Militar falou em plantar vídeos de Olavo para manifestantes irem ao Congresso; ouça áudio

há 3 horas 1

Em um dos áudios extraídos de celulares de militares investigados sob suspeita de participarem da trama para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas eleições de 2022, o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida diz que vinha plantando ideias do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, em grupos de manifestantes golpistas.

Marques de Almeida, que era lotado no Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército), afirma a uma interlocutora chamada Renata para "investir um tempinho" e ouvir um vídeo do Olavo que descrevia "uma manobra a ser realizada" pelos golpistas. O escritor morreu em janeiro de 2022, aos 74 anos.

"Investe um tempinho e ouve o Olavo de Carvalho nesse vídeo aí. Lógico que ele fala um monte de besteira, como sempre, ele é radical de direita e eu não gosto muito dele, principalmente quando ele fala mal dos militares. Mas fora o que ele fala mal dos militares, ele vai descrever uma manobra a ser realizada", afirma o tenente-coronel.

"Esse cara já morreu tem tempo, mas enfim, o que ele falou é válido", diz ele, acrescentando que a interlocutora precisa tentar "influenciar alguém dos movimentos" que estavam em frente às sedes do Exército após a derrota de Bolsonaro para Lula (PT).

"Eu estou tentando plantar isso nas redes onde eles estão. Estou participando de vários grupos civis e falando: não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir para o Congresso. Porque o Executivo é envolvido, o Judiciário não vai fazer nada, então só sobrou o Legislativo. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder."

Segundo ele, o mecanismo de pressão para que o golpe ocorresse tinha que ser na economia, com greves e paralisações.

"Os grandes investidores brasileiros e quem tem muito dinheiro vão pressionar o Congresso, porque são eles que financiam os partidos e tudo mais. Vão dizer: vocês arrumaram essa porcaria e agora vocês vão limpar essa m... que vocês fizeram", afirma Marques de Almeida.

"Não sei se vai chegar a entrar em convulsão social ou não, mas é a hora que as Forças Armadas entrariam. Para apaziguar, a gente resolve invalidar a eleição, colocar voto impresso e fazer uma nova eleição com ou sem Bolsonaro."

Os áudios extraídos dos celulares de investigados pela tentativa de golpe após a derrota de Bolsonaro em 2022 detalham a atuação de militares no episódio.

Em um deles, o general da reserva Mario Fernandes, ex-chefe dos chamados "kids pretos" do Exército, afirma que "o decreto é real e foi despachado ontem com o presidente" e pede "movimento".

Parte dos áudios foram divulgados inicialmente pelo Fantástico, da TV Globo. As gravações também foram obtidas pela Folha.

Em outros áudios, Almeida diz, rindo, que os militares podiam "estar na liderança do movimento, só que depois a gente vai preso".

"O pessoal podia fazer essa descida [para o Congresso] e ir atravancando mesmo. Com a massa humana chegando lá, não tem PM que segure", afirmou. "Quando chega um movimento grande assim, não dá tempo de reagir e não tem efetivo, porque a turba é sempre muito grande."

Em um terceiro áudio, ele diz que em alguma hora os militares vão ter que "sair das quatro linhas" da Constituição.

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