Opinião - Michael França: Angústia de ser um herdeiro?

há 18 horas 3

Herdeiros de grandes fortunas vivem sobre a sombra das altas expectativas. Eles tendem a ser pressionados a preservar o status familiar, e muitos ao seu redor esperam grandes feitos deles, visto todo o privilégio que lhes foi dado.

Essa pressão costuma gerar uma dúvida interna sobre seu senso de valor e se eles merecem todas as vantagens que ganharam na loteria do nascimento. É um fardo psicológico bem diferente daqueles que precisam lutar pela sobrevivência, mas isso não significa que é uma carga leve de ser carregada.

Conforme argumentei em minha última coluna dessa sequência que tenho feito sobre legado ("Filhos dos ricos merecem herança?"), mesmo sem limitações econômicas, é relativamente comum herdeiros enfrentarem o vazio de uma falta de propósito.

Eles precisam justificar todo seu privilégio e ainda encontrar um significado genuíno para suas vidas para além daquilo que ganharam através de suas famílias. Esse temor está frequentemente associado à ausência de desafios reais e à sensação de que tudo o que possuem não teve mérito próprio.

Além disso, em vez de enxergarem sua herança como uma oportunidade para contribuir de forma significativa à sociedade, muitos acabam presos em uma busca incessante por validação e em uma vida superficial, onde o consumo e o status substituem a busca por propósito.

Muitos acabam se tornando escravos do consumo, pois associam seu valor pessoal à posse de objetos, status ou a qualquer símbolo de sucesso. Mesmo aqueles que desfrutam de um grande patrimônio material, também não estão livres do aprisionamento gerado pelas expectativas sociais, do sentimento de inadequação e dos traumas não resolvidos.

Há ainda o isolamento social. Eles crescem em ilhas de privilégio que limitam suas interações com o restante da sociedade. Essas ilhas não só criam barreiras para adentrar um mundo de perspectivas diferentes, como também podem levar a uma expressiva dificuldade de confiar nos outros. É um mundo com muitos recursos, mas que costuma ser repleto de futilidades e com o comum inconveniente de ter pessoas se aproximando a todo momento somente por interesse.

Apesar de suas vidas já estarem garantidas do ponto de vista material, a ausência de uma direção clara e o isolamento tendem a gerar em muitos uma angústia existencial que acaba sendo mal compreendida tanto pelos próprios herdeiros quanto por quem está fora desse círculo.

Em diversos casos, o cárcere mais opressivo não é aquele feito pelas grades de uma prisão, mas pelas barreiras que erguemos dentro de nossas próprias mentes. Entretanto, prezados leitores, a verdadeira liberdade é algo intrínseco. Ela está presente na capacidade de viver em paz consigo mesmo, independentemente do que se possui ou deixa de possuir.

As inseguranças não desaparecem diante do conforto gerado pela posse de um alto patrimônio. Em muitos casos, algumas delas se intensifica

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