Hyundai Ioniq 5: um carro elétrico na posse do novo presidente do Uruguai

No mês passado, publicamos aqui uma reportagem explicando porque nosso vizinho Uruguai ocupa a vanguarda da eletrificação automotiva na América do Sul. Lá, os carros elétricos a bateria (BEVs) já representam 8,8% das vendas totais de carros e comerciais leves.

E eis que neste 1º de março, durante a cerimônia de posse de Yamandu Orsi, novo presidente do Uruguai, foi dado um importante sinal de que o país continuará incentivando a transição energética.

Foto de: InsideEVs Brasil

O vidro do teto panorâmico foi retirado e foram acrescentadas barras de apoio para o desfile de Orsi e Carolina

Para percorrer os 3,5 quilômetros entre o Palácio Legislativo e a Plaza Independencia, onde fica a sede do Poder Executivo, o político frenteamplista e sua vice, Carolina Cosse, utilizaram um Hyundai Ioniq 5. O modelo elétrico foi especialmente preparado para o evento, com a retirada das placas de vidro do teto panorâmico e a instalação de barras de apoio — assim, os recém-empossados puderam desfilar de pé por todo o trajeto. 

O Uruguai não tem um automóvel oficial para desfiles (como o Rolls-Royce Silver Wraith usado pelo governo brasileiro desde 1953).  Daí que, nos últimos 40 anos, os presidentes eleitos escolhem os veículos que serão usados na posse. Em alguns casos, são carros particulares com os quais os novos mandatários mantêm algum vínculo afetivo.

Foto de: InsideEVs Brasil

a picape FAW elétrica usada na posse de Mujica, em 2010

Antes de Orsi, o presidente do Uruguai era Luis Alberto Lacalle Pou, do Partido Blanco, de centro-direita. Em 2020, na sua cerimônia de sua posse, “Lacallito” fez questão de desfilar a bordo de um Ford V8 1937 conversível que está com sua família desde zero-quilômetro. Comprado novo por seu bisavô, o político Luis Alberto de Herrera, esse Ford também foi usado na posse de Luis Alberto Lacalle (pai de Lacalle Pou) na presidência da república, em 1990.

Motivos sentimentais também levaram o frenteamplista Tabaré Vázquez a desfilar na caçamba de sua picapezinha Fordson 1951, na posse de seu segundo mandato como presidente, em 2015. Nos anos 60, Vázquez usava uma velha Fordson para trabalhar distribuindo mercadorias, enquanto estudava Medicina — daí seu apreço pelo modesto modelo inglês com motor de quatro cilindros e apenas 1.172 cm³. 

Já o frenteamplista José “Pepe” Mujica não utilizou seu famoso Fusca azul-celeste em sua posse como presidente da república, em 2010. Em vez disso, desfilou de pé na caçamba de uma picape chinesa FAW, adaptada no Uruguai com um motor elétrico. Porém, ao passar a faixa para Tabaré Vázquez, em 2015, Mujica deixou o palácio dirigindo o Fusquinha.

O Ioniq 5 (BEV) bem como um Santa Fe híbrido (HEV) que levou Orsi até o Palácio Legislativo foram emprestados pela empresa Fidocar, que representa a Hyundai no Uruguai. A pintura original em tons foscos de azul e cinza recebeu no capô um adesivo da presidência. Nas portas, outros adesivos celebram os 40 anos do restabelecimento da democracia no país, após a ditadura de 1973-1985.

Enquanto no Brasil o Ioniq 5 é vendido apenas em versão AWD, com dois motores e 325 cv (R$ 395 mil), no Uruguai o carro é oferecido em três versões, com tração apenas na traseira ou integral. Lá, os preços vão de US$ 50 mil a US$ 68 mil (ou R$ 294 mil a R$ 400 mil pela conversão direta).

O novo secretário da Presidência, Alejandro Sánchez, disse ao jornal uruguaio “El Pais” que o uso de um carro elétrico na posse busca transmitir a mensagem de um uso responsável dos recursos e a intenção de avançar com a transição energética:

"O Uruguai se tornou um líder na transformação energética e na preservação do meio ambiente, e queremos reforçar esse compromisso ao transportar o presidente em um carro elétrico, dando um sinal importante."

Foto de: Motor1 Brasil

A rede de recarga da estatal UTE no Uruguai

Em 2008, durante o primeiro mandato de Tabaré Vázquez, o Uruguai passou a investir em parques eólicos. Em anos com chuvas normais, 98% da demanda de eletricidade do país hoje é atendida por energia renovável, por meio de uma combinação de energia eólica (34%), biomassa (12%), solar (3%) e hidrelétrica tradicional (49%).

Já o ministro das Relações Exteriores, Mario Lubetkin, enfatizou que a escolha do veículo não teve motivação ideológica:

 “Houve propostas de diferentes marcas, mas o que mais atendia às necessidades de conforto era o de origem sul-coreana”, afirmou.