Assessor internacional da Presidência da República, o embaixador Celso Amorim diz que o papa Francisco foi fundamental na defesa da paz mundial e afirma que seu sucessor manterá este tema na agenda, independente de ser mais conservador ou progressista.
"A Igreja Católica é muito importante como uma inspiração a favor da paz. Se puder falar de desigualdade e sustentabilidade também, melhor. Confio que o sucessor do papa Francisco vai manter esse discurso", afirma Amorim.
Ele dá o exemplo do papa João Paulo 2º, morto em 2005, que, embora considerado mais conservador, teve um posicionamento muito forte contrário à segunda guerra do Iraque, em 2003.
Ao contrário do que afirmam alguns analistas, que preveem que o próximo pontífice deve ser menos progressista que Francisco, Amorim diz que isso não necessariamente é o que vai acontecer.
"Sobre quem vai ser o próximo papa, deixo para o Espírito Santo decidir. Mas não acho necessariamente que será um conservador. O papa Paulo 6º sucedeu outro progressista [João 23], por exemplo", afirmou.
Amorim esteve em algumas ocasiões com Francisco. Em uma delas, em 2018, levou a ele um livro sobre o processo de condenação de Lula, que naquele momento estava preso em Curitiba. Na ocasião, o papa escreveu um bilhete ao petista.
"Foi muito importante a posição dele sobre o lawfare [disputa política feita por meio das leis] e o mal que isso fazia para a democracia na região. Ele era uma pessoa também profundamente democrata", afirma o embaixador.
Segundo o assessor presidencial, a relação de Francisco com Lula foi muito próxima em razão dos temas que ambos priorizam, como o combate à pobreza.
"O papa dizia sempre que a paz é possível. Também externou uma preocupação com o meio ambiente, convocou um Sínodo sobre a Amazônia. Ele tinha a força da oração, a força moral, mas também uma noção prática sobre como organizar as coisas".