A cápsula Starliner, da Boeing, pode precisar fazer um terceiro voo de teste não tripulado antes de transportar astronautas novamente, de acordo com funcionários da Nasa.
Barry Wilmore, 62, e Sunita Williams, 59, estavam no primeiro voo tripulado da cápsula da Boeing, em junho do ano passado. A nave levou a dupla até a Estação Espacial Internacional (ISS), mas apresentou problemas no sistema de propulsão e decidiu-se que ela voltaria vazia a Terra, o que ocorreu em setembro. Os astronautas, por sua vez, regressaram só na última terça (19) numa cápsula Crew Dragon, da concorrente SpaceX.
Os problemas técnicos na missão tripulada de estreia da Starliner foram o mais recente revés —e o mais visível até agora— no complicado desenvolvimento de uma espaçonave que custou mais de US$ 2 bilhões para a gigante aeroespacial Boeing. A ideia era que a Starliner competisse com a cápsula Crew Dragon e desse à Nasa uma segunda opção de transporte de astronautas para a órbita terrestre baixa.
Mas antes de obter a tão esperada certificação da Nasa para voos de rotina, a nave pode precisar de uma missão de teste adicional não tripulada, que seria a quarta no total, depois de ter realizado dois testes não tripulados em 2019 e 2022.
"Estamos considerando algumas opções para a Starliner, caso seja necessário, de voá-la sem tripulação", disse na última terça Steve Stich, chefe do programa comercial de tripulação da Nasa, que supervisiona o desenvolvimento da Starliner. "Quando olhamos para o futuro, o que gostaríamos de fazer é um voo, e então entrar em um voo de rotação da tripulação."
"Vamos ponderar todas essas coisas à medida que avançamos nos testes e análises", acrescentou Stich.
Procurada, a Boeing não se manifestou.
Stich disse que o voo tripulado da Starliner no ano passado teve alguns marcos importantes de testes relacionados à forma como os astronautas comandam e voam a nave. O objetivo de um voo adicional não tripulado, segundo ele, seria validar que os propulsores possam funcionar corretamente no espaço, um ambiente impossível de simular em testes na Terra.
A primeira missão tripulada da Starliner seria seu teste final antes de poder iniciar voos rotineiros de astronautas para a Nasa, que hoje depende da Crew Dragon, da SpaceX.
O FUTURO DA STARLINER
A Boeing também está de olho na Starliner como um possível táxi para fazer viagens a estações espaciais construídas pelo setor privado e que estão em desenvolvimento inicial —o tipo de receita não governamental que a SpaceX trouxe com missões totalmente privadas da Dragon.
Mas o futuro da Starliner foi lançado na incerteza quando ela sofreu cinco falhas de propulsores durante seu voo para a ISS no ano passado, bem como vazamentos de hélio, usado para pressurizar os propulsores.
Em janeiro, um painel consultivo de segurança da Nasa disse que a agência e a Boeing estavam fazendo "progressos significativos" em suas investigações técnicas pós-voo, mas que os problemas no sistema de propulsão permanecem não resolvidos.
Segundo Stich, a Boeing está planejando um teste em solo, ainda neste ano, dos componentes do sistema de propulsão. A ideia é validar as correções da empresa.
Além dos US$ 2 bilhões em custos do Starliner desde 2016, o teto do contrato fixo de US$ 4,2 bilhões da Nasa para o desenvolvimento e missões do Starliner da empresa aumentou US$ 326 milhões desde 2014, de acordo com uma análise da Reuters dos dados do contrato. A empresa recebeu até agora aproximadamente US$ 2,2 bilhões.
Enquanto isso, a Crew Dragon, da SpaceX, concluiu 11 missões de astronautas para a Nasa, incluindo um voo de teste tripulado em 2020.
O valor total do contrato inicial da SpaceX com a agência espacial americana era de US$ 3 bilhões, também firmado em 2014, subiu para quase US$ 5 bilhões, em grande parte devido às missões extras que a Nasa adicionou devido aos atrasos no desenvolvimento da Starliner.