Opinião - Eduardo Sodré: Com olhos agourentos sobre Biles, brasileiros exercitaram a arte de torcer contra

há 4 meses 21

O croata Tin Srbic despencou de cara no chão após um erro na barra fixa. Em seguida, escorregou novamente, mas já era impossível retomar o exercício. Cair nas Olimpíadas machuca o corpo e a alma.

Ele, que foi campeão do mundo em 2017 e medalhista de prata nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, foi um dos tantos a perder o equilíbrio físico e emocional diante de milhões de olhos a torcer contra. Certamente em número maior dos que torciam a favor, já que se trata de uma nação contra outras seis ou sete.

Os sentimentos dos torcedores tornam-se confusos nas competições de ginástica artística, já que o fracasso do oponente pode significar uma lesão.

Mas o mau agouro é inevitável, aquele "vai errar" que brota no coração mais amável ao ver o oponente se lançar ao espaço em um salto mortal de alta dificuldade.

Foi assim pouco depois da prova de Srbic, quando vieram as finais do solo feminino. O Brasil deu um duplo twist carpado de alegria ao ver Simone Biles pisar duas vezes na área azul do tablado. O ouro de Rebeca Andrade foi garantido neste momento.

Torcer contra foi o esporte número 1 do brasileiro naquele momento, embora seja a parte menos espiritual do espírito olímpico. É um impulso mundano, que se desfaz pouco após o resultado contra ou a favor do alvo dos maus pensamentos.

É também inconsciente. Não se deseja —ou não se deveria desejar— o sofrimento físico do competidor.

Mas pisadas fora da área demarcada são aceitas, bem como um pulinho fora de hora na aterrissagem após uma ou duas piruetas.

Para o espectador olímpico brasileiro, todas essas questões éticas e esportivas se misturaram na manhã desta segunda (5).

Começou antes dos tombos de Tin Srbic, quando Biles e Rebeca disputaram a final da trave. O sucesso de uma implicava na falha da outra, como se não houvesse mais nada além. Mas havia.

Ambas cometeram erros e ficaram fora do pódio. Ao cair, a americana parecia deixar caminho aberto para a brasileira. Nada disso.

Aí vem outro drama do espectador olímpico brasileiro: ele, que se torna especialista em esportes aleatórios, perde pontos em execução de torcida sincronizada ao desconhecer os rivais.

É nessa hora que afloram as insinuações de que a derrota foi causada por uma amarelada mais berrante que a camisa da seleção de futebol.

Ignora-se o preparo dos oponentes, que não raro são referência no que fazem, tendo à disposição a estrutura de países que levam o esporte olímpico a sério desde a pré-escola.

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