Importação de café pelo Brasil esbarra em escassez e questões fitossanitárias, diz setor

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A isenção de tarifa de importação para o café, que inclui o produto não torrado e vale a partir desta sexta-feira (14), não deve ter efeitos práticos para ajudar o Brasil a reduzir pressões inflacionárias porque há uma escassez global, avaliaram representantes do setor do país, o maior produtor e exportador global da commodity.

Há ainda barreiras fitossanitárias para a importação de grãos verdes, mesmo que a conta da importação feche para trazer o produto ao Brasil, segundo maior mercado consumidor do mundo, de acordo com o Conselho Nacional do Café (CNC) e a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics).

O Brasil confirmou na véspera a isenção de tarifa de importação e incluiu outros produtos como o milho e o açúcar, o qual o país também tem liderança na produção e exportação. Mas o café tem pesado nos índices inflacionários, com os preços disparando quase 70% aos consumidores em 2024 e seguindo em alta de mais de 20% no primeiro bimestre.

Este aumento aconteceu com indústrias repassando os recordes de preços para lidar com frustrações de safras no Brasil e redução da oferta, após as exportações brasileiras em 2024 atingirem patamares jamais vistos para compensar quebras de produção em países como o Vietnã, o que também deu impulso às cotações.

Silas Brasileiro, presidente do CNC observa que a taxa de 9%, que foi zerada, não seria impeditivo para importar se houvesse café a preços competitivos. Para o presidente do CNC, seria "impossível" também por conta das questões fitossanitárias, que envolvem processos "longos" de verificação de pragas e doenças em outros países produtores.

Não tem café no mundo para ser importado, então é falta de conhecimento do governo [isentar a tarifa], sabendo que os preços estão mais elevados no mundo, porque houve essa condição climática não só no Brasil, mas no mundo produtor como um todo. Mesmo o governo zerando a tarifa, não tem como importar café

O diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima, concorda que a tarifa zero para importação de café não tem efeito prático, acrescentando que as possibilidades de importações também ficam limitadas por questões fitossanitárias a dois países.

Segundo ele, apenas Vietnã e Peru poderiam exportar ao Brasil, mas o produto ainda assim não chegaria a custos competitivos ao Brasil, considerando gastos com transporte e outros.

Procurado, o Ministério da Agricultura não esclareceu imediatamente sobre o tema fitossanitário. Também não comentou se considera que isenção tarifária vai ajudar o país no controle inflacionário.

SAFRAS 2025 E 2026

Em vez de reduzir tarifas, Brasileiro, do CNC, defendeu que o governo expanda a política de juros mais baixos também para grandes produtoras e tome medidas para reduzir custos dos agricultores com combustíveis.

Segundo ele, o recente retorno das chuvas a algumas áreas cafeeiras, após um final de fevereiro e início de março mais secos, deverá permitir que a safra de 2025 fique dentro das previsões, que já consideram uma redução do potencial após a seca de 2024.

O presidente do CNC, organização que representa produtores, disse que trabalha com números para a produção em 2025 entre 60 milhões e 62 milhões de sacas de 60 kg, superiores aos previstos pelo governo brasileiro. Na véspera, o IBGE estimou a produção nacional em 52,8 milhões de sacas de 60 kg, enquanto a Conab estimou em 51,8 milhões de sacas, ao final de janeiro.

"Na nossa visão, ela será superior ao número da Conab. Não será muito superior. Trabalho com uma safra de 60 a 62 milhões", disse, citando números mais próximos aos estimados pelo mercado.

Ele disse que as associações do setor de café estão trabalhando com o governo para melhorar as estimativas de safra, hoje muito baseadas nas respostas dos produtores. A ideia é passar a utilizar mais dados de satélites, além de realizar uma reavaliação do tamanho do parque cafeeiro.

Para o dirigente do CNC, o Brasil teria potencial de colher "tranquilamente" 80 milhões de sacas, algo que poderia ser confirmado no ano que vem caso o clima colabore, já que o parque cafeeiro vem recebendo investimentos na esteira dos preços mais altos. "Nunca tivemos lavouras tão boas e bem preparadas como agora."

Com uma safra normal no Brasil, os preços do café, que oscilaram recentemente em torno de R$ 3.000 a saca, poderiam cair pela metade, comentou o dirigente, lembrando que as cotações em níveis altos podem afetar o consumo e elevam custos da indústria e exportadores.

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