Moradores cobram instalação de ar-condicionado em prédios, mas adaptação é desafio

há 2 meses 1

Com ondas de calor recordes na maior parte do país, ter ar-condicionado deixou de ser luxo e passou a ser necessidade para muitos brasileiros. Porém, nem todo imóvel está apto para receber o aparelho, especialmente os de construções mais antigas.

Muitos prédios não têm rede elétrica com capacidade para aguentar o aumento do consumo causado pelos aparelhos e precisam adaptar sua estrutura. Para quem mora em apartamento sem ponto de ar-condicionado, a adaptação pode ser um desafio tanto técnico quanto financeiro.

O custo vai depender de fatores como o tamanho do imóvel, a infraestrutura elétrica existente, o tipo de ar-condicionado escolhido (split, central ou janela) e a necessidade de reformas estruturais. Em geral, o investimento varia de R$ 30 mil a mais de R$ 1 milhão, dependendo da complexidade do projeto.

A engenheira civil Raquel Bueno, gerente da área técnica da Lello, afirma que, desde a pandemia, e a cada nova onda de calor, a demanda de aprovação de síndicos para a instalação de ar-condicionado aumenta. "É três vezes maior hoje do que em 2019. Antigamente, era um luxo ter ar em São Paulo, agora é uma questão de bem-estar, de morar", afirma.

A advogada Adriana Fadul é síndica do prédio onde mora, na zona oeste de São Paulo, e está buscando empresas para adaptar a construção da década de 1960 ao equipamento. Ela afirma que a cobrança dos moradores é grande e, só nos primeiros dias deste mês, três donos de apartamentos a procuraram para saber se é possível instalar o aparelho.

"A nossa rede elétrica é obsoleta. Será preciso aumentar a voltagem para recepcionar aparelhos mais pesados, como ar-condicionado; mudar todo o nosso centro de medição e modernizar todo o nosso quadro elétrico. Isso é uma obra muito grande e cara", conta.

"Já temos um orçamento e estou buscando mais dois para podermos adaptar o edifício para que todas as 48 unidades possam ter o aparelho. E pelo que tenho conversando com meus colegas síndicos da região, deve mesmo ficar entre R$ 200 mil e R$ 300 mil todo o serviço", diz Adriana.

Quando se trata de infraestrutura para ponto de ar-condicionado em prédios residenciais é preciso levar em consideração a necessidade de preservar a estética e, principalmente, a integridade estrutural do edifício. Um dos principais riscos de instalar o aparelho onde não há previsão para recebê-lo é a sobrecarga da rede elétrica, que pode causar incêndios.

Deve-se considerar ainda o peso adicional de aparelhos e dutos, além da aliado à necessidade de abrir paredes ou tetos para a instalação, pode comprometer a estrutura de prédios, especialmente os mais antigos se eles já tiverem algum grau de desgaste. Além disso, instalações amadoras podem gerar vazamentos de água dos aparelhos, causando infiltrações que, ao longo do tempo, podem afetar tanto a parte estrutural quanto a estética do edifício.

"Se fosse só um aparelho, não traria problemas. Mas imagina, 20 andares, quatro apartamentos por andar, 80 residências, todo mundo querendo colocar o seu ar-condicionado, se não existir aquela previsão de colocação do sistema de climatização, com certeza a infraestrutura elétrica será menor e vai trazer problema do futuro", afirma o engenheiro Arnaldo Basile, presidente da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento).

"Ou se proíbe a colocação ou se faz alguma readequação da infraestrutura para aquela edificação com assessoria de engenheiros legalmente habilitados", diz.

Folha Mercado

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Adequar o edifício exige reforço na rede elétrica de construções que não foram projetadas para suportar a carga adicional de aparelhos de ar-condicionado. Esse processo pode incluir a substituição de cabos, instalação de disjuntores mais potentes e, em alguns casos, até a troca do quadro de energia e do poste na rua.

No prédio onde a corretora de imóveis Suzana Camilo Marques mora e é síndica, na zona leste da capital paulista, não será preciso mexer na fiação elétrica. Por isso, cada condômino interessado em instalar ar-condicionado irá arcar com os custos da adaptação em seu apartamento, mas seguindo o padrão estabelecido em laudo e assembleia.

"Quase todos votaram por autorizar a instalação do aparelho. Desde o último verão tem essa cobrança, porque ninguém aguenta esse calor. Além disso, a possibilidade agrega valor ao imóvel. Só tivemos que definir onde seria instalada a condensadora", conta a síndica.

Independente da idade do edifício, o projeto de adequação precisa ser feito por um engenheiro e aprovado em assembleia de condomínio por, pelo menos, dois terços dos proprietários.

De acordo com o advogado Felipe Faustino, especialista em direito condominial, o morador que instalar ar-condicionado sem permissão do regulamento do condomínio pode sofrer sanções que incluem a retirada do aparelho, multa além de processos judiciais.

"Uma instalação inadequada, além de colocar vidas em risco, pode levar o morador a ser responsabilizado civil e criminalmente. Isso porque, se o apartamento pega fogo, por exemplo, todo o condomínio pode perder a cobertura do seguro", afirma.

"O síndico, por lei, é responsável legal pelo condomínio e precisa estar atento a instalações irregulares. Se a unidade se recusar a retirar o aparelho, o condomínio precisa tomar medidas rápidas e judiciais para não colocar o edifício em risco e não ser considerado cúmplice", diz Faustino.

Aumenta a demanda por reparos em ar-condicionado

No primeiro semestre deste ano, a venda de aparelhos de ar-condicionado bateu recorde ao marcar crescimento de 88% na linha residencial em relação aos seis primeiros meses de 2023.

A busca por profissionais especializados em reparos de aparelhos de ar-condicionado também cresceu. Segundo dados do GetNinjas, aplicativo para contratação de profissionais de serviços, a procura por essa categoria de especialistas cresceu 48,2% na primeira semana de setembro em comparação com a última semana de agosto.

No acumulado trimestral, o aumento foi de 34% na comparação entre o segundo trimestre de 2024 e o mesmo período do ano passado.

Basile alerta para a necessidade de manutenção preventiva e o cuidado com a compra de aparelhos usados, que consomem mais eletricidade e podem ocasionar curtos se não estiverem adequados à instalação do imóvel.

"Há um mercado aquecidíssimo no Brasil de equipamentos usados. O problema é que existe uma obsolescência. O equipamento evoluiu bastante do ponto de vista de eficiência energética, consumindo menos de 30% do que consumia na década de 90", conta.

"É bom se atentar na escolha do seu instalador. Existem milhares pelo Brasil. A gente tem uma estimativa de mais de 250 mil trabalhadores no ramo de climatização e refrigeração. Seria bom exigir um curso, porque não existe muito controle sobre a qualidade desses serviços", afirma o presidente da Abrava.

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