A Royal Society do Reino Unido não tomará nenhuma ação disciplinar contra Elon Musk, um dos seus membros, em razão de reclamações sobre a conduta dele. Na avaliação da academia nacional de ciências, julgamentos potencialmente vistos como políticos fariam "mais mal do que bem".
Adrian Smith, presidente da entidade científica, anunciou a decisão aos membros nesta terça-feira (25). Os desafios enfrentados pela ciência, segundo ele, são "muito mais amplos do que qualquer indivíduo".
A posição da sociedade, que convocou uma reunião extraordinária neste mês para discutir a filiação de Musk, decepcionará pesquisadores que defendem a expulsão do bilionário.
Eles dizem que Musk espalhou desinformação, fez ataques injustificados a Anthony Fauci, ex-diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), e por meio do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) está supervisionando grandes cortes nos gastos de instituições americanas de pesquisa.
Em um email aos membros da academia, Smith disse: "A visão do conselho é que fazer julgamentos sobre a aceitabilidade das opiniões e ações dos membros, especialmente aquelas que possam ser consideradas políticas, poderia causar mais mal do que bem à sociedade e à causa da ciência em geral".
"O Conselho acredita que procedimentos disciplinares não devem ser iniciados com base nesses motivos", acrescentou no email, primeiro relatado pelo Guardian.
A sociedade, que tem 365 anos de existência, recebeu queixas de membros de sua comunidade de mais de 1.500 pessoas e tratou do tema na reunião especial deste mês.
"Os desafios que a ciência enfrenta hoje vão muito além de qualquer indivíduo", escreveu Smith.
Presidente da sociedade, Paul Nurse escreveu para Musk, afirmou Smith, sem dar detalhes da mensagem. A sociedade, acrescentou ele, iria "intensificar a defesa da ciência e desafiar os ataques à ciência e aos cientistas, particularmente nos Estados Unidos".
A ciência nos EUA está em turbulência depois que o governo Donald Trump estabeleceu grandes cortes de financiamento às principais instituições de pesquisa e decidiu restringir pesquisas em áreas como diversidade, vacinas e mudanças climáticas.
Segundo Smith, a sociedade "buscará se envolver diretamente com nossos membros nos EUA, que são os mais diretamente afetados".
"Eles estão mais bem posicionados para entender exatamente o que está acontecendo em seus campos de especialização e quais intervenções, se houver, em seu nome, seriam mais eficazes."
Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, foi eleito membro da Royal Society em 2018.
Sua filiação levou à renúncia de dois membros e a críticas de outros pesquisadores. O código de conduta da academia afirma que seus integrantes devem "se esforçar para manter a reputação da sociedade" e ter em mente que observações feitas em caráter pessoal podem afetá-la.
Geoffrey Hinton, pioneiro em inteligência artificial vencedor do Prêmio Nobel e membro da sociedade, afirmou neste mês que Musk deveria ser expulso por causa do "enorme dano que ele está causando às instituições científicas nos EUA".
Musk respondeu que apenas "apenas tolos covardes e inseguros se importam com prêmios e filiações", acrescentando que as alegações de Hinton eram "descuidadamente ignorantes, cruéis e falsas".