'Rolês proibidos' não são exceção de SP e já provocaram até prisões

há 6 horas 4

No Piauí, onde a maior parte dos 'rolêzinhos' envolve a prática do "grau" em motos, as imagens das redes sociais têm sido peças fundamentais para prisões e punições.

Rolê dos sem topete - Comboio dos "sem topete" na entrada da rodovia dos Bandeirantes
Rolê dos sem topete - Comboio dos "sem topete" na entrada da rodovia dos Bandeirantes Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Em entrevista ao UOL Carros, o delegado Matheus Zanatta, superintendente de operações integradas da Polícia Civil do Piauí, explicou como o estado tem conseguido coibir eventos ilegais que envolvem carros e motos: monitoramento digital, investigações direcionadas e medidas judiciais preventivas.

"Aqui no Piauí, nós começamos a monitorar esses eventos pelas redes sociais, porque os influenciadores precisam divulgar para ganhar engajamento e likes. A partir daí, identificamos os organizadores e solicitamos medidas cautelares à Justiça, incluindo prisões temporárias, buscas e apreensões e restrições ao uso das redes sociais", explica Zanatta.

A repressão tem sido rigorosa. Desde o início das operações, foram cumpridos 75 mandados de busca e apreensão, 29 prisões temporárias, uma preventiva e outras sete em flagrante, além de 88 veículos apreendidos, 57 suspensões de CNH, 15 tornozeleiras eletrônicas aplicadas e 40 ordens de recolhimento domiciliar.

Um dos principais diferenciais da atuação no Piauí é o uso de medidas cautelares alternativas, que impedem os infratores de reincidir. Entre as punições aplicadas, estão:

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  • Restrição ao uso das redes sociais, incluindo a exclusão de perfis de influenciadores que promovem manobras ilegais.
  • Recolhimento domiciliar noturno e aos fins de semana, para impedir que os envolvidos participem de novos eventos.
  • Suspensão da CNH por dois anos, impedindo os infratores de dirigir legalmente.

"Na semana passada, derrubamos a conta de um influenciador que tinha 300 mil seguidores, porque ele usava as redes sociais para divulgar o 'grau' e promover jogos ilegais. Tudo foi feito com ordem judicial", relata o delegado.

Além disso, a polícia consegue barrar eventos antes mesmo que eles aconteçam. Em algumas ocasiões, agentes à paisana se infiltraram nos encontros clandestinos e prenderam organizadores em flagrante. Quando isso não é possível, o Ministério Público é acionado para emitir recomendações proibindo as reuniões.

"Nós colocamos policiais infiltrados em um desses eventos e conseguimos prender 150 motos, além do organizador, que foi preso em flagrante. Nos outros casos, provocamos o Ministério Público, que emitiu uma recomendação proibindo o evento antes mesmo que ele ocorresse", explica Zanatta.

Por que São Paulo não conseguiu fazer o mesmo?

A grande diferença entre as abordagens de São Paulo e do Piauí está na forma como a polícia trata essas infrações. A primeira questão é que, no evento que aconteceu na semana passada, a polícia foi pega completamente de surpresa. A partir das imagens do evento, o Ministério Público vai abrir uma investigação.

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No Piauí, o monitoramento tem acontecido antes dos eventos acontecerem, e as imagens são usadas para embasar pedidos de prisão e medidas cautelares.

"Se esse evento tivesse ocorrido no Piauí, teríamos pedido a prisão temporária dos organizadores por associação criminosa, além da apreensão dos veículos. Eles se associaram para cometer crimes, então as imagens serviriam como prova", afirma o delegado.

Isso é possível porque a polícia do Piauí não trata esses eventos apenas como infrações de trânsito isoladas, mas como um crime organizado. Ao enquadrar os organizadores como uma associação criminosa, a polícia consegue solicitar prisões temporárias, suspensão de redes sociais e outras sanções antes mesmo que os eventos ocorram.

Além disso, a repressão aos eventos ilegais no Piauí inspirou um projeto de lei que pretende endurecer as punições para quem pratica e divulga manobras perigosas. O texto, proposto pelo deputado Marcos Aurélio Sampaio (PSD-PI), sugere penas de até de três anos para a prática do "grau" e de até 10 anos se resultar na morte de alguém. Também há previsão de prisão de até três anos para quem divulgar as manobras perigosas e de até cinco anos para a participação em eventos com disputa e competição.

Reportagem

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