Opinião - Bruno Boghossian: Idade também faz parte dos cálculos políticos do próprio Lula

há 17 horas 1

Nas primeiras semanas de governo, Lula confidenciou a um amigo que teria que passar por uma cirurgia no quadril. O presidente sentia as dores de uma artrose desde a campanha eleitoral e vinha passando por sessões de infiltração às escondidas. Decidira, no entanto, adiar a operação e o processo de recuperação por uma questão de imagem.

Aos 77 anos, Lula confessou naquela conversa que não gostaria de deflagrar questionamentos sobre sua idade. Ele reconheceu aquelas razões oito meses depois, quando resolveu fazer a cirurgia. "Eu queria operar logo depois das eleições, mas eu falei: ‘Bom, se operar agora, vão dizer que o Lula está velho, ganhou as eleições e já está internado’."

O tópico da idade é uma preocupação pública de Lula. Em diversas declarações desde que voltou ao poder, o presidente citou esse fator como escala ao declarar seu vigor para governar. Ainda que o tema seja alvo frequente de exploração política além dos limites da sordidez, o petista deu poucas demonstrações de que trataria a questão como tabu.

A internação deste mês de dezembro pode não mudar muita coisa, mas força o assunto a ser tratado com mais naturalidade, mesmo dentro do governo. Ministros que despacham diariamente com o presidente admitem que já se adaptaram à rotina de um Lula que não tem, é claro, a mesma energia de 20 anos atrás. O petista terceirizou decisões e negociações a que se dedicava com desenvoltura nos dois mandatos anteriores.

Uma das consequências práticas foi o aumento gradual e contínuo da influência interna do ministro Rui Costa. Na avaliação de petistas, esse processo tende a se aprofundar, provocando a repetição de atritos entre o chefe da Casa Civil e outros integrantes do primeiro escalão, em especial Fernando Haddad (Fazenda).

No foro eleitoral, o próprio Lula não parece ter interesse em ignorar o aspecto idade, motivado por um cálculo político puro. Confidente do petista, o senador Jaques Wagner resumiu um raciocínio que leva em conta esse elemento: se o presidente estiver "nadando de braçada" em popularidade, Lula tenderia a abrir caminho para a renovação no PT em vez de disputar a reeleição.

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