Painel S.A.: Fabricante nacional quer virar BYD das motocicletas

há 3 semanas 2

Gabriel Pilão comanda a Leva Motors, marca lançada neste mês que pretende ser a BYD das motocicletas. Ele quer quebrar o domínio de Yamaha e Honda, que resistem às motos elétricas em defesa dos motores híbridos, a exemplo da indústria automobilística. CEO e fundador da fabricante, ele afirma que ambas concentram 90% das vendas no país e isso barra novidades.

O governo defende os motores híbridos devido ao etanol. O que o leva a acreditar que o país pode migrar para as motos elétricas?
Porque a motocicleta é usada principalmente no meio urbano. Sua autonomia, de cerca de 100 km, não vira um gargalo [como é para os carros]. A transição da moto a combustão para elétrica é mais fácil. Então, acredito que a moto elétrica terá uma adoção mais rápida em breve.

Hoje em dia a logística é complicada para carros elétricos no Brasil. E para motos?Fala-se menos da logística das motos elétricas porque há uma concentração absurda de Honda e Yamaha. Elas têm 90% de participação. O carro é mais distribuído. Existe a Ford, Toyota e os chineses, principalmente a BYD, que apostaram pesado aqui e empurraram o mercado. Acredito que essa tendência está chegando para as motos, e queremos liderá-la.

Como?
As nossas motos elétricas atingem todas as faixas de renda da população brasileira, indo do garçom ao personal trainner, passando pelo analista de tecnologia e os empresários. São pessoas que andam até 30 km por dia e carregam a moto em suas casas. Esse público é mais ou menos 65% dos usuários das motos. Outros 30% são os caras do iFood e 5% são pessoas que usam a moto para longas viagens, mas não focamos nesses grupos.

Ok, mas esse mercado teve a Voltz e ela não foi bem-sucedida.
Se ela tivesse dado certo, já estaríamos no patamar de 10% de participação de motos elétricas no mercado, porque estava crescendo muito rápido. A Voltz entrou em recuperação judicial e não teve linha para substituir, voltamos ao patamar de venda de 2019 e isso gerou uma baita desconfiança. Isso porque, como a Voltz não entregou, todo mundo ficou achando que a moto elétrica é ruim. Mas, na verdade, foi a empresa que cometeu erros.

Quais?
Antes de começar a Leva, conversei com dezenas de investidores e ex-executivos da Voltz, um deles, inclusive, é meu sócio. Ela chegou a vender 15 mil motos, mas não soube administrar o fluxo de caixa e a previsão de demanda. Investiram R$ 20 milhões numa fábrica gigantesca em Manaus [AM], tinham uma equipe de 50 pessoas na área de software. Foram megalomaníacos e, depois, quando precisaram de mais caixa, o mercado fechou [para crédito ou participação direta na empresa].

De zero a dez, quanto das suas motos são nacionais?
A maior parte das peças é importada da China, mas tem um percentual de nacionalização necessário, de 10%. Pneu e correia são nacionais, porque são peças que desgastam mais rapidamente.

A fábrica é própria?
Decidimos terceirizar a montagem em uma fábrica de Manaus. Na Honda e na Yamaha, essa parte é feita por conta própria, mas a distribuição é com terceiros. Nesse momento, queremos ter parceiros na montagem e na distribuição para concentrarmos em qualidade do produto e marketing.

Quanto custam as motos?
A motocicleta EG1 custa R$ 25.500 e a S1, que é a scooter, sai por R$ 21.500. Por enquanto, são só esses dois modelos. A ideia é lançarmos outros dois até o fim do próximo ano.

Acha que dá para tomar quanto do mercado das grandes?
Esperamos chegar a 10% de participação até 2026.

Qual a projeção de faturamento para o primeiro ano de funcionamento da empresa, sempre o mais difícil
Estimamos algo entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões no próximo ano.


RAIO-X

Gabriel Pilão, 28

Formado em Administração de Empresas pela FGV, o empresário tem passagem pela secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo e trabalhou por três anos na Orizon, empresa de gestão de resíduos comandada por seu pai, Milton Pilão. Fundou a Leva no começo deste mês, e é CEO da companhia.

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