Povo que aterrorizou Roma misturava ancestrais de vários lugares da Europa e da Ásia

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Os bárbaros mais temidos da Antiguidade, cujos exércitos tiveram papel importante na destruição do Império Romano do Ocidente, provavelmente eram um povo miscigenado, misturando ancestrais de vários lugares da Europa e da Ásia, indica um novo estudo.

Essa mescla de origens caracterizava os hunos, grupo cujo rei mais famoso foi Átila, apelidado de "o Flagelo de Deus". Átila e seus homens chegaram muito perto de conquistar a própria cidade de Roma no ano 452 d.C., e, antes disso, devastaram uma série de territórios romanos na Itália, na Gália (atual França) e outros lugares.

O reino dos hunos propriamente dito, porém, ficava a leste, na atual Hungria e em países vizinhos, e foi a partir de esqueletos achados nessa região que uma equipe de pesquisadores obteve o DNA antigo necessário para investigar as origens do povo de Átila.

Em estudo publicado no dia 24 no mês passado na revista especializada PNAS, especialistas liderados por Guido Gnecchi-Ruscone, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionista, compararam o material genético de pessoas que morreram no antigo território dos hunos, entre os séculos 5º d.C. e 6º d.C., com o de uma ampla gama de povos da mesma época e de séculos anteriores espalhados pela Europa e pela Ásia.

A ideia era tirar a limpo uma dúvida que se arrastava desde os tempos romanos. Os escritores da Antiguidade falavam dos hunos como um povo bárbaro e quase animalesco que teria vindo de alguma região distante do leste para atacar as terras imperiais, mas as informações eram vagas, com um ar mitológico. Dizia-se que eram exímios cavaleiros nômades, algo que tinham em comum com muitos outros povos das estepes da Ásia.

Para tentar encontrar o "elo perdido" da origem dos ancestrais de Átila, os historiadores modernos especulavam uma possível ligação com os chamados xiongnu (o nome, após um longo processo de telefone sem fio, teria dado origem ao termo "hunos"). Os xiongnu, também cavaleiros das estepes, chegaram a formar um império (mais tarde destruído) na atual Mongólia por volta do século 1º d.C.

A principal hipótese sobre o tema dizia que remanescentes dos xiongnu teriam se deslocado para o oeste com o passar do tempo. Porém, o intervalo de séculos entre o fim do império deles na Ásia e as primeiras aparições dos hunos nas vizinhanças de Roma dificultavam uma demonstração mais cabal da ideia.

O trunfo do novo estudo foi conseguir comparar não só o DNA de cadáveres de cemitérios hunos na Hungria e outras regiões como também o dos próprios xiongnu, além de outras etnias da Ásia Central, em locais como o Cazaquistão.

O resultado principal da análise é que quase sempre as pessoas enterradas nas sepulturas associadas à cultura dos hunos possuem origem genética mista, abrangendo tanto ancestrais europeus quanto originários da Ásia Central. Ainda assim, em alguns casos, foi possível identificar uma ligação direta entre alguns desses indivíduos miscigenados e antigos membros da elite imperial xiongnu.

Por isso, o mais provável, segundo os pesquisadores, é que um grupo relativamente pequeno dos nômades orientais tenha se deslocado aos poucos para a Europa, misturando-se, no caminho, a outras etnias.

Os relatos sobre os hunos feitos pelos próprios romanos dão pistas sobre como esse processo deve ter acontecido, já que eles costumavam incorporar povos derrotados, como os godos (um conjunto de etnias germânicas, falantes de línguas "primas" do alemão e do inglês atuais), às suas fileiras. Há indícios de que o próprio nome de Átila na verdade fosse um apelido derivado da língua dos godos, com o significado carinhoso de "paizinho".

As derrotas para os hunos, aliás, teriam empurrado os godos e outros povos para dentro das fronteiras de Roma, funcionando como mais um fator de enfraquecimento do império no fim da Antiguidade e contribuindo para seu colapso.

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