Na largada de 2025 fomos forçados a lembrar que, como cantaram os Engenheiros do Hawaii, "o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro". Não adiantou pular sete ondinhas: o primeiro pregão do ano foi de quedas nas bolsas da China, dos Estados Unidos e do Brasil.
Internamente, temos o sério problema fiscal a ser resolvido. Negar isso é chamar a Covid de "gripezinha". Para quem ainda tem dúvidas sobre a necessidade de um sério corte de gastos do governo e ajuste nos impostos, recomendo a leitura do artigo do Vinicius Torres Freire, na Folha, "Um acordão nacional para desarmar a bomba da dívida do governo".
O descontrole do governo Lula sobre a dívida pública levou a um aumento incabível dela. Em vídeo, Ciro Gomes conseguiu resumir: quando um devedor aumenta sua dívida de forma tão rápida, "os agiotas apertam os prazos, (...) sobem os juros e colocam o olho na porta de saída, enquanto acabam de esfolar o devedor".
É preciso ter clareza de que isso não vai se resolver rapidamente. Executivo e Legislativo negociam e espremem as necessidades do país em estranhas emendas e acordos, que têm que passar até pela caneta do Judiciário para começar a andar.
Por isso, é essencial buscar outros sinais, fora dessa questão. Como sempre, se o mágico está mexendo muito uma mão em frente à plateia, é da outra que costuma sair o truque. O cenário externo está um prato cheio para quem busca indicadores.
Folha Mercado
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No próximo dia 20, Donald Trump tomará posse na presidência da maior economia do mundo. A acomodação da economia em torno de suas ideias com forte tendência inflacionária deve levar mais dólares para os Estados Unidos, já que o esperado aumento de preços tende a carregar a taxa de juros americana (e a rentabilidade dos títulos do tesouro) para cima.
Mas essa acomodação não deverá ser linear, mesmo com o Partido Republicano, de Trump, estar em maioria no Legislativo. O Financial Times levantou uma lebre importante: diversos nomes escolhidos pelo magnata para o alto escalão, inclusive Elon Musk, são do mundo financeiro e empresarial, com diversos possíveis conflitos de interesse já apontados. Desvencilhar-se dos questionamentos vai exigir tempo e esforço, podendo atrasar a implantação do ideário trumpista.
Olhando para o outro lado do planeta, vemos a China começar o ano de 2025 do pior jeito possível, aos olhos do mercado financeiro. O Shenzhen Component, índice com as 500 maiores empresas da Bolsa homônima, despencou praticamente 5% em dois dias. O primeiro pregão, aliás, foi o pior desde 2016.
Os investidores venderam suas ações de olho nos indicadores da produção industrial e nas exportações chinesas, abaixo do esperado, bem como na falta de caminhos claros para o país atingir suas metas de crescimento.
Como emergentes que somos, olhar os caminhos chineses deve ser o "arroz com feijão" dos investidores brasileiros. No próximo dia 5 de março acontecerá a próxima sessão da Assembleia Popular Nacional (NPC, na sigla em inglês) da China, quando o governo define as metas para a economia e, melhor que isso, aponta os caminhos que deverão ser seguidos para atingi-la.
Até lá, serão dois meses difíceis para tomar grandes decisões.