Entenda por que sua inflação pode ser maior ou menor do que o IPCA

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A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), deve marcar uma taxa próxima a 5% no acumulado de 2024, segundo projeções de economistas.

O resultado relativo ao ano passado será divulgado na sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O aumento dos preços, contudo, não é sentido de maneira uniforme pela população. Cada família pode ter uma sensação de inflação que pode ser maior ou menor do que a taxa do IPCA.

Essa diferença está associada ao fato de que o índice mede a variação dos preços de uma ampla cesta de produtos e serviços, que podem estar presentes em maior ou menor escala na rotina de cada brasileiro.

"Sua cesta de compras, ou seja, os produtos e serviços que você consome regularmente, pode ser bem diferente da cesta média da população brasileira. Com isso, o seu índice pessoal de inflação pode ser maior ou menor do que o IPCA", afirma o IBGE.

"Por exemplo, uma família que não consome carne vermelha e não tem filhos em idade escolar terá, com certeza, um índice de inflação pessoal diferente do oficial, cujo cálculo coloca peso considerável na variação do preço da carne e da mensalidade escolar", acrescenta o instituto.

O QUE OS NÚMEROS APONTAM PARA 2024 E 2025?

Na mediana, as projeções do mercado financeiro indicam uma alta de 4,89% para o IPCA no acumulado de 2024, conforme o boletim Focus mais recente, divulgado pelo BC (Banco Central) na segunda (6).

Para 2025, a perspectiva do Focus está em 4,99% ao final do ano. Isso significa que o índice tende a seguir em um patamar considerado desconfortável por economistas.

É que o teto da meta de inflação perseguida pelo BC é de 4,5% para 2024 e 2025. O ano de 2024, porém, foi o último do sistema com base no chamado ano-calendário. Ou seja, com foco no período de janeiro a dezembro.

Em 2025, o BC passa a perseguir a meta de forma contínua, sem se vincular ao ano-calendário.

No novo modelo, o alvo será considerado descumprido quando a variação do IPCA em 12 meses ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) –o centro é de 3%.

Folha Mercado

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O sistema de metas funciona como âncora para a condução da política monetária pelo BC. Com o aumento das expectativas de inflação, a instituição passou a subir a taxa básica de juros, a Selic.

Em tese, a medida tende a frear a demanda por bens e serviços e, assim, pode reduzir a pressão sobre parte dos preços. O efeito colateral esperado é a desaceleração da atividade econômica, já que os juros mais altos dificultam o consumo e os investimentos produtivos.

Em 2024, a inflação foi bastante influenciada pela carestia dos alimentos. A elevação dos preços refletiu uma combinação de fatores, aponta o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Segundo ele, a redução da oferta de produtos devido a problemas climáticos, a alta do dólar e a demanda aquecida pela melhora do mercado de trabalho fazem parte da lista.

Para 2025, a expectativa é de um IPCA menos concentrado nos alimentos, de acordo com Braz. As previsões indicam safra maior, o que pode reduzir a pressão sobre os preços da comida.

"Os desafios de 2025 são mais espalhados", diz Braz. "Ninguém controla fenômeno climático. A inflação ficou muito concentrada em alimentos [em 2024]. Neste ano [2025], acho que vai ficar mais disseminada entre os grupos do IPCA", acrescenta.

Ele lembra, por exemplo, que tarifas do transporte público já subiram no início de janeiro em diferentes cidades, após congelamento em 2024, em meio à corrida das eleições municipais.

Por ora, Braz espera uma variação para o IPCA de 2025 próxima à do ano passado, na faixa de 5%. "A luta continua", afirma.

O que pode gerar alívio, diz o economista, é o impacto do aumento dos juros, que tende a ser sentido com maior força a partir do segundo semestre deste ano.

COMO O IPCA É CALCULADO?

O IPCA capta a inflação para famílias com rendimentos diferentes, de 1 a 40 salários mínimos.

A cesta do índice é composta por 377 produtos e serviços, os chamados subitens. Eles são divididos em nove grandes grupos.

O IBGE define a composição do IPCA a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares). O levantamento mostra o que as famílias consomem e o peso de cada gasto no orçamento.

Os dados mais recentes da POF são de 2017 e 2018 –uma nova pesquisa está em campo.

Individualmente, a gasolina é o subitem com o maior peso no IPCA. Ou seja, a variação dos preços do combustível tende a gerar impacto relevante no índice.

Para calcular o IPCA, o IBGE coleta preços em dez regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), além de Brasília e outras cinco capitais (Rio Branco, São Luís, Aracaju, Campo Grande e Goiânia).

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