A Natura foi apontada como a companhia que mais se destaca em diversidade, igualdade e inclusão no mercado de trabalho, segundo pesquisa Datafolha. A fabricante de cosméticos foi a empresa nacional mais citada espontaneamente —ou seja, sem que fosse fornecida uma lista de nomes aos entrevistados— quando se pensa no assunto, com 13% das menções. A concorrente O Boticário recebeu 4% das citações, mesmo percentual obtido por Itaú e Petrobras.
O Datafolha entrevistou 1.013 brasileiros adultos empregados em cargos administrativos ou superiores de empresas brasileiras com ao menos 50 funcionário. O levantamento foi realizado por meio de um painel online, entre 15 e 25 de setembro, com moradores das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Goiânia e Brasília. A margem de erro do estudo é de três pontos percentuais, o que determina empate técnico de todas as outras empresas citadas.
A Natura busca atingir 25% de gestores negros até 2025 e 30% até 2030, promovendo diversidade, inclusão e retenção de talentos, segundo Aline Lima, head de diversidade da empresa. A executiva, que ocupa o mesmo cargo na Avon (parte do grupo Natura&Co e citada na pesquisa por 2% dos entrevistados), também destaca o compromisso antirracista do grupo, que busca 40% de colaboradores negros no Brasil até 2025.
O Grupo Boticário, por sua vez, atua estrategicamente em cinco dimensões: gênero, pessoas negras, pessoas com deficiência, LGBTQIA+, mais de 45 anos e as interseções entre os grupos, segundo o gerente de diversidade Rony Santos. Desde 2021, dois compromissos em diversidade e inclusão guiam as ações da companhia: promover representatividade interna e fomentá-la no ecossistema.
Já o Itaú valoriza a diversidade para enriquecer decisões e refletir a pluralidade de seus clientes, diz Tatyana Montenegro, diretora de recursos humanos. A meta do banco é atingir de 35% a 40% de mulheres na liderança até 2025, e 50% nas contratações, além de manter avanços como 27,5% de pessoas negras em cargos efetivos e 40,9% nas admissões.
Em 2023, a Petrobras lançou a Política de Diversidade, Equidade e Inclusão e o Programa de Equidade Racial, visando aumentar em 25% a presença de negros e mulheres na liderança até 2029. A estatal também promove ações contra assédio e discriminação. A empresa permite, desde 2007, inclusão de parceiros homoafetivos no plano de saúde e adotou o uso de nome social em 2018 e ampliou a licença-maternidade para mães não gestantes.
"Entendemos que o papel da Petrobras vai muito além das nossas instalações e negócios. É fundamental que todos os brasileiros e brasileiras se vejam retratados na maior empresa do país, e que os mais diversos profissionais possam fazer parte dela", afirma a diretora de assuntos corporativos da Petrobras, Clarice Coppetti.
No Banco do Brasil, que recebeu 2% das menções na pesquisa, mulheres são 50% do conselho de administração e pretos, pardos e indígenas, 25%, segundo o levantamento Diversidade nas Empresas, feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha. Os autores utilizaram dados étnico-raciais e de gênero de 2023 de companhias de capital aberto que declaram essas informações de seus colaboradores à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). . A instituição diz que a meta é atingir 30% de líderes de minorias étnicas até 2025 e paridade racial e de gênero até 2030.
A C&A, com 2%das citações, promove a inclusão em campanhas e coleções com estilistas negros. Segundo a FGV/Folha, 40% do conselho é feminino, reconhecimento marcado pelo selo Women on Board da ONU Mulheres.
Com o objetivo de ter 50% de mulheres na liderança sênior, 45% de negros na equipe total e 30% em cargos de liderança até 2030, a Coca-Cola Company (3%) considera a diversidade essencial para o sucesso.
O Google (3%) busca refletir a diversidade em suas equipes. Em 2019, lançou um estágio para ampliar a representatividade de talentos negros e promove o programa Mind the Gap, que já impactou mais de 2.000 meninas na tecnologia.
Com 37 mil funcionários, o Magazine Luiza (2%) afirma representar todos os grupos em proporções próximas às do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) —o Censo de 2022 aponta que 55,5% da população brasileira se identifica como preta ou parda, que as mulheres correspondem a 51,5% e que os indígenas representam 0,83% da população. Para promover inclusão e oportunidades iguais, a empresa atrela metas de aumento de negros e mulheres na liderança à remuneração variável dos executivos.
A Nestlé (2%) acompanha as lideranças para medir avanços e possui um centro de competências com grupos de afinidade focados em Gênero, Gerações, Raça, LGBTQIA+ e Pessoas com Deficiência.
A Renner, com o programa de diversidade Plural, tem 37,5% do conselho e 33,3% da diretoria compostos por mulheres, de acordo com o estudo FGV/Folha. Internamente, elas ocupam 61,7% das lideranças e 45% dos cargos de alta hierarquia. Negros são 34% dos líderes totais.
Em 2024, a TV Globo (2%) lançou seu primeiro programa de trainee exclusivo para pessoas negras e com deficiência, buscando fortalecer uma cultura inclusiva e de confiança. A empresa reforça o compromisso com diversidade e inclusão em conteúdos e equipes, diz Mariana Bruno, gerente de diversidade e inclusão.
A Vale (2%) afirma que "a pluralidade aprimora nossa capacidade de trazer novas soluções para o negócio, gera maior engajamento e contribui para sermos uma empresa mais segura". A companhia dobrou a presença de mulheres na força de trabalho nos últimos anos, e conta mais de 37% de negros na liderança.
Na Tim, as mulheres são 50% do quadro de colaboradores, 37% das posições de liderança e 50% da diretoria estatutária. "No pilar racial, as pessoas negras representam 42% dos nossos colaboradores e 20% dos cargos de liderança", diz Maria Antonietta Russo, vice-presidente de pessoas, cultura e organização da Tim Brasil.
A pesquisa também mapeou a percepção da diversidade nas empresas em que os entrevistados trabalham. Apenas 1% apontou a própria organização como destaque na promoção da diversidade. Outros 7% mencionaram outras organizações, enquanto 18% não souberam responder.
Para Rebeca Barcellos, professora de ciências da administração da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a adoção de políticas inclusivas por empresas líderes pode influenciar práticas de concorrentes e parceiros —e impactar políticas públicas.
Um exemplo recente é a exigência de igualdade salarial entre homens e mulheres, que prevê a divulgação de relatórios de transparência e critérios remuneratórios, em conformidade com a Lei de Igualdade Salarial.
No entanto, a docente alerta para práticas superficiais. "Isso se reflete, por exemplo, em contratações simbólicas apenas para atender a normas legais.