Isso demonstra também que, para grande parte dos compradores, os carros zero-quilômetro estão se tornando um item 'proibido'. Afinal, a fatia de mercado de Uno e Gol do passado não é a que compra um Creta e Tracker hoje.
Essa mudança pode ser atribuída a vários fatores. Primeiramente, esses subcompactos nunca foram planejados para ser o carro da família brasileira. Em essência, são veículos voltados para dois públicos específicos: jovens adquirindo seu primeiro carro e famílias em busca de um segundo carro prático para o dia a dia urbano.
No entanto, o empobrecimento da população brasileira minou essas possibilidades. A maioria dos jovens não têm condições de comprar um veículo que custa mais de R$ 70 mil, e as famílias perderam o poder de aquisição para manter um segundo carro.
Além disso, esses carros subcompactos, devido ao seu tamanho reduzido, não conseguem atender às necessidades das famílias brasileiras, que necessitam de veículos maiores e mais espaçosos. Essa inadequação leva potenciais compradores a buscarem alternativas no mercado de usados, que está a caminho de bater um recorde histórico em 2024, com expectativa de 15,3 milhões de unidades vendidas até o final do ano.
Enquanto o mercado de usados cresce, outro problema surge: a idade média da frota brasileira está aumentando. Dos 7,3 milhões de carros vendidos até agora em 2024, 2,4 milhões têm mais de 13 anos e 1,7 milhões têm pelo menos 9 anos de uso. E a razão, é claro, é o preço mais baixo.
Não há interesse das montadoras em carros 'de entrada'
Outro fator crucial para entender a baixa venda dos carros de entrada é a mudança na estratégia das montadoras. Segundo Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, a indústria automotiva antes lucrava no volume de vendas de carros mais baratos. No entanto, a pandemia afetou gravemente esse modelo de negócio. A falta de componentes para a construção dos carros piorou a situação, forçando as montadoras a priorizarem veículos com maior valor agregado, que são mais rentáveis.