Cresceu o número de mulheres em cargos de diretoria, mas empresas ainda patinam na inclusão de pretos, pardos e indígenas.
Segundo pesquisa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) conduzida neste ano com 394 companhias, 83% dos cargos da divisão são ocupados por brancos, 3,17% por pardos, 0,29% por pretos. Indígenas não têm presença na diretoria. Quando o assunto é a participação de mulheres, porém, o cenário é maior de inclusão: ela ocupam cargos de direção em 42,4% das organizações.
As empresas que se destacaram na categoria Diretoria na Diversidade nas Empresas, conduzido pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha, são exemplos de inclusão racial e de gênero. Espaçolaser e Tim Brasil, destacam-se pela participação de mulheres. Já no caso de pretos, pardos e indígenas, que representam um desafio maior, estão à frente a Ferbasa (Companhia de Ferro Ligas da Bahia) e a Zamp, que opera redes de alimentação como Starbucks, Burger King e Popeyes no Brasil.
Para chegar aos resultados, pesquisadores utilizaram dados de 2023 de empresas de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A pesquisa avalia de forma separada companhias de 100 a 4.999 funcionários, como Ferbasa e Espaçolaser, a partir de 5.000, casos de Tim e Zamp. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.
Na Espaçolaser (MPM Corpóreos), 80% dos cargos de diretoria são femininos. A CEO da empresa, Magali Leite, diz que a presença feminina na alta liderança proporciona diversidade de perspectivas e soluções mais criativas para desafios complexos.
"Temos estudos mostrando que empresas com maior participação de mulheres na liderança alcançam resultados financeiros superiores, impulsionados pela inovação e por uma maior capacidade de adaptação em mercados cada vez mais dinâmicos", diz ela.
Já na Tim, mulheres são 50% da divisão. Para Maria Antonietta Russo, vice-presidente de pessoas, cultura e organização da empresa, uma diretoria diversa é mais do que uma conquista. "É a base para construir um futuro mais justo, inovador e sustentável para a empresa e a sociedade", afirma.
Num mundo plural e dinâmico, ela representa ainda um ativo estratégico indispensável para qualquer companhia, acrescenta Russo.
Lideranças plurais ampliam nossa visão e criam conexão genuína com colaboradores, clientes e a sociedade. Isso se reflete não só nos resultados de negócios, mas também na cultura organizacional
A ascensão a cargos de diretoria, porém, é mais difícil para pessoas negras. Segundo o Instituto Ethos, há leve ampliação na presença de negros em diferentes níveis hierárquicos das 1.100 maiores empresas do Brasil. Por outro lado, embora representem a maioria dos candidatos de processos seletivos, eles têm dificuldade para subir aos cargos de chefia, diz o instituto.
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Evidência de mudança nessa área é a Ferbasa, com 60% dos cargos de diretoria ocupados por pretos, pardos ou indígenas, segundo o estudo FGV/Folha, e a Zamp, em que 40% das posições na divisão pertencem ao grupo. As empresas preferiram não falar com a reportagem.
Talita Matos, diretora da consultoria de diversidade Singuê, entende que as grandes organizações têm ampliado o olhar e agido de forma mais estratégica para promover inclusão em cargos de liderança —seja em resposta à pressão social, que inclui movimentos internos de grupos minorizados, seja para melhorar índices de ESG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança) e a capacidade de comunicação com o mercado consumidor.
Folha Mercado
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"O trabalho tem sido realizado em passos lentos. Mas, de forma geral, o avanço acontece", afirma. Ela ressalta, entretanto, que não deve ser levada em consideração apenas a contratação. Inclusão desses colaboradores, tratamento igualitário dentro das equipes e desenvolvimento profissional para que alcancem as posições com maior estabilidade e melhores salários também precisam estar no foco.
"Nosso país vem perdendo em desenvolvimento econômico e social há décadas devido à nossa cultura estruturalmente discriminatória. Empresas sem diversidade na alta liderança têm dificuldade para compreender dimensões importantes da sociedade e do mundo", diz Matos.
Saiba mais sobre os destaques na categoria Diretoria
As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.
- Empresas de 100 a 4.999 funcionários
ESPAÇO LASER (MPM CORPÓREOS S.A.)
Fundação 2004
Funcionários 4.500
Participação de pretos, pardos e indígenas 3,71
Participação feminina 45,97
Também levou nas categorias Serviços de Saúde e Sudeste
FERBASA
Fundação 1961
Funcionários 4.927
Negros 30,57
Mulheres 13,34
- Empresas com 5.000 funcionários ou mais
ZAMP
Fundação 2011
Funcionários 16.963
Negros 18,80
Mulheres 12,26
TIM BRASIL
Chegada ao Brasil 1998
Funcionários 10 mil
Participação de pretos, pardos e indígenas 8,67
Participação feminina 38,39
Também levou Tecnologia e Telecomunicações e Sudeste