A China surpreendeu ao anunciar nesta quarta-feira (16) um novo negociador comercial, fundamental em qualquer conversa para resolver a escalada da guerra tarifária com os Estados Unidos.
Li Chenggang, 58 anos, ex-ministro assistente de Comércio durante o primeiro governo do presidente dos EUA, Donald Trump, assume o lugar de Wang Shouwen, informou o Ministério de Recursos Humanos e Previdência Social em um comunicado.
Não ficou claro se Wang, 59, que assumiu o cargo de número 2 no Ministério do Comércio em 2022, terá outro cargo no governo. Seu nome não estava mais na equipe de liderança do ministério nesta quarta-feira, de acordo com o site da pasta.
O ministério não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters sobre a mudança, que não foi explicada no comunicado do Ministério de Recursos Humanos.
Wang era considerado um negociador duro e havia entrado em conflito com autoridades norte-americanas em reuniões anteriores, disse uma fonte da comunidade empresarial estrangeira de Pequim.
"Ele é um buldogue, muito intenso", disse a fonte, que não quis se identificar.
A mudança na alta liderança do Ministério do Comércio ocorre no momento em que Pequim adota uma postura de linha dura em uma guerra comercial cada vez mais acirrada com Washington, desencadeada pelas altas tarifas impostas por Trump sobre itens importados da China.
A mudança abrupta também ocorreu no meio da viagem do presidente Xi Jinping ao Sudeste Asiático para consolidar os laços econômicos e comerciais com vizinhos próximos em meio ao impasse com os EUA.
O ministro do Comércio, Wang Wentao, está entre as autoridades que acompanham Xi em sua visita ao Vietnã, Malásia e Camboja nesta semana.
Alfredo Montufar-Helu, consultor sênior do Conference Board's China Center, disse que a mudança foi "muito abrupta e potencialmente perturbadora", dada a rapidez com que as tensões comerciais aumentaram e à luz da experiência de Wang em negociações com os EUA desde o primeiro governo Trump.
"Podemos apenas especular por que isso aconteceu nesse exato momento, mas pode ser que, na visão da alta liderança da China, dada a escalada contínua das tensões, eles precisem de outra pessoa para romper o impasse em que os dois países se encontram e finalmente começar a negociar", avaliou Montufar-Helu.
Ao contrário de vários outros países que responderam aos planos de Trump de tarifas buscando acordos bilaterais com Washington, Pequim aumentou suas próprias taxas sobre os produtos norte-americanos em resposta e não buscou conversas, que, segundo a China, só podem ser conduzidas com base no respeito mútuo e na igualdade.
Washington disse na terça-feira (15) que Trump está aberto a fazer um acordo comercial com a China, mas que Pequim deveria dar o primeiro passo, insistindo que a China precisava do "nosso dinheiro".
Folha Mercado
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Por sua vez, o governo chinês voltou a reafirmar a posição que "não tem medo de lutar" nesta guerra comercial. "Se os Estados Unidos realmente querem resolver o assunto por meio do diálogo e da negociação, devem parar de exercer pressão extrema, parar de ameaçar e chantagear, e conversar com a China com base na igualdade, respeito e benefício mútuo", insistiu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian.
"Não há vencedores em uma guerra tarifária ou em uma guerra comercial. A China não deseja lutar, mas não tem medo de lutar", acrescentou Jian.