Neta Auto enfrenta crise e corta equipe de P&D na China

A montadora chinesa Neta Auto, subsidiária da Hozon Auto, está passando por uma crise financeira que resultou na redução de sua equipe de pesquisa e desenvolvimento (P&D), de acordo com informações divulgadas pelo portal chinês Leiphone. Os cortes acontecem em meio a um cenário de dificuldades financeiras, que levaram a Neta Auto a reduzir os salários de seus funcionários.

A crise financeira também se reflete na relação com fornecedores. Empresas que prestam serviços à montadora têm protestado em frente à sede da Neta Auto, em Xangai, exigindo pagamentos pendentes. Há relatos de fornecedores dormindo no local como forma de pressionar a empresa a quitar suas dívidas. Recentemente, uma transportadora se juntou aos protestos, e um grupo de aproximadamente 200 fornecedores planejava realizar uma reunião no prédio da companhia para discutir a situação.

Foto de: InsideEVs Brasil

As dificuldades financeiras da Neta Auto foram agravadas por problemas estratégicos. O ex-CEO Zhang Yong implementou uma abordagem focada no mercado B2B, deixando de lado o varejo e a construção de uma rede de concessionárias eficiente. Além disso, sob sua gestão, a empresa investiu na produção do esportivo elétrico Neta GT, lançado em abril de 2023, ao invés de priorizar o desenvolvimento de um SUV de sete lugares, que poderia ter maior apelo comercial.

Diante do agravamento da crise, Zhang Yong deixou o cargo de CEO em dezembro de 2024, assumindo uma posição de consultor. O fundador da Neta Auto, Fang Yunzhou, voltou a ocupar a função de CEO e anunciou uma série de reformas para tentar recuperar a empresa. Segundo ele, a nova estratégia visa fortalecer a presença da marca em mercados internacionais e focar em produtos com margens de lucro positivas. A meta é que, até 2025, metade das vendas da empresa ocorra fora da China e que, em 2026, a companhia atinja lucratividade.

No entanto, especialistas do setor avaliam que os desafios da montadora são significativos. Estima-se que a Neta Auto tenha uma dívida entre 50 e 100 bilhões de yuans (de R$ 39 bilhões a R$ 78 bilhões). Apesar das negociações em andamento com um fundo soberano estrangeiro para uma possível injeção de capital de 30 bilhões de yuans (cerca de R$ 23 bilhões), o acordo ainda não foi concluído.

O desempenho comercial da Neta Auto também reflete a crise. Dados do China EV DataTracker mostram que, em janeiro de 2025, as vendas da montadora caíram 98% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em fevereiro, foram vendidos menos de 400 veículos. No final de 2023, houve rumores de que a empresa estaria à beira da falência, apesar de ter recebido um investimento de 6 bilhões de yuans (cerca de R$ 4,7 bilhões), que não foi suficiente para estabilizar suas operações.

O futuro da nova montadora chinesa dependerá do sucesso de suas negociações para captação de recursos e da implementação eficaz de suas novas estratégias. A concorrência no setor de veículos elétricos na China é intensa, e a montadora precisará demonstrar uma forte capacidade de recuperação para evitar o colapso financeiro.

A Neta Auto pretende instalar uma fábrica no Brasil, com anúncio oficial esperado para 2025 e início das operações em 2026, inicialmente em regime CKD. A decisão visa reduzir custos, contornar tarifas de importação e fortalecer a marca no mercado local. A unidade deve produzir 15 a 20 mil veículos por ano na primeira fase, aumentando para até 40 mil na etapa seguinte, com foco também na exportação para a América Latina.

No início do ano, foi inaugurada a primeira concessionária, de um total de 30 pontos de venda previstos até o final de 2025. A estratégia da empresa é oferecer modelos bem equipados com preços competitivos em relação aos concorrentes. Resta saber se a montadora terá fôlego para atravessar a reestruturação e consolidar sua operação internacional.

Fontes: CarNewsChina, Leiphone

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