Você já disse que não tem medo de altura até estar em uma plataforma de vidro a centenas de metros do chão? Mesmo com todas as proteções, aquele receio súbito de que o vidro possa se partir paralisa muitos que acreditavam não ter medo algum. É um teste à autoconfiança que só compreendemos ao viver a experiência. No universo dos investimentos, algo semelhante ocorre. Muitos acreditam conhecer seu perfil e suas necessidades, mas, quando expostos a certos cenários, percebem que subestimaram dois fatores cruciais. Como consequência, vem a frustração com os investimentos.
Primeiro, investir em desacordo com o próprio perfil de investidor. Esse é um dos erros mais comuns e frustrantes no mercado financeiro.
Conservadores enfrentam noites mal dormidas ao verem a volatilidade de ativos arriscados, enquanto investidores com maior apetite ao risco se decepcionam com retornos que não correspondem às suas expectativas. Investidores agressivos que aplicam em desacordo com seu perfil se angustiam com eventual desenvolvimento mais lento de seu portfólio. A origem destes problemas? Muitos subestimam ou sequer conhecem seu verdadeiro perfil.
Os questionários de perfil de investidor deveriam ajudar, mas muitas vezes acabam confundindo. Ao responder perguntas abstratas ou distantes da prática, investidores se classificam de forma equivocada. A solução está na experiência: experimente ativos com diferentes níveis de risco, em doses pequenas. Essa prática não só ajuda a entender seu nível de tolerância à oscilação, como também permite que você encontre o equilíbrio necessário para investir com mais confiança.
O segundo fator é ignorar o prazo de vencimento dos investimentos ou subestimar a importância da liquidez. Muitos, por falta de planejamento financeiro, aplicam em ativos de longo prazo sem condições de esperar até o vencimento. Isso os leva a vender antecipadamente, quase sempre com perdas. Além disso, ativos de maior prazo são mais sensíveis a variações de taxa de juros. No cenário atual, isso significa lidar com oscilações maiores e, possivelmente, retornos abaixo do esperado.
Por outro lado, optar sempre por liquidez diária também tem seu custo. Manter recursos excessivamente líquidos é como escolher um pequeno barco para atravessar o oceano quando um avião faria o trabalho de forma mais rápida e eficiente. O segredo está no equilíbrio: saber quanto precisa de liquidez e quanto pode investir em prazos mais longos.
Aqui, o planejamento financeiro entra como peça-chave para alinhar prazos e metas. Com um bom planejamento financeiro, você tem maior clareza de quanto pode precisar em cada horizonte de tempo.
Investir vai além de simplesmente escolher ativos. É um exercício de autoconhecimento, paciência e estratégia. Respeitar seu perfil e horizonte de tempo pode parecer básico, mas negligenciar esses fatores é abrir caminho para a frustração. Então, da próxima vez que se deparar com uma decisão financeira, pergunte-se: você está pisando em um terreno sólido ou arriscando seus passos em um vidro que pode se partir?