Entenda o que é morte encefálica e se o quadro pode ser reversível

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Após sofrer um acidente de carro e ter a morte encefálica atestada, o jogador sub-20 Pedro Severino, 19, do Red Bull Bragantino, teve o diagnóstico revertido depois de apresentar um quadro de reflexo de tosse persistente.

Em nota, o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, em Americana (SP), onde o jogador estava internado informou ter interrompido o protocolo de morte encefálica, mas que o jovem continuará com sedação e ventilação mecânica. Ele foi transferido na manhã desta quinta-feira (6) para a Unimed de Ribeirão Preto, para continuidade de tratamento.

O protocolo do jogador foi iniciado às 16h30 da terça-feira (4). Segundo o hospital, será retomado caso Severino não apresente mais reflexos.

Raphael Ribeiro Spera, médico neurologista do Hospital Sírio Libanês e membro da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), explica o que é a morte encefálica e como ocorre o protocolo que decreta este estado.

O que é morte encefálica

Para ser decretada morte encefálica, o paciente tem que ter passado por um trauma grave, como acidentes automobilísticos, parada cardiorrespiratória, meningite grave, entre outros problemas que comprometam o funcionamento das funções cerebrais.

"Geralmente, é uma agressão cerebral significativa, intensa e que leve o paciente a estado de coma arresponsivo", explica Spera. O quadro de coma arresponsivo acontece sem sedação e que, mesmo com estímulos, o paciente não responde.

Dentre os estímulos feitos estão os auriculares (nos ouvidos), nos dedos das mãos e pés e na sobrancelha. O paciente em morte encefálica também não pode ter nenhum fator tratável e tem que estar em observação no hospital por, pelo menos, seis horas, o que influencia no prazo para diagnóstico.

Etapas do protocolo de morte encefálica

Após a série de testes iniciais, o paciente é submetido a uma avaliação para constatar a morte encefálica. Segundo Spera, geralmente o primeiro passo é feito com um exame de neuroimagem, como tomografia ou ressonância, que consegue mostrar a gravidade da lesão no cérebro.

O exame de imagem avalia as três estruturas do tronco encefálico e, a partir do resultado do exame, é discutido se é hora de abrir ou não o protocolo de amortização.

"Se houver comprometimento, na segunda parte checamos as pupilas com estímulo de soro gelado nos olhos para ver se o paciente pisca. Também viramos a cabeça para um lado e para o outro para ver se os olhos se movimentam", completa.

O terceiro teste é o de apneia, que só precisa ser feito uma vez. Nele o paciente fica desconectado do ventilador, mas continua recebendo oxigênio. Todas as etapas são repetidas por um outro profissional capacitado dentro de uma hora.

Em cada país existe uma regra para avaliação das etapas deste protocolo. No Brasil, ao menos dois profissionais diferentes fazem os exames para constatar a morte encefálica. A pessoa capacitada para esse tipo de diagnóstico pode ser neurologista ou intensivista e tem que ter feito um curso específico de capacitação.

O último passo, quando o primeiro e o segundo são positivos, consiste ainda em um exame comprobatório de fluxo cerebral.

Em quais casos o diagnóstico é retirado?

Em alguns casos, por falta da quantidade ideal de profissionais adequados a fazerem o diagnóstico, é comum que a comprovação de morte encefálica demore algumas horas ou dias a mais.

"Pessoas com lesões cerebrais irreversíveis ainda podem sobreviver por alguns dias, mas em algum momento o quadro evolui invariavelmente a óbito por conta das estruturas do cérebro que controlam, por exemplo, a temperatura, o índice de sódio, a diurese, que são coisas que passam a ser comprometidas", completa Spera.

Em casos de sobrevivência após um dano cerebral grave é comum que o paciente viva em estado vegetativo, segundo o especialista.

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