Um grupo de manifestantes contrários à ditadura militar promoveu, neste domingo (6), a chamada Caminhada do Silêncio, em que foram lembradas e homenageadas vítimas da violência estatal nos últimos anos.
O ato começou em frente ao 36⁰ distrito da Polícia Civil de São Paulo, na zona sul, onde antes era sediado o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna). O local foi o principal centro de repressão do Brasil durante a ditadura militar (1964-1985).
Os manifestantes pediram o fim da anistia aos envolvidos em crimes durante o governo militar, a condenação de policiais envolvidos nas mortes de inocentes e a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Desde o começo nós trouxemos as mães de maio, as mães de Osasco, do Paraisópolis, porque a violência de Estado, com exceção de alguns casos de classe média, acontece na periferia. A Polícia Militar mais do que dobrou o número de crianças e adolescentes assassinados. É um escândalo que isso continue a acontecer", afirmou Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, cuja história foi retratada no filme "Ainda Estou Aqui".
"É relevante a gente entender de onde vem essa concepção de que vidas são desprezíveis. Se tem uma cor, ou mora em algum lugar que eu não respeito, ou tenho uma posição política que não respeito, eu posso torturar e matar e desaparecer", disse ainda.
A morte de crianças e adolescentes pela Polícia Militar cresceu 120% de 2022 a 2024 no estado de São Paulo, ou seja, desde o início do mandato do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), segundo relatório produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A concentração teve início às 15h. No fim da tarde, os presentes seguiram até o monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos, na região do Parque Ibirapuera, também na zona sul. O trajeto de pouco mais de 1 quilômetro foi percorrido em silêncio.
De passagem pela região, um bolsonarista criticou o pedido de fim da anistia contra militares e defendeu que os presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro sejam libertados. Policiais que faziam a segurança do ato retiraram o manifestante logo em seguida.
A manifestação de esquerda ocorreu a poucos quilômetros da avenida Paulista, onde o ex-presidente promoveu ato com 55 mil pessoas —segundo estimativa do Datafolha.
O ex-deputado estadual Adriano Diogo (PT) lembrou que, no ano passado, o movimento de opositores da ditadura foi impedido de "descomemorar" o golpe militar de 1964. Neste ano, porém, com o sucesso de "Ainda Estou Aqui", e a reabertura de casos de desaparecidos e mortos políticos foi possível realizar um ato de repúdio à ditadura.
Também estiveram presentes políticos de esquerda como os ex-deputados José Genoíno, a vereadora Luna Zarattini (PT) e a deputada federal Samia Bonfim (PSOL).