Diversificar a carteira é uma das lições mais repetidas no mercado financeiro, mas também uma das mais mal compreendidas. Muitos associam diversificação à simples ideia de distribuir o portfólio em vários produtos, como se o número de ativos fosse garantia de retorno e segurança. Mas a verdadeira essência da diversificação vai muito além. Trata-se de reduzir riscos, equilibrar retorno e garantir que sua estratégia esteja alinhada ao seu perfil de investidor.
Por isso, é crucial entender que diversificação não é uma fórmula única. Para um investidor conservador, por exemplo, não faz sentido diversificar com ativos de alto risco apenas porque essa palavra soa bem. A diversificação deve ser construída com ativos que respeitem o apetite ao risco, mantendo o portfólio seguro e estável.
Em um cenário atual de juros altos, é natural que o foco esteja em ativos referenciados ao CDI. Com a Selic em patamares elevados e a expectativa de novas altas, a renda fixa pós-fixada se torna atraente. No entanto, é fundamental lembrar que a alta do CDI reflete um risco subjacente: o receio de uma inflação descontrolada. Aqui entra a necessidade de diversificar também em ativos atrelados ao IPCA, mesmo que os retornos imediatos não sejam tão chamativos.
Para ilustrar, basta olhar para o histórico recente. Em 2020, vimos o câmbio disparar, com o real desvalorizando 28% frente ao dólar. Apesar disso, a inflação oficial foi relativamente baixa, encerrando o ano em 4,5%. No entanto, o cenário mudou drasticamente em 2021, quando o IPCA chegou a 10,1%. Hoje, enfrentamos uma situação semelhante: uma desvalorização cambial de 28% em 2024 e um IPCA de 4,9%. Embora o mercado não preveja um salto inflacionário para 2025, não é algo que possa ser descartado. Nesse contexto, ter ativos que rendem mais de IPCA + 7% é uma estratégia inteligente para proteger o patrimônio em cenários adversos.
Diversificar é, portanto, um seguro contra o inesperado. Mas não se trata apenas de proteger; é também sobre aproveitar oportunidades. Uma carteira que combina ativos pós-fixados, atrelados ao IPCA e com vencimentos variados está mais preparada para oscilações econômicas. Isso é especialmente relevante em um cenário de juros altos, que pode trazer volatilidade, mas também oportunidades para quem sabe planejar.
Por fim, diversificar não significa abandonar estratégias clássicas ou apostar em tudo ao mesmo tempo. É um equilíbrio. Planejar bem o horizonte de tempo, alinhar os ativos ao seu perfil e fugir de armadilhas de "boas oportunidades" que ignoram o contexto maior são os pilares para um portfólio sólido e resiliente.
Investir bem não é sobre quantidade, mas qualidade. Uma carteira diversificada é como uma ponte bem projetada: ela atravessa qualquer rio, mesmo em dias de tempestade. O que você pode fazer hoje para garantir que sua ponte esteja preparada?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
Fale comigo no Direct do Instagram.
Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.