Um grupo de servidores afirma ser alvo de retaliação e assédio moral dentro do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), presidido pelo economista Marcio Pochmann desde agosto de 2023.
Os relatos estão em carta assinada por 11 técnicos de duas gerências da instituição, a Gecoi (Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais) e a Gedi (Gerência de Editoração). O texto circula nos bastidores ao menos desde a noite de quarta-feira (26).
No documento, os servidores afirmam que a coordenação-geral do CDDI (Centro de Documentação e Disseminação de Informações) decidiu pela mudança da Gecoi e da Gedi para um complexo do IBGE em Parada de Lucas, zona norte do Rio de Janeiro, sob o "insólito argumento" de que precisariam ficar junto aos serviços gráficos concentrados no local.
A unidade de Parada de Lucas é vizinha de áreas de forte atuação do crime organizado, incluindo o chamado Complexo de Israel. A mudança abrangeria 12 servidores efetivos.
O projeto, aponta o documento, vem após membros da Gecoi e da Gedi questionarem medidas adotadas pela gestão Pochmann.
Uma dessas ações ocorreu em janeiro, quando os servidores afirmaram que uma publicação do órgão continha propaganda política do governo de Pernambuco –o que iria contra as diretrizes do IBGE.
A Gecoi é responsável pelas atividades de documentação de trabalhos do instituto, enquanto a Gedi responde pelas funções de editoração.
Segundo a carta dos servidores, as duas trabalham em um endereço na região do Maracanã, também na zona norte do Rio, desde a década de 1990, quando da criação do CDDI.
"Considerando o personalismo instaurado no IBGE e que já motivou, inclusive, pedidos de exoneração dos titulares da Diretoria de Pesquisas e da Diretoria de Geociências e de seus respectivos substitutos, concluímos que ambas as unidades [Gecoi e Gedi] se tornaram objetos de retaliação e assédio moral", afirma a carta.
Folha Mercado
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A Folha pediu posicionamento para a direção do instituto na manhã desta quinta, via assessoria de imprensa, por email e mensagens, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
O IBGE vive uma crise interna que explodiu em setembro do ano passado. Desde então, a presidência vem priorizando manifestações no site do órgão.
Em mais de uma ocasião, o comando do instituto rebateu as acusações de autoritarismo que haviam sido feitas por trabalhadores. Em janeiro, chegou a afirmar que era alvo de "mentiras".
À época, Pochmann também disse em um evento que o IBGE passava por uma "transformação importante, nem sempre bem compreendida".
Conforme a carta que circula entre os servidores, os funcionários vinculados ao CDDI lotados no complexo de Parada de Lucas atuam, essencialmente, como profissionais gráficos. Já os trabalhadores das gerências afetadas pela mudança estariam associados a tarefas digitais.
"Apesar de sua reconhecida expertise na área, nunca compartilhamos procedimentos que justificassem ou exigissem a proximidade física da Gecoi e da Gedi com os serviços gráficos para a consecução de quaisquer agendas", diz o documento.
"Dessa forma, não faz sentido que essa logística seja cogitada, agora, sobretudo quando se leva em conta que o complexo de Parada de Lucas estava prestes a ser desativado pelo IBGE, em virtude da crescente violência nas comunidades de Parada de Lucas, Vigário Geral, entre outras do entorno, justamente pelos riscos sofridos pelos servidores ali remanescentes", acrescenta o texto.
Em junho do ano passado, o instituto anunciou a instalação de sua agência de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense, na unidade de Parada de Lucas.
"Esse espaço é simbólico, pois, no passado, abrigou a maior gráfica da América Latina, e abrigar agora diferentes agências aqui nos permite reduzir os gastos do IBGE com aluguéis, o que resulta em mais recursos para fazermos melhor nosso trabalho", disse Pochmann à época, segundo nota divulgada pelo órgão.