Com a redução dos dividendos, não haverá recorde de distribuições em 2025, segundo Ferreira. Ele acredita que as distribuições de proventos fiquem um pouco abaixo do que o registrado em 2024.
Mas calma investidor, que o jogo não está perdido. Com a Bolsa muito barata, ainda será possível encontrar boas pagadoras em setores tradicionais e naqueles que se beneficiam do dólar em alta ou são protegidos da inflação.
Em entrevista ao UOL, Ferreira conta onde estão as melhores oportunidades para quem quer receber dividendos em 2025. Confira:
Com dólar e Selic elevados, os dividendos das empresas brasileiras em 2025 podem ficar comprometidos?
Quando olhamos para a remuneração dos acionistas em 2024, vemos um recorde de retorno do caixa, seja com dividendos ou recompras de ações. Atualmente, o dividend yield (retorno em dividendos) da Bolsa está em 7%, o dobro do que a média histórica de 3,5%.
Nas recompras de ações, as empresas são o segundo maior comprador. Isso significa que as empresas estão tendo lucros, crescendo esses lucros, com balanços saudáveis e dívidas em ordem. Desta forma, estão gerando caixa e retornando para os acionistas.
Para 2025, existe o risco do aumento dos juros e desaceleração da economia. Esses fatores devem fazer com que o fluxo de caixa das empresas seja mais apertado no ano que vem. Mas, uma boa parte dos dividendos da Bolsa vem de empresas muito estáveis e pouco relacionadas com o cenário macroeconômico. Por exemplo, empresas de commodities como Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3).
Grandes bancos como Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) devem até se beneficiar dos juros altos. Companhias do setor elétrico e de saneamento devem ser blindadas porque repassam a inflação.
Então pode que haja algum impacto sim nas distribuições de dividendos, mas não espero que seja forte. Mesmo com os dividendos diminuindo, as ações vão ter seus preços caíndo na Bolsa, em consequência o dividend yield deve aumentar. Acredito que o retorno em dividendos da Bolsa se mantenha na faixa de 7% em 2025.
Outro fator que deve contribuir com a manutenção dos 7% é o dividendo extraordinário da Petrobras, que é muito relevante do ponto de vista fiscal. Nossos analistas acreditam que a Petrobras vai continuar pagando dividendos extraordinários, se o petróleo se manter na faixa de US$ 70 a US$ 80 o barril. Apenas um preço do petróleo muito baixo comprometeria essas distribuições extraordinárias.
Quais são os melhores setores da Bolsa para quem busca dividendos em 2025?
O setor de commodities, com destaque para o segmento de petróleo. Os setores elétrico, saneamento, bancos e telecomunicações.
Nas commodities, também enxergamos bons dividendos em empresas como Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3).
E quais setores devem se destacar como maiores pagadores em 2025?
A liderança continuará sendo óleo e gás, por conta da Petrobras. Na sequência, o setor de bancos deve ter destaque nas remunerações e em terceiro lugar o setor elétrico. Estes devem ser os três maiores pagadores do próximo ano.
Quais são as melhores ações para quem busca dividendos em 2025?
Na hora de escolher ações, aconselhamos o investidor a não olhar apenas para o dividend yield elevado, porque tem o risco de empresa não conseguir manter os dividendos. É importante investir em empresas mais estáveis que garantam a remuneração futura do acionista.
Alguns nomes interessantes, presentes nas nossas carteiras, são: Petrobras (PETR4), Itaú (ITUB4), Cemig (CMIG4), Copel (CPLE6), Banco do Brasil (BBAS3) e tem a própria B3 (B3SA3) que deve entregar dividendos acima de 10%. Temos também em telecom, a Tim (TIMS3) e Vivo (VIVT3) com dividendos entre 7% e 8,5%.
Todas são ações de empresas mais defensivas ou estáveis.
Dentro dos setores tradicionais, como Bancos, Elétricas, Seguros, Saneamento e Telecomunicações. Quais são as preferidas da XP para dividendos em 2025?
Olhando especificamente para dividendos, no setor de bancos e financeiro, nossas preferências são Itaú (ITUB4), B3 (B3SA3) e em terceiro lugar Banco do Brasil (BBAS3). O Banco do Brasil é atrativo pelo desconto da ação frente a pares privados como Itaú e Bradesco. O banco deve entregar um dividend yield de 10,5% em 2025, muito parecido com o retorno da B3.
No setor elétrico, para renda passiva nossas preferidas são Copel (CPLE6) e Cemig (CMIG4).
Em telecomunicações, gostamos mais da Tim (TIMS3), porque além de dividendos, oferece um potencial de valorização das ações. O dividendo também é maior, de 8,5% para a Tim, enquanto a Vivo deve entregar um dividend yield em torno de 7%.
No setor de seguros, gostamos da BB Seguridade (BBSE3). Mas neste momento, não estamos acompanhando o segmento.
E em commodities, a nossa ação favorita é a Petrobras (PETR4) para dividendos.
Olhando para a Bolsa no geral, quais acredita que serão as maiores pagadoras de dividendos de 2025?
Devem ser empresas de setores mais estáveis ou com receitas dolarizadas ou atreladas à inflação.
Em um ano com o cenário macroeconômico desafiador, empresas como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) devem continuar sendo as maiores pagadoras. Não esperamos grandes mudanças nestes nomes para 2025.
A maior pagadora deve ser a Petrobras, com um dividend yield recorrente de 14%, apenas com pagamentos regulares. Agora, com os dividendos extraordinários, o dividend yield deve chegar a 20%.
Temos a Petrobras em carteira porque enxergamos que o governo precisa dos dividendos da companhia. O governo até tentou no passado reter dividendos para investir mais, mas mesmo com aumento dos investimentos, a Petrobras continua gerando caixa e esse excedente é pago via dividendos.
Acreditamos que apesar desse risco político, os dividendos vão continuar muito fortes por conta do fator fiscal e a Petrobras ser fonte de receitas para o governo.
Tem alguma ação fora do radar que pode vir a surpreender com dividendos elevados em 2025?
No setor de construção, vemos a Direcional (DIRR3) pagando muito dividendo e prometendo mais proventos pela frente. A empresa está preferindo retornar o caixa aos investidores a utilizar em planos agressivos de crescimento.
No varejo, tem a Vulcabras (VULC3), fabricante de calçados esportivos. A empresa anunciou em 2024 um programa de dividendos mensais, semelhante aos fundos imobiliários. Foi uma novidade na Bolsa, porque a maioria de empresas pagam dividendos trimestrais, semestrais ou anuais. Ainda vemos a Vulcabras entregando um dividend yield próximo a 10% em 2025 e pagando dividendos mensalmente.
No setor de shoppings, existiu a discussão de também pagar dividendos recorrentes, porque as ações do segmento estavam perdendo investidores para os fundos imobiliários. Mas não vimos nenhuma empresa se manifestar até o momento.
Tanto Direcional como Vulcabras devem continuar com dividendos fortes em 2025.
E tem a Vibra (VBBR3), distribuidora de combustíveis, que deve apresentar um dividend yield de 8,5% no próximo ano.
Quais são os setores que devem acabar reduzindo dividendos em 2025 e podem desapontar o investidor?
Setores domésticos devem apresentar dificuldade na remuneração dos acionistas, entre estes: varejo, consumo e até mesmo construção civil. Embora algumas construtoras podem pagar dividendos elevados, outras vão ter dificuldade de manter as distribuições. Acredito que as principais reduções venham destes segmentos.
Olhando para os setores tradicionais, algumas empresas do setor elétrico que estejam mais endividadas, podem optar por reduzir os dividendos para pagar dívidas.
Um segmento que pode acabar pagando menos é o de transmissão de energia, onde tem pagadoras clássicas como Taesa (TAEE11) e Isa Energia (ISAE4). Na nossa visão, as ações deste segmento estão caras, entregando um dividend yield próximo a 6%.
São empresas mais endividadas e com necessidade de fazer investimentos nos próximos anos. Então pode ter um risco maior de reduzirem os dividendos.
A XP enxerga a Bolsa barata em 2025. Até quando o investidor pode aproveitar estes descontos para usufruir das pechinchas?
A Bolsa está barata desde 2021, mas não é uma armadilha de valor. Quando olhamos para as empresas vemos que estas estão muito bem, com fundamentos sólidos, pagando dividendos e fazendo recompras de ações.
Eu imagino que no primeiro semestre de 2025, a Bolsa ainda continuará barata, porque provavelmente o Banco Central vai subir os juros até 14,25%. Claro que isso vai depender do cenário inflacionário no próximo ano. Se a inflação continuar subindo, sem sinais de melhora, pode ser que os juros precisem subir ainda mais.
Com juros altos, a Bolsa tende a apresentar um cenário desafiador. Então acredito que no primeiro semestre, ainda teremos bastantes oportunidades para o investidor de longo prazo que quer comprar boas ações para uma estratégia de dividendos.
E a taxação dos dividendos?
No próximo ano, tem a reforma da renda e a taxação dos dividendos é um assunto que deve voltar para mesa. Já tentaram tributar os dividendos no governo Bolsonaro, até mesmo no governo Lula e dado que o governo precisa rever suas receitas para fechar o déficit primário, acredito que o debate volta à tona.
Até agora, temos a proposta de tributar quem tem uma renda alta, incluindo dividendos, no limite de 10%. Mas a possibilidade de taxar os dividendos ou aumentar a alíquota dos juros sobre capital próprio (JCP) ainda pode ressurgir em algum momento.
Mas eu acho difícil o governo conseguir emplacar algum tipo de tributação dos dividendos em 2025, há uma resistência muito forte no Congresso. Contudo, se chegasse a passar alguma medida semelhante, seria o caso de verificar se haveria alguma compensação para as empresas, como redução de impostos. Se for o caso, o impacto na Bolsa seria neutro.
Em caso de não haver nenhuma compensação, acho que o mercado reprecificaria as ações. Teriamos uma queda nos preços das ações, principalmente das maiores pagadoras de dividendos.
Reportagem
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