Opinião - Celso Rocha de Barros: Livros sobre autoritarismo, democracia e desigualdade foram destaque em 2024

há 17 horas 1

Foi mais um ano forte em obras sobre autoritarismos, democracia e desigualdades.

Duas reedições merecem menção: em "Lélia Gonzalez: Um Retrato", Sueli Carneiro apresenta ao grande público uma introdução à trajetória de uma grande intelectual e ativista brasileira. Por sua vez, o historiador português Rui Tavares procurou, em "Esquerda e Direita: Um Guia Histórico para o Século 21", reconstruir os pontos cardeais do debate público com notável sensibilidade histórica.

Entre os lançamentos, "Cachorros", de Marcelo Godoy, se destaca por narrar com riqueza de detalhes a operação de assassinato da direção do Partido Comunista Brasileiro pela ditadura militar brasileira. A matança foi possível graças a uma infiltração nos mais altos níveis do partido, aqui revelada pela primeira vez. O PCB não aderiu à luta armada.

"Chumbo", de Matthias Lehmann, é a primeira obra de ficção, e a primeira história em quadrinhos, a entrar nas minhas listas de fim de ano. Publicada originalmente na França, a obra fala da ditadura militar brasileira enquanto conta as histórias de duas famílias mineiras.

Em "Limite de Caracteres: Como Elon Musk Destruiu o Twitter", Kate Conger e Ryan Mac mostram como parte da esfera pública global passou para as mãos de um bilionário de extrema direita.

"Takeover: Hitler’s Final Rise to Power", de Timothy W. Ryback, é a história das negociações dentro da direita tradicional alemã que permitiram que Adolf Hitler chegasse ao poder por dentro de instituições democráticas que destruiria logo depois. Pois é.

Em "Revolusi: Indonesia and the Birth of the Modern World", David Van Reybrouck reconstrói com brilhantismo a história da luta pela independência da Indonésia, um país que esteve no centro de várias lutas centrais da modernidade.

"Assombros da Casa-Grande", de Marcos Queiroz, mostra como o tema da escravidão e o medo da rebelião escrava impactaram a elaboração da primeira Constituição brasileira, em 1824, bem como muito do pensamento político brasileiro posterior.

Em "Democracia Negociada: Política Partidária no Brasil da Nova República", Fernando Limongi e Leonardo Weller produziram uma história da Nova República fortemente informada pelo que há de melhor na ciência política brasileira.

"O Silêncio da Motosserra: Quando o Brasil Decidiu Salvar a Amazônia", de Claudio Angelo e Tasso Azevedo, conta a história da redução do desmatamento na Amazônia brasileira de 2005 a 2012, uma das grandes lutas políticas do mundo nas últimas décadas. É o relato de uma grande vitória brasileira.

Bruno Carazza começou a publicar o esperado "O País dos Privilégios", que discutirá os mecanismos pelos quais o Estado brasileiro produz e reproduz desigualdades e ineficiência. O primeiro volume trata dos abusos da elite do funcionalismo público brasileiro.

Para escrever "Extremos: Um Mapa para Entender as Desigualdades no Brasil", Pedro Fernando Nery viajou para lugares que ocupam extremos nas estatísticas de desigualdade brasileiras. Enquanto apresenta suas histórias, discute dados e propostas de políticas públicas que ajudariam a resolver o problema. Conciliando um tema urgente com uma estratégia expositiva genial, é o livro do ano.

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