Nobel da Paz alerta para 'tempos perigosos' após decisão da Meta de acabar com checagem

há 14 horas 1

Vencedora do Nobel da Paz de 2021, a jornalista filipina Maria Ressa alertou que se aproximam "tempos perigosos" após a decisão da Meta de encerrar seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos.

Ressa ajudou a fundar o site de notícias Rappler, que passou anos lutando contra a desinformação e enfrentando processos judiciais iniciados contra ela pelo ex-presidente filipino Rodrigo Duterte, responsável por uma guerra contra as drogas que matou milhares de pessoas.

Para ela, a decisão da empresa-mãe do Facebook, WhatsApp e Instagram significa que se aproximam "tempos extremamente perigosos" para o jornalismo, a democracia e os usuários das redes sociais.

"Mark Zuckerberg diz que é uma questão de liberdade de expressão, e isso está completamente errado", disse Ressa em entrevista à AFP nesta quarta-feira (8).

"Só se você agir por lucro pode alegar isso. Só se você quiser poder e dinheiro pode alegar isso. Aqui se trata de segurança", insistiu a ganhadora do Nobel em 2021.

Zuckerberg anunciou na terça-feira o fechamento de seu programa de verificação de conteúdo nos Estados Unidos alegando que "foram politicamente tendenciosos demais e destruíram mais confiança do que criaram".

Em seu lugar, o magnata da tecnologia anunciou que adotará o programa "notas de contexto", que é usado pela rede social X (antigo Twitter), que permitem aos usuários colaborar adicionando contexto em outras publicações.

Alguns analistas interpretaram a decisão de Zuckerberg como um gesto em direção ao presidente eleito Donald Trump, crítico feroz da Meta nos últimos anos que na terça-feira se mostrou satisfeito com a medida.

Ressa, que também tem nacionalidade americana, rejeitou as justificativas dadas por Zuckerberg. "Os jornalistas têm uma série de normas e uma ética" a respeitar, lembrou.

"O que o Facebook vai fazer é se livrar disso e então permitir que mentiras, raiva, medo e ódio infectem cada pessoa na plataforma", alertou.

As ações da Meta conduzirão a um "mundo sem fatos", um "mundo que é adequado para um ditador", advertiu Ressa.

"Mark Zuckerberg tem o poder supremo", disse, "e escolhe erroneamente priorizar o lucro, os lucros anuais do Facebook, sobre a segurança das pessoas nas plataformas".

"APENAS O COMEÇO"

O site Rappler é um dos meios que trabalha com o programa de verificação do Facebook. A agência de notícias AFP também trabalha com o programa de verificação de conteúdos do Facebook em 26 idiomas. A rede social paga para usar as verificações de cerca de 80 organizações a nível global em sua plataforma, bem como no WhatsApp e Instagram.

Os conteúdos classificados como "falsos" são relegados nos fluxos de informação para que sejam vistos por menos pessoas. Se alguém os compartilha, aparece um artigo explicando por que é enganoso.

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O Rappler afirma em um comunicado que tem a intenção de continuar trabalhando com o Facebook "para proteger os filipinos da manipulação e dos perigos da desinformação".

"O que aconteceu nos Estados Unidos é apenas o começo", disse o meio cofundado pela jornalista.

Ressa tem sustentado há muito tempo que as acusações contra ela e o Rappler tinham motivações políticas e se deviam aos seus reportagens críticos com as políticas do governo de Duterte.

Trump, que em sua primeira coletiva de imprensa após as eleições prometeu "endireitar" a "corrupta" imprensa americana, parece ter seguido o exemplo de Duterte, segundo Ressa.

O presidente eleito dos Estados Unidos empreendeu ações judiciais sem precedentes contra jornais e pesquisadores que, segundo observadores, são indícios de uma escalada de táticas de intimidação e censura. O republicano assumirá na Casa Branca em 20 de janeiro.

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