ocorre quando se anualiza o crescimento do primeiro semestre. No período a economia cresceu 2,5%. Caso esse ritmo de crescimento fosse mantido no segundo semestre, o ano fecharia com evolução de 5%, bem mais do que os 3% projetados.
São variadas as indicações de uma desaceleração — não queda no crescimento, mas expansão em ritmo mais lento —, nos dois trimestres restantes de 2024. As condições para o consumo das famílias, e mesmo dos investimentos, não resta dúvida, se apresentam menos favoráveis no segundo semestre do que no primeiro.
Os recursos públicos despejados na economia, quase consenso de terem sido os principais impulsionadores do crescimento observado, concentraram-se no primeiro semestre — como, alías, é tradicional na economia brasileira. Além dos recursos transferidos aos beneficiários de programas sociais, turbinados nestes terceiro mandato de Lula, a atividade foi movimentada pelo pagamento de precatórios, antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e o aumento real do salários mínimo. Também a retomada do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com obras financiadas por dinheiro público contribuiu para o ritmo mais forte do crescimento.
Boa parte desses recursos não voltarão a irrigar a economia, no restante de 2024. Mesmo o efeito multiplicador do salário mínimo acima da inflação tende a se diluir no tempo, com concentração nos primeiros meses de sua aplicação. Quando ao 13º salário do INSS, o efeito será negativo, uma vez que a antecipação do pagamento "roubou" a injeção que irrigava a atividade no fim do ano. Sem falar na pressão sobre a política fiscal, com vistas a exigir cortes, pode-se imafinar que não sobram muitos espaços para ampliação de despesas pelo governo.
Do lado do crédito, que também contribuiu, no primeiro semestre, para impulsionar o consumo, principalmente de bens duráveis, o ambiente, neste segundo semestre, é menos favorável. Para começar, nos primeiros seis meses do ano, as concessões de crédito foram beneficiadas pelos sucessivos cortes nos juros básicos, de 13,75%, em junho de 2023, a 10,5%, em maio deste ano.
A redução importante de 3,25%, no período, produziu efeitos positivos com mais intensidade justamente no primeiro semestre de 2024, obedecendo às defasagens no tempo conhecidas da aplicação da política monetária. Com a taxa básica estacionada em 10,5% e com chances de elevação, não resta dúvida de que serão menores os estímulos creditícios daqui para frente.