Quatro galerias, três brasileiras e uma americana, estão agora numa disputa acirrada para provar quem detém os direitos autorais sobre a obra do artista Chico da Silva, surrealista morto há quase quatro décadas e redescoberto com furor pelo mercado.
Os bichos fantásticos de Silva vêm encantando o circuito desde que sua vasta produção, avaliada em cerca de 3.000 obras, caiu nas graças dos colecionadores do mundo todo, em especial pelas mãos de três galerias, as paulistanas Galatea, Gomide&Co, que vendeu uma obra do artista à Tate Modern, em Londres, e MaPa.
Seu recorde em leilão, estonteantes R$ 2 milhões cravados no ano passado numa venda da Sotheby’s, em Nova York, selou seu destino rumo ao panteão dos chamados artistas populares que são febre na cena atual, tanto que a americana David Kordansky, em parceria com a Galatea, entrou na jogada para vender suas obras no mercado internacional aproveitando o hype.
Ocorre que, como nas melhores famílias, os herdeiros andam se estranhando. Os quatro netos de Silva, um deles já morto e representado por sua viúva, fizeram acordos em separado com as casas, sendo que a inventariante de seus direitos autorais fechou com a Galatea e outros dois, excluídos da herança, assinaram com Gomide&Co e MaPa, que juntas batalham pela inclusão deles no inventário.
A família não tem obras próprias, mas a briga se dá pelo controle dos direitos autorais, em especial a prerrogativa de dar como legítimas obras que venham a aparecer num mercado cada mais aquecido em torno do artista —a Galatea já havia anunciado, em maio, a representação oficial de Chico da Silva, a criação de um instituto para representar seu trabalho e o processo de catalogação de suas peças, o chamado raisonné, que lista todas as peças autênticas do autor. Agora, as demais galerias querem uma parte do bolo.
O POPULAR É POP Em sua estreia na feira Art Basel Miami Beach, encerrada neste domingo, a galeria Estação, da marchande Vilma Eid, emplacou vendas de vulto nessa faixa do mercado, uma escultura de Agnaldo Manoel dos Santos por R$ 1,2 milhão, uma pintura de Lorenzato, de R$ 828 mil, e um bordado de Madalena Santos Reinbolt, sensação depois de sua mostra no Masp, por R$ 731 mil. Outra tela de Lorenzato, da Gomide&Co, foi vendida por R$ 1,5 milhão, um recorde para o artista.
MILHÕES MURCHOS Mesmo com o sucesso de várias casas do país na maior feira das Américas, as obras mais caras não encontraram comprador, como esperavam os mais otimistas, e não foram de artistas brasileiros.
Uma das peças mais valiosas foi uma obra do venezuelano Carlos Cruz-Diez negociada pela Continua, galeria italiana com sede também em São Paulo, por R$ 3,8 milhões. A Nara Roesler negociou um Julio Le Parc, argentino, por R$ 2,3 milhões.